20 • CAPÍTULO 19 •

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CAPÍTULO 19

🦌

Acordar num quarto completamente branco, com uma cortina verde-água tapando mais da metade de sua visão, e a sua tia debruçada sobre si não é, nem de longe, uma das melhores formas de voltar para a realidade.

Ainda mais quando, além de confuso, você sente um punhado de coisas emaranhadas em seu estômago e mente.

O meu peito formigava anunciando uma nova crise de ansiedade ameaçar o meu corpo, ainda nos primeiros minutos estando consciente naquela noite confusa.

Minha pele transpirava, e nem mesmo com a ajuda da minha tia, ao me abanar, fez com que aquilo fosse embora, pois após um curto diálogo, assisto a mulher de fios presos de qualquer jeito seguir o mesmo caminho que a enfermeira traçou.

E foi ali, naquele instante, que tudo começou, pois, sozinho no grande quarto, sinto um cheiro estranhamente familiar impregnar o ambiente, apesar de não reconhecer ser o perfume da minha tia, que estava há instantes aqui; ou alguma enfermeira, mesmo sabendo que raramente usam para atender pacientes; ou o de qualquer outra pessoa que também estivesse naquela sala compartilhada. Mas, a despeito da possibilidade, foi rapidamente desmentida, dado que, ao arrastar silenciosamente a cortina para o lado, percebo ser o único internado ali.

O cheiro estava conseguindo me acalmar e, de forma inesperada, assim como também estava retirando a minha atenção do mal-estar, causado pela ansiedade sem motivo aparente.

Pelo menos até o vaso de flores despencar de cima da bancada, e o cheiro desaparecer assim que a minha tia ressurgiu na porta, trazendo o médico que não tardou em me observar e insistir que tudo aquilo foi somente um quadro de estresse acentuado, ou ㅡ na pior das hipóteses ㅡ narcolepsia.

No entanto, para que tivéssemos um diagnóstico mais preciso, deveríamos observar se a situação incomum voltaria a se repetir nos próximos dias e, então, seria necessário realizar outros exames, o que, graças a Deus, não aconteceu.

Eu estava fisicamente bem, apesar de começar a me familiarizar com aquela sensação de ausência que, de vez em quando, prendia minha garganta.

E, ainda naquela noite, durante o caminho de volta para a casa de madeira, o Seo, que estava em seu carro, esperando do lado de fora do hospital ㅡ por somente familiares poderem acompanhar os pacientes ㅡ, contava tudo o que aconteceu, apesar de não conseguir reforçar algo além daquilo que eu já me lembrava, antes de apagar no meio da rua e acordar numa cama de hospital.

Pelo menos ele tentou.

E mesmo tendo o Binnie mais perto, por dias eu senti que algo estava faltando, embora não soubesse, com exatidão, o que aquilo significava. O incômodo em meu peito me fazia relacionar ao cheiro que sempre insistia em aparecer desde o ocorrido no hospital, permanecendo a oscilar sua intensidade ao decorrer dos dias.

Em alguns, pude notar que ele acabou não surgindo mais, entretanto, havia madrugadas que eu ainda conseguia dar uma forma para aquele aroma em meus sonhos. Ele me lembra o branco de tecidos finos, flashes de luz, e sensações boas.

Também associo a brincos reluzentes e colares de prata, no entanto, há noites que o aroma toma outros contornos, como rabiscos sobre a pele e um chicote negro, me fazendo, por vezes, acordar com certo receio de descer as escadas e esbarrar com alguém da casa durante o percurso matinal ao banheiro.

É sempre embaraçoso encarar que no Japão os banheiros são divididos em compartimentos diferentes. Sendo um banheiro, em específico, para o banho e outro somente para um vaso sanitário com pia embutida. Mas é "O vaso sanitário'', com direito a tudo que se possa imaginar.

VAISRAVANA • { minsung }Where stories live. Discover now