capítulo 36

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Recuperações

***

— Millorens, Millorens... — olho nos olhos do meu gato que está deitado sobre meus travesseiros. Ele me encara de volta com uma cara de puro tédio. Deve estar pensando "Que humana chata!".

De manhã ele sempre sobe e dorme escorado em meus pés, mas como ele está apaixonado mais uma vez, tem andado sumido.

— Você é um adolescente rebelde! — passo o indicador em sua cabeça, carinhosamente.

Cansado da tormenta, ele mia e desce da cama, saindo pela porta, me fazendo rir.

— Tadinho!

Virei-me de costas, olhei para o teto e mordisquei minha boca, um pouco tensa pelo constante lembrete mental de que hoje sairá as notas das provas. Os alunos passarão pela humilhação de terem suas notas expostas no mural da escola para todos que queiram olhar. Eu acho isso uma droga, mas o sistema é mais forte.

Estou fazendo uma contagem regressiva em pensamento para que quando der uma hora da tarde, vá até o Santos Dumont.

15 minutos depois, o despertador toca. Levanto-me em um pulo, vestindo o casaco de frio e calçando minhas botas. Eu apanho minha bolsa em cima da mesa e sigo para fora do quarto, batendo a porta. Desço as escadas e me despeço de minha mãe.

— Boa sorte, filha!

— Obrigada! — grito antes de sair em disparada pela porta de entrada.

Vou mentalizando que vou passar enquanto sigo meu caminho. Eu preciso tirar boas notas agora para depois não entrar em desespero por faltar muitos pontos para alcançar a média.

Aperto meus olhos quando penso em algo negativo. Eu não preciso de toda minha bagagem de negatividade e, sim, de toda positividade existente no mundo.

Acredito na lei da atração, então tenho que acreditar que vou conseguir e então irei.

Sem que perceba, estou em frente ao portão da escola observando o mar de gente que veio para ver o resultado das notas e descobrir se vai poder ficar tranquilo pelo resto do último período ou se vai ter que se desesperar para fazer as coisas acontecerem. Grande parte está aflita, uns ou outros que estão complacentes e calmos. Me encaixo no primeiro grupo.

O terceiro ano está em peso, em seus grupos. Vejo Maria e Luana conversando próximas ao portão de entrada e vou até elas.

— Ansiosas?

Elas me olham e, por suas expressões, sei que a palavra certa seria 'tensas'.

— Ansiosa é pouco! — Maria diz de olhos assustados — Se eu não passar, nem sei o que vai ser de mim

— Odeio esse nervosismo antes de ter as notas em mãos — Luana suspira, tomando fôlego.

— Sim, é horrível — concordo, dando-lhe um sorriso nervoso.

— A cavalaria vai começar sair agora em... — Luana olha seu relógio no pulso e depois para a galera e em seguida para o portão — Melhor nos afastarmos — ela nos puxa para o lado — 3..2...1! — o portão é aberto e a maioria dos alunos entra correndo escada acima, fazendo-nos rir do desespero, mesmo que estejamos na mesma situação.

— Esse povo é muito animado, viu! — Luana diz gargalhando quando subimos atrás, após a bagunça inicial — A maioria é do sexto e sétimo ano

— Fizemos o mesmo, anos atrás, Luana! — dou-lhe um tapinha no braço — Para de graça, porque você era a primeira a entrar, só parou porque disse que estava crescendo, mas eu sei que sua vontade é ser a primeira a entrar correndo — Maria cai na gargalhada.

2002Where stories live. Discover now