capítulo 51

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Feliz 2003!

***

Estava chovendo, mas ninguém parecia se importar. Esse ninguém é a família de Augusto, e eles não se importavam mesmo, já que estão seguros sobre o telhado da área exterior da casa de campo dos pais de Augusto. A família materna dele está praticamente toda aqui, e eu conheci muitos primos. Era engraçado ver a interação deles, como se fossem irmãos criados juntos, brincando, rindo e zoando uns aos outros. 

O sorriso no rosto do meu namorado estava mais reluzente do que nos últimos dias. Parecia que uma névoa cinzenta como um dia nublado havia se instalado sobre seus olhos. Até o verde da íris estava mais apagado. Comparava ao Sol voltar depois dos dias de inverno. 

Eu queria entender a dor dele, mas eu nem sei lidar com as minhas, então... Não que eu não me importe ou algo assim, só não sei como perguntar e iniciar uma conversa sobre isso, mesmo que esteja me coçando de curiosidade. No entanto, disse para mim mesma que perguntaria para ele se estava tudo bem, mesmo que fosse um desastre.

Se ele quisesse falar, talvez já tivesse falado... Estou sendo hipócrita mais uma vez, se nem eu faço isso, como posso esperar que os outros façam diferente?!

Voltando à questão da chuva... Eu, Augusto e seus primos e primas estamos dentro da piscina enquanto a chuva cai, e a sensação é maravilhosa. 

A avó dele já gritou dizendo que é perigoso, mas de tanto ouvir meu pai falando de condução de eletricidade e etc, sei que o perigo maior é ficar dentro do mar, por conta dos sais que são ótimos condutores. 

No segundo ano do Ensino Médio até fizemos uma experiência na aula de química no laboratório com diferentes materiais para ver se eles conduzem eletricidade e, o sal foi um dos melhores. 

Meu natal foi na casa dos meus avós maternos e Cora também foi para lá, pela primeira vez em séculos, já que sempre alternamos de casa nas festas de fim de ano. Meu pai, cansado disso tudo, sugeriu em um momento em que estávamos reunidos que poderíamos até revezar entre a casa dos pais da mamãe e da mãe dele, porém era uma bobeira que alguém ficasse sozinho em casa. 

A partir desse ano, todos vão ficar juntos. Eu achei incrível meu pai ter falado isso bem na sala lá de casa quando começou uma discussão por parte dos meus avós. Todo ano era essa chatice e espero que agora isso pare de vez. 

A ceia foi incrível e saborosa com doces e pratos deliciosos. Cada um trouxe algo de sua casa e no final, conversamos e rimos durante a refeição. 

Augusto passou na casa dos avós maternos junto com todos os familiares que estão aqui hoje. Ele me mostrou uma foto que tiraram e revelaram… a família dele é imensa! A avó dele é bem aquelas matriarcas dos filmes que são o centro da família e que por ser muito legal ninguém quer ficar longe

Às vezes me questiono se eu seria uma avó assim, mas acho mais provável meus netos - caso eu os tenha - me acharem chata demais. 

A senhorinha de nome Catarina me amou e sempre pega minha mão com carinho. Ela me pediu para chamá-la de vovó como os seus netos, mas volta e meia me sinto constrangida de chamá-la assim.

Augusto e eu estamos afastados dos outros dentro da piscina. Eles estão jogando vôlei e nós aos sussurros, só espero que não pensem que estamos fazendo coisas erradas. Minha mãe e meu pai, volta e meia, me chamam para pegar um pedaço de carne ou refrigerante. Sim, eles estão aqui, mas depois de muita insistência de Greta. 

Gostei disso, é a primeira vez que nossas famílias ficam juntas em uma ocasião mais íntima. Infelizmente iremos embora daqui a algumas horas. Dona Leona já até me puxou pro canto e disse que se insistirem, é para falar que não, porque não vou dormir aqui sem eles de jeito nenhum. 

Queria ter um momento especial com ele, porque como adolescentes, as oportunidades de deixar as coisas irem até o fim é bem complicado. Depois da nossa primeira vez, não tivemos nenhum tempo relativamente longo a sós. Parece ironia, porque se eu pensar na minha vida antes da primeira vez, nós tínhamos bastante tempo juntos. Não tão assim, mas... A sensação que tenho é que, com o perigo, o tempo passa  rápido.

Outro dia, estávamos nos beijando no quarto dele e a mãe dele entrou. Eu estava de saia jeans, sutiã e a blusa estava ao nosso lado da cama e, o pior, no colo de Augusto. Meu rosto nunca ficou tão vermelho!!! Nem consigo olhar direito para o rosto da minha sogra sem me lembrar disso e do dia em que ela viu o chupão em meu pescoço e eu sei que ela também se lembra.

Sei que estamos errados e que não deveríamos fazer isso. Minha mãe sempre disse que é falta de respeito com os pais, então eu não quero passar por isso mais vezes. Então estamos tentando manter as coisas mais tranquilas.

Eu e Augusto sempre falamos sobre o momento no futuro em que teremos nossa própria casa. Não sei se estamos “viajando na maionese” e se não deveríamos atropelar o tempo, porque geralmente nada é como a gente planeja, mas… pensar essas coisas faz com que meu coração se aqueça e o tempo passe mais rápido. 

Dou uma volta nadando pela piscina até que volto a onde estava. 

_ No que você está pensando? _ pergunto a Augusto que olha o céu escuro e estrelado com partes esbranquiçadas. 

Ele leva um tempo para dirigir seu olhar para mim. 

_ Nada demais...na vida 

_ Você está parecendo tão triste esses dias! _ enlaço seu pescoço tombando a cabeça de lado e estudando seu rosto.

_ Não é nada demais. Não precisa se preocupar

Ergo as sobrancelhas. 

_ Certeza? 

Guto assente com a cabeça.

_ Certeza! 

Ele me dá um sorriso que não demonstra tanta animação assim. 

_ Então está bem. Se você precisar de qualquer coisa, pode me falar, eu sou sua namorada e amiga

De repente, a música parou. Um dos tios dele surgiu pela porta gritando que a contagem regressiva tinha começado. A tia dele, que estava na sala assistindo a um show na TV, aumentou o som no volume mais alto. Juntamente com a repórter, gritamos os números em ordem decrescente até que chegamos no 1. Foi a maior gritaria, fogos foram vistos no céu, o som dos foguetes também era alto. Alguns parentes de Augusto estouraram foguetes e por pouco não fiquei surda. 

O mais lindo era ver o reflexo das luzes na piscina. A coisa mais perfeita era a alegria de todos e os sorrisos cheios de esperança e novos propósitos. 

Desejamos felicidades uns aos outros e um ótimo ano novo. 

Augusto me abraçou e em seguida me beijou profundamente. Olhamos nos olhos um do outro ao nos afastarmos. 

_ Feliz Ano Novo! _ falei acariciando a lateral do rosto dele. 

_ Feliz 2003!

2002Where stories live. Discover now