capítulo 31

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Augusto charlatão

***

Caminhando lado a lado na calçada, ele foi me inserindo novamente na vida de seus pais e irmã - os quais eu não tinha uma conversa decente há anos. Olhar para o passado e perceber que as relações foram esquecidas e estão repousando em uma parte da linha do tempo da nossa vida é um pouco caótico. A gente perde e encontra pessoas, algumas podem até ficar para sempre depois de um reencontro, mas, na maioria das vezes, elas vão para pontos distantes e as linhas nunca mais se cruzam.

Não quero lembrar das pessoas que passaram pela minha vida apenas quando milhares de anos tiverem se passado. Não quero me lembrar das pessoas importantes para mim quando elas irem embora, mas parece que todo mundo - inclusive eu - é um pouco babaca nesse sentido. Somos egocêntricos e egoístas, esquecemos do mundo e vivemos apenas por nós mesmos, e isso é bom, mas não quando fere as pessoas.

Augusto me perguntou pelos meus avós maternos, que ele também não via há muito tempo, e aí eu me lembrei que sequer liguei para eles, pior ainda, sequer pensei neles. Eu, definitivamente, sou uma péssima neta.

Eles agora estão se aventurando pela Patagônia, um lugar aí na Argentina. Eles enviaram fotos, parece ser muito belo, eu, particularmente, gosto de paisagens geladas.

— Muito massa

— Verdade, mas dessa vez eles não me levaram — choraminguei.

— Eles te levam sempre?

— Às vezes, mas se eu pedisse eles levariam

— Meus avós maternos moram por aqui e preferem viajar dentro do Brasil

— E os paternos?

— Se eles viajam, vão para países europeus, porque é mais perto

— Queria

— Um dia a gente pode ir — sugeriu ao acaso, como se fosse algo muito comum.

— Nos meus sonhos, né?!

Obtive como resposta sua risada.

— Um dia a gente vai — balançou a cabeça com tanta certeza.

— Se você diz...

— Eu prevejo o futuro, Júpiter — falou com ar de mistério, os olhos cerrados — As pessoas deveriam confiar mais em mim — negou com a cabeça.

— O que faz você achar que tudo que prevê é certo? — voltei me corpo em direção ao seu.

— Algumas coisas que previ aconteceram — Augusto deu de ombros como se aquilo não fosse nada demais.

— Humilde você — ri de sua pose superior.

— Tem que ser — ele colou nossos corpos e abraçou minha cintura, cruzando os braços em minhas costas.

Joguei a cabeça para trás e sorri para ele.

— E o que você prevê para nosso futuro?

Ele apertou os olhos e olhou para cima, para o céu, segundos depois seus olhos desceram e encontraram os meus que aguardavam com expectativa e uma ansiedade infantil.

— Eu indo na sua casa conversar com seus pais — balançou a cabeça, agora com os olhos verdes expandidos.

— Isso é em um futuro próximo? — indaguei arregalando meus olhos também, com o coração disparado. Será que ele consegue ouvir?

— Tipo amanhã à noite? — sondou.

— Você que prevê o futuro e eu é que sei, Augusto? — perguntei rindo — Sabia que você era um charlatão. Me iludindo assim...

2002Where stories live. Discover now