capítulo 11

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Diário antigo

***

— Júpiter!

Então ela me abraça. Eu não gosto muito de abraços, mas o dela até que vai.

— Oi, Greta! — sorri amplamente, mas forçada.

Ouço uma risadinha. Ele está rindo de mim, eu sei. Ele sempre fazia isso quando sabia que por dentro estava implorando para a interação acabar.

— O Augusto me disse que você vai lá em casa essa semana — Avisa, ainda me segurando com as mãos e me olhando.

— É?! — virei-me para ele e sussurrei — Não estava sabendo — me diverto com seus olhos amedrontados.

— Estou cheia de estudos por agora, mas assim que estiver mais folgada eu vou — expliquei a ela, antes que insistisse.

Vou ir no dia de São Nunca, isso sim.

— Ok! — sorri, feliz — Vou te lembrar! — aponta o dedo para mim.

— Pode me lembrar — confirmei.

O Augusto me olhou, olhei séria pra ele em resposta, sem que a mãe percebesse. Segundos depois, ele solta uma de suas risadas breves seguidas por uma falsa tosse.

Nossa, tem gente que não se toca — murmurei, apertando meus olhos — E não tem noção de perigo

— Oi, querida? Não consegui ouvir — pergunta ao me olhar depois de desviar sua atenção dos pacotes de ração.

Olho para seu rosto.

— Nada não! — dispenso com as mãos no ar — Vou ir ali, tenho que pegar a ração do meu gato

— O Millorens?

Agora posso dizer que estou feliz.

— Você se lembra dele?

— Claro que sim! — sorri.

— Fico feliz por isso

— E você se lembra do Bob?

— Sim, lembro-me

Claro que me lembro, é rotina minha reparar em todas as fotos do Augusto no Fotolog, inclusive a que é do Bob.

Essa deveria ser minha resposta, mas seria bem estranho.

Dou um jeito de pegar logo a ração e me despedir. Por sorte, quando encontrei minha mãe, ela estava me esperando para ir até o caixa para passarmos as compras.

— Está tudo bem, filha? — olhou de lado para mim enquanto saia do estacionamento com carro.

— Tudo sim, mãe — suspirei me lembrando da tensão de momentos atrás.

Vou o caminho todo até em casa, mesmo quando chegamos e ajudo minha mãe a guardar os produtos refletindo sobre passado, presente e futuro. Será que mais uma vez estou o perdendo por conta de meu jeito meio problemático?

É ilusão achar que as coisas estão como antes, que somos os mesmos, são versões diferentes. Um bom exemplo é a irmã dele, até ontem ela era uma adolescente de 18 anos quase se formando que enchia meu saco e agora já é mãe e mora na Escócia.

Dois fatos sobre isso tudo: perdemos um do outro e eu estou doente por ter ciúmes das partes da vida dele em que não estive presente. Mas bem que a gente podia se encontrar...

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora