capítulo 44

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Sessão de fotos

***

Meu coração estava assustado com o tempo passando depressa, pois estávamos ali, fazendo a sessão de fotos do 3° ano junto com as outras turmas do colégio no jardim e nas escadarias da Igreja Nossa Senhora do Carmo. A luz solar aparecia de forma tímida entre as nuvens brancas - o que foi bom já que ficava como uma lâmpada incandescente e luz contínua, aquelas usadas em ensaios de moda e em estúdios.

Desde o momento em que saímos do colégio vestidos com nossos uniformes, me pus ao lado de Augusto e fiz com que nós ficássemos distantes de nossos conhecidos, para que ninguém viesse conversar com a gente durante o caminho. Sabia que não poderia ignorar as meninas para sempre, se não tivéssemos ao menos uma foto juntas, elas iriam querer uma conversa super séria.

Como sempre, eu não queria enfrentá-las agora, porque doía.

Talvez fosse drama da minha parte. Algo que eu teria a resposta somente daqui a alguns anos.

Doía, porque ela podia não perceber, mas eu sim. Durante anos, elas me procuraram apenas para reclamar da vida, para falar de seus problemas, relacionamentos não resolvidos, problemas com os pais... enfim, quando as coisas estavam complicadas. No entanto, quando tinha alguma festa, uma viagem em família, algum acontecimento incrível em suas vidas etc, eu ficava de fora.

Fingi por tanto tempo que não me machucava, que até me esqueci que eu fingia isso, mas que no interior tinha uma consequência gigante. Incrível isso, como alguém pode esquecer que algo dói?

Com o tempo, isso parou e me vi fazendo parte de tudo, porém, ocasionalmente, essa exclusão voltava a acontecer, e eu sentia que estava incomodando a amizade das duas. Eu também tinha e tenho medo de ficar sozinha e sem amigas, então nunca falo nada.

A real é que eu não deveria ter ignorado nada disso e ter falado sobre o que me magoava na época. Fingir que não me importava, machucou meu coração. Ele se esqueceu de coisas importantes, e agora era assim: ressentido e sensível ao extremo.

Balancei a cabeça, afastando os pensamentos. Hoje era dia de curtir a sessão de fotos e não ficar me preocupando com esses assuntos.

— Animado para as fotos?

— Um pouco

— Eu estou

— Eu sei, você gosta de tirar fotos. Eu vejo seu Fotolog

Arregalei os olhos e virei a cabeça lentamente.

— Como assim?! — indaguei com a voz aguda como se não fizesse o mesmo.

Ele riu.

— Que vergonha! Eu tenho um monte de foto sem sentido — podia jurar que por sob a maquiagem meu rosto estava vermelho.

— Deixa de bobeira — beijou minha bochecha.

Até chegarmos no local das fotos, pensei que deveria maneirar na quantidade de publicações na rede.

***

— Vamos tirar muitas fotos juntas! — Lu puxou-me com um braço e Maria com o outro.

Luana e Maria estavam lindas. Lu tinha feito cachos nas pontas do cabelo; passou uma maquiagem leve e um batom avermelhado; salto nos pés, vestia o uniforme como todas e tinha um par de brinco de argolas grandes na orelha. Maria estava com cabelo escuro escorrido de sempre, mas sua maquiagem simples a deixou divina, passou um gloss brilhante e esbranquiçado, uma sombra clarinha e brincos de pedras verdes na cor de esmeraldas.

2002Where stories live. Discover now