Capítulo 187: Verão de 1995: Sirius

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Well, my friends are gone and my hair is grey

I ache in the places where I used to play

And I'm crazy for love.

But I'm not coming on.

I'm just paying my rent every day in the Tower of Song.

Tower of Song, Leonard Cohen.



Sirius sentou no sofá com os joelhos para cima, os braços em volta das pernas. Ele estava assistindo televisão. Era uma invenção trouxa bizarra, um pouco como os cinemas que ele tinha ido na juventude, só que menor... ah não, ah não... aquele pensamento trouxe de volta uma memória de James. Naquele verão em que eles foram ver o mesmo filme todos os dias, quando conheceram aquelas garotas trouxas. Foi no verão? Ou Natal? Talvez estivesse chovendo e alguém o socou. James ou Remus? Certamente Remus. James nunca foi violento, mesmo quando Sirius realmente merecia.

Sirius fechou os olhos para abafar as vozes frias e cruéis em sua cabeça que queriam arrastá-lo de volta no tempo, de volta aos piores momentos. Ele achou que podia sentir o gosto de sangue, mas, quando abriu os olhos novamente, tudo que viu foi a sala de estar e a caixa trouxa falante idiota.

Era sua sala de estar. Ou tinha sido, uma vez. Parecia diferente, e Sirius teve dificuldade em descobrir se realmente estava diferente ou se ele estava apenas se lembrando errado. As paredes não tinham sido repintadas, a lareira estava lá. Não cheirava mais a cinza de cigarro, mas ainda havia uma marca de queimadura no carpete sob o parapeito da janela - isso já estava lá antes? Ou teria acontecido nos anos que esteve fora?

A TV era a pior mudança, a mais perceptível. Sirius possuía uma forte memória de argumentar contra comprarem uma há muito tempo atrás. Caixa de luzes trouxa barulhenta . Ele ainda achava que era horrível, mas, de alguma forma, não conseguia parar de assistir. Ela o distraía. Pausava seus pensamentos, o impedia de se lembrar.

Ele havia passado muito tempo se lembrando. Revirando eventos, erros e conversas pouco compreendidas. Peneirando tudo de novo e de novo, até que tudo em sua cabeça se soltou e se transformou em pequenos fragmentos sem estrutura ou narrativa. Ele não queria mais sentar e pensar. Ele queria ir para a ação. Queria fazer coisas. E ninguém permitia.

Ele bufou, mudando de posição, apertando o braço do sofá com mais força. Remus havia sido convidado para uma reunião, e Sirius foi instruído a ficar em casa com o trouxa. Não causaria nenhum problema se ele tivesse ido como Padfoot, sabia que ficaria tudo bem, mas ninguém o ouvia. Eles o estavam tratando como uma bomba prestes a explodir, como alguém que precisava ser contido. Como se não tivesse passado um ano sozinho cuidando de si mesmo sem a ajuda de ninguém.

Ele não seria tratado como uma criança. Não iria deixar que o tratassem daquela forma. Não merecia mais?

Mas Moony - Remus - lhe lançou aquele olhar dolorido e suplicante, e isso o calou. Ele odiava deixar Remus desconfortável, pois isso o deixava preocupado com a possibilidade de Sirius nunca melhorar. Ele sabia que não estava certo da cabeça, sabia que estava se comportando de forma errada e que não estava sendo ele mesmo. Sirius havia esperado que um ano fosse ser o suficiente. Agora estava fora, estava livre, todos que importavam finalmente sabiam a verdade. Isso devia ter feito a diferença. A essa altura, ele já deveria ter voltado ao normal.

Remus não estava ajudando, Sirius pensou sombriamente. Como conseguiria fazer sua cabeça agir da maneira certa se tudo estava tão estranho? Quando Remus, seu único amigo restante, mal conseguia olhar para ele sem estremecer, mal conseguia falar com ele sem desviar os olhos para longe. E o namorado. Sirius se perguntou o quão rápido isso tinha acontecido, o quão rápido o trouxa havia se infiltrado como um verme, infectando Remus com sua mundanidade, transformando seu Moony em alguém quieto e cauteloso, em alguém nada melhor do que o próprio trouxa.

All  the Young Dudes [Livro 3]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora