Capítulo 23

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Amália

Adormeço no sofá do meu escritório, por sorte ele é muito confortável. Levanto sentindo-me um pouco tonta por ter elevado rápido demais, apoio-me na mesa e assim que me sinto melhor caminho até a porta e a abro devagar. Fico por um tempo com a porta aberta apenas tentando ouvir se tem movimento na casa e quando percebo que estou sozinha saio e vou apressadamente para o meu quarto.

Assim que entro tranco à porta e respiro fundo, o meu coração acelerado denuncia toda a minha tensão e vergonha. Não desejo ver o meu marido depois de tudo o que descobri que ele sabe sinto vergonha de olhar em seu rosto e por outro lado, acredito fortemente que esta envolvido com outra mulher, quanto mais rápido me ver, mais depressa estarei no teatro novamente e neste momento em que minha vida parece estar exatamente como desejo não quero perdê-la.

Pretendo tomar banho antes de começar a realizar minhas tarefas, mas não sinto o meu corpo forte o suficiente para isso meio desajeitada deito-me na cama sentindo a maciez do meu travesseiro enquanto apoio minha cabeça procurando relaxar.

Não quero me prender em um passado que já deveria ter sido superado, contudo quando minha insegurança é despertada ela traz de volta tudo o que eu achei que havia deixado para traz. Todos os pesadelos que acreditei ter vencido estão ao meu lado dançando sobre mim enquanto me escondo no canto escuro que todos têm preguiça de olhar.

Respiro e começo a contar, conto em minha mente várias vezes até dez e quando finalmente o meu corpo para de tremer sinto que estou preparada para tomar o banho que tanto desejo.

Tiro minha roupa e coloco dentro do cesto, ligo o chuveiro sentindo inicialmente a água fria cair em meu corpo, sinto um pouco de frio, no entanto isso apenas me faz desejar mais a água quente.

Penso se não é assim na vida, recebemos coisas que sempre faz com que pareça pequeno, nada é o suficiente, tudo parece um preparo para o que está por vir, como se o desconhecido fosse ser sempre melhor e no fundo o melhor é sempre uma ilusão. Termino o banho e seco-me, faço com que a toalha abrace o meu corpo e volto para o quarto, contudo espanto-me quando encontro Enrico olhando-me como se me visse pela primeira vez.

Ele nunca me viu desta forma, nosso casamento sempre foi mais uma amizade, sempre dizemos que não sentimos nada, além disso, e se isso é verdade por que me sinto tão constrangida por ele me ver assim? Abraço o meu corpo esperando que ele vá embora e como não o faz vou até a cama e visto um roupão. Percebo que olha para os lados constrangido e só voltar a encarar-me depois de alguns minutos.

— Como entrou aqui? – indago.

— Eu tenho a chave – informa como se fosse óbvio.

— Do que adianta eu ter a minha privacidade se tu pode quebrá-la a qualquer momento? – questiono ríspida.

Seu olhar espantado passa por mim, Enrico vira-se para a janela e sinto que se prepara para me dizer algo e eu temo tudo o que possa sair de sua boca, mas jamais o impedirei de fazer o que deseja.

— Vou arrumar minhas coisas e não lhe darei trabalho, mas no momento eu gostaria de ficar sozinha – exclamo e vejo-o virar bruscamente parecendo assustado.

— Podes informar-me por que achas que deves arrumar suas coisas? – investiga confuso.

— Não faças isso comigo, eu o vi com aquela mulher, sei que me venderá. Acredito que seja melhor fazermos isso logo – exclamo e cruzo os braços em frente ao meu corpo.

— Eu não irei vendê-la – afirma olhando em meus olhos.

— Então por que estás aqui? – indago impaciente.

VendidaWhere stories live. Discover now