Capítulo 29

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Amália

Não sei como entramos na casa, antes que eu possa de fato pensar dou de cara com essas paredes que um dia me acolheram e agora parecem tão desconhecidas para mim.

Olho para a cozinha e o vejo ali, abraçando-me e vendo mais do que eu desejava mostrar e para ele foi tão fácil identificar tudo o que já passei, ele pode me ler de uma maneira que jamais esperei, em alguns momentos acredito em todo o seu amor, mesmo não sabendo da razão de sua existência.

Vou em direção à cozinha lentamente, é como se algo me puxasse para lá, passo minhas mãos por aqueles lugares em que estivemos como se pudesse senti-lo e viver novamente aqueles momentos em que nos conectamos.

Lembro-me da forma em que o seu olhar cativou o meu, o momento em que me perdi no mar que não sei nadar, no fundo sinto medo de me aprofundar mais e me perder para sempre, sei que nutri por ele um sentimento indesejado, mas agora tão desejável de se realizar.

Fecho os olhos, sentindo-o. Creio que está aqui, vai me dizer que tudo ficará bem e que a culpa não é minha, sinto meu corpo me arrepiar conforme o seu toque aumenta em minha pele, eu desejo que o seu toque se aprofunde, quero apenas sentir mais do que ele pode me dar.

— Amália – chama-me.

Saio do transe ouvindo a voz de Iara, havia me esquecido completamente dela e agora me sinto tão envergonhada que gostaria de fugir, por sorte ela não viu o meu rosto isso seria humilhante demais.

— Sim – digo virando-me.

— Por onde desejas começar? – indaga.

Olho ao redor, vejo a sala e um corredor, se for como em minha casa lá terá um escritório, só não sei se vai estar trancado. Tem uma escada grande que leva ao andar de cima, onde provavelmente ficarão os quartos, no entanto pode ser que tenha um escritório também.

— Pode ir para o andar de cima, eu ficaria por aqui – digo e ela assenti indo em seguida.

Ando devagar por todo o espaço, na cozinha e na sala não vejo nada muito interessante para minha busca, então me dirijo para o corredor, vejo três portas diferentes, por um momento não consigo andar, meus pés se prendem no chão e minha mente é invadida.

Penso no vazio que aquela casa significa. Não tem nada dele aqui, não tem fotos, nada pessoal, se em algum momento ele desaparecer será difícil encontrar alguma pista aqui. Respiro fundo e volto para a minha procura.

Ando lentamente em direção a cada porta, não me surpreendo quando percebo que todas estão trancadas, vou em direção ao fim do corredor e encontro outra porta a abro e percebo que cheguei ao banheiro, entro e observo.

Vejo como é grande e aconchegante, aproveito que estou ali e resolvo usá-lo, sento-me e começo a fazer xixi, olho para o chão e vejo um tapete muito bonito, ele é azul e branco e possui um rosto de ursinho deixando-o ainda mais charmoso.

Termino de usar e após me vestir dou descarga e sorrio. Para qualquer pessoa isso passaria despercebido, mas para mim não. Ele não tem nada na casa que se pareça com isso, é o único detalhe do banheiro e isso me faz crer que estou no lugar certo.

Abaixo-me e tiro o tapete do lugar, percebo que uma das madeiras do piso está solta, retiro-o e sorrio ao encontrar um espaço, uma passagem. Retiro o outro e percebo que neste espaço cabe apenas uma pessoa de cada vez.

Sem hesitar acomodo-me e desço, levo um susto por ser um escorregador. Fecho os olhos sem saber para onde vou, agradeço mentalmente por ter trancado a porta. Não sei para onde vou e isso me amedronta ainda mais, meu corpo parece sufocar, o medo invade-me, aperto os meus braços em torno de mim e fecho os olhos ainda mais.

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