Sobre o apocalipse e presentes

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Cinco pegou a pasta sobre o apocalipse e entrou no banheiro para conseguir ler sem ser pego, e eu fiquei na porta meio que de vigia e meio porque se fossemos pegos seria estranho estarmos no mesmo cubículo do banheiro. Não demora muito tempo pra Gestora aparecer.

-Ah, número zero, a mulher que eu estava procurando. - Ela me olha de cima a baixo e eu levanto uma sobrancelha. - Ou devo dizer garota? Não importa logo você e o número cinco vão ter seus corpos de volta. - Ela fala sorrindo.

-É, estamos ansiosos por isso. - Digo sem me desencostar da parede ou retirar minhas mãos da jaqueta.

-Falando nisso onde está o seu irmão?

-Eu e o cinco não somos irmãos. - Falo tentando não soar grossa. - Ele acabou de entrar no banheiro, só tô esperando ele.

-Ah, é claro. Mil perdões eu sempre esqueço desse... romance de vocês. São sempre tão, como eu posso dizer, reservados. Quanto a isso. - Ela tá tentando levar uma facada só pode.

-Algumas pessoas gostam de discrição.

-Falando nisso, eu acho que descobri o lugar ideal onde as suas habilidades seriam muito melhores utilizadas. - Fala enquanto toca o meu rosto, e dá um passo à frente pra continuar a falar. -Treinando novos recrutas! Não sei porque não pensei nisso antes, é perfeito pra você. Sempre foi uma lutadora excepcional.

-É, parece uma questão a se pensar. - Digo fingindo interesse.

-Que bom que gosta da ideia, deixar alguém com os seus poderes e as suas habilidades atrás de uma mesa me parece um desperdício. - A mesma olha para o braço com o qual invoco a espada com os olhos brilhantes.

-E o cinco?

-Eu sei que vocês dois são praticamente um pacote completo, mas não é o fim do mundo se os dois não estiverem juntos 24 horas por dia, ou é? - Ela ri. - Será que ainda é cedo demais pra falar de fim do mundo perto de vocês? Bom não importa, pense nisso zero. Além do mais vocês ainda estariam no mesmo prédio.

-Claro. Vou pensar a respeito.

-Era isso que eu queria ouvir! Ah, isso me lembra, por que você e o número cinco não vem almoçar comigo na minha sala agora?

-Não tem como recusar. - Respondo sorrindo forçado.

-Perfeito, até daqui a pouco. - Ela fala e se vai, assim que não vejo mais a mesma entro no banheiro.

-Cinco! E bom você já ter terminado com isso, porque a gestora quer que almocemos com ela agora. - Digo assim que entro no banheiro e vejo o mesmo sair do cubículo.

-Ela veio falar com você? -Afirmo com a cabeça.

-Quer que eu treine novos recrutas.

-É claro que ela quer. - Disse com um toque de raiva na voz. - O que você respondeu?

-Que iria pensar. - Digo dando de ombros e o mesmo me olha sério. - Eu não aceitaria! Mesmo se ficássemos. Não ligo se ainda estaríamos no mesmo prédio, não gosto da ideia de ficarmos sozinhos aqui. - Ele concorda com a cabeça e suspira aliviado.

-Ficamos juntos, não importa o que aconteça. Certo?

-Sobrevivemos ao fim do mundo, cinco. Nada vai separar a gente. - Dou um beijo simples nele, e volto a falar puxando-o pela mão pra fora do banheiro. - Vamos até a sala dela, antes que ela venha procurar a gente.

Depois que chegamos na sala da gestora e ficamos de conversa afiada durante toda a refeição, eu me levanto pra ir em bora, mas a mesma fala.

-Zero, onde vai com tanta pressa? Não quer uma sobremesa?

-Não obrigada, já comi muito doce estragado no apocalipse, eu enjoei disso.

-Por favor. Seria uma desfeita. Andem peguem um. - Ela diz e empurra um pote com algumas embalagens pra gente, cinco e eu pegamos um.

-Tem gosto de quê, pra vocês?

-De anos 50? - Cinco responde.

-Anos 80 pra mim. - Falo achando um gosto engraçado, não é ruim não.

-Exatamente. Nosso incrível departamento de metafísica inventou um jeito de condensar perfeitamente todo uma década em um único doce. E esses, tiveram como modelo, balas de caramelo.

-Você realmente não estava mentindo quando falou que aqui todos tem tempo de sobra. - Falei sorrindo cínica.

-Esse é o mesmo departamento que está fabricando o corpo de vocês. - Não sei se fazer balas é igual fazer um corpo..., mas eu não vou estar aqui para descobrir. - Falando nisso, tenho uma coisinha pra vocês. Carla.

-Sim. - A mesma disse pelo comunicador.

-Traga as caixas por favor.

Logo depois uma moça entra na sala com duas caixas medianas em mãos. Cinco e eu vamos à frente da mesma.

-Andem logo, abram. - A gestora fala, e assim fazemos. - Roupas fazem as pessoas, vocês não acham?

Dentro da caixa de cinco tem um terno, muito bonito por sinal, escuro e que parece ter sido feito sob medida para o mesmo. Já na minha se entra um vestido de cetim vermelho ombro a ombro com o que parecia um corset na área da cintura e busto, ele provavelmente iria até um pouco acima dos meus joelhos, e ele também parece ter sido feito sob medida.

-Não vai sem bom quando puderem usá-las de fato? Em breve poderão, eu garanto. Estão aperfeiçoando os corpos de vocês nesse exato momento.

-Obrigada, ele é lindo. - Falei sincera, esse vestido é de matar.

-Imagina, zero. Vai ficar maravilhosa nele, eu garanto. - A gestora fala tocando o meu rosto pela segunda vez hoje, o que me faz me afastar levemente outra vez.

-É claro que ela vai. - Diz cinco me agarrando pela cintura e me trazendo para perto de si. - Mas mudando de assunto. Aquilo é um lança-chamas chinês?

-Que visão! - Ela responde e cinco me leva até o artefato. - A guerra, é um conceito tão fascinante. Um alívio temporário pra uma falha humana permanente. É claro que é mais fácil ver a nove mil quilômetros de distância. - Fala rindo ao nosso lado. - Esses são alguns dos itens que eu colecionei das minhas viagens. Granadas M26 da guerra do Vietnã. - Fala jogando uma delas pra cima.

-Aposto que tem algo mais... especial - digo chamando a atenção dela.

-Mas é claro. A minha pistola da Walther. É a mesma que Hitler usou pra se suicidar. Nós não podemos ficar com esse tipo de coisa, mas... ele não ia usar de novo mesmo. - Diz pegando a arma e apontando pra parede. - Vejam... como ela se estabiliza. Hum? - Tenta me entregar a arma, mas eu nego deixando cinco a pegar.

-Meu lance é mais espadas.

-É claro. De alguns anos pra cá tenho a vontade de colecionar algumas também, eu posso te mostrar, mas sinto que falta alguma mais, especial. Mas de qualquer forma o convite está aberto. - Não gosto do jeito que ela fala, nem um pouco. Cinco coloca algo no bolso da minha jaqueta com cautela e logo fala.

-Tenho ideias que queria que ouvisse. Como a Glória, operadora do tubo. Não é mais fácil os supervisores do tubo enviassem suas mensagens?

-Todos amam a Glória, não posso tirá-la. Iam me perturbar pra sempre.

A moça que cuida do caso do apocalipse entra na sala e pede pra conversar com a gestora em particular. Antes de sairmos cinco pega algumas outras balas no pote e vamos embora.

ᴢᴇʀᴏ ʜᴀs ᴛʜᴇ ᴘᴏᴡᴇʀ || ғɪᴠᴇ ʜᴀʀɢʀᴇᴇᴠᴇsWhere stories live. Discover now