24 • CAPÍTULO 23 •

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CAPÍTULO 23

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É curioso pensar como as coisas funcionam sobre a Terra. Algumas recebem explicações pelas quais já nos questionamos antes; outras, por sua vez, nem receberão respostas plausíveis algum dia, pois, simplesmente, acontecem.

Pude perceber que tudo à minha volta estava agindo de acordo com a segunda possibilidade, visto que decorre com propósitos diretos e, em nossa percepção, enxergamos unicamente após ter se concretizado. Assim como o valor reconhecido depois de perder algo importante. Essa é a minha vida no momento presente.

Mesmo assim, aquele fim de tarde gélido havia entrado num embate inflexível com o meu anseio, ateado e crescente em meu peito desde a primeira vez em que minha linha se cruzou com a do Minho, naquela noite atípica.

Ele me atingiu ㅡ sem esforço algum ㅡ com o seu carisma. Mostrou-me que a sua beleza não advinha somente de seu exterior, mas, em grande demasia, de seu interior, assim como a sua luz própria, sempre tão serena e aconchegante.

Lee Minho está, bem diante de mim, me dando a chance de transformar os nossos sentimentos em ações. Ações das quais deixamos dominar os nossos corpos por boa parte dos minutos seguintes.

As minhas mãos, antes enlaçadas sobre seus ombros, desvencilharam-se, indo em direção ao seu rosto, tocando-o com a mesma cautela usada por si ao firmar as suas próprias por entre os passadores de meu cinto.

Era paciente ao mesmo tempo que incendiante.

Seus olhos, atentos em meus movimentos, e a linha de seu brando sorriso, me transmitem a ansiedade boa que borboleteia dentro de nós dois naquele instante.

Os brincos de prata tilintavam uns nos outros ao passo que acabavam por esbarrar levemente sobre o dorso de minhas mãos, postas em ambos os lados de sua mandíbula bem marcada, atraindo-o para mais perto de mim, assim, sem resquícios de sua resistência, admiravelmente entregue aos meus comandos.

Minho fecha seus olhos quando meus lábios repousam sobre o canto dos seus, demoradamente. Por um momento, sinto-o prender minha cintura com ainda mais firmeza. Ele claramente anseia isso tanto quanto eu.

E é por isso que, sem tanta tormenta, faço o mesmo que si, e entrego-nos àquele instante de escuridão visual ㅡ para aguçar os demais sentidos ㅡ que, finalmente, os nossos lábios se encontram num misto de calmaria e febre. Intensos, ainda que ternos e, estranhamente, familiares.

Na verdade, ele por inteiro me passa essa sensação. Como se nos conhecêssemos há tempo suficiente para saber, pelo menos, o básico sobre as preferências alheias. Ele principalmente. No entanto, penso que isso possa fazer parte de sua natureza, já que ele, inegavelmente, é um Deus. E, sendo um, ele pode ter acesso a várias coisas a respeito da vida dos humanos, embora insista em não ter o mínimo de interesse em nos vigiar.

Ele, sim, é uma verdadeira incógnita que eu adoraria resolver.

Mas, embora estivesse diante da minha silenciosa intriga interior, acabo por investir em sua direção com cuidado ㅡ ainda que notoriamente afoito por aquilo ㅡ, e o guio lentamente para que encontremos o nosso próprio ritmo.

Ele, por outro lado, me segue, atento a todo e qualquer gesto feito por meus lábios sobre os seus. Verdadeiros polos opostos, que divinamente se encaixam e, sem esforço algum, se completam.

Nossas bocas, durante um curto segundo, afastaram-se, dado que o jovem Deus pareceu um pouco surpreso após sentir o suave roçar de meus dentes por sua carne; porém, em seus olhos não existiam indícios de desaprovação, ele apenas exalava uma densa aura, da qual sinalizava ter encontrado o pote de ouro no fim do arco-íris, por isso mordiscou o próprio lábio ao observar os meus, não contendo-se mais ao retomar o nosso toque com um pouco mais de avidez, devolvendo a ação recém-aprendida ㅡ arrancando-me um suspiro abafado e contido.

VAISRAVANA • { minsung }Where stories live. Discover now