Capítulo 1

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Dois anos antes...

Amália

Os meus pés estão para cima enquanto estou deitada no chão da sala, acomodei-me próxima a parede fazendo com que o meu corpo fique encostado na mesma, encaro os meus pés sentindo o tremor no chão, a mesa ainda está posta, não tive apetite para jantar e não permiti que os empregados a desfizesse. Desejo ardentemente que ele veja como me deixou, anseio por todo o arrependimento que seja capaz de sentir ao repetir aquilo que já deixei claro que me causa grande exaustão devido à tristeza.

Mais uma vez, Ricardo Augusto se atrasa e deixa-me sozinha para mais uma refeição, já não basta o tamanho da solidão que sinto devido a ele ficar fora o dia inteiro enquanto trabalha, vejo-o afastar-se cada vez mais de mim. Quando insinuei que desejava trabalhar fui fortemente repreendida, jamais imaginei vê-lo tão nervoso. Não me deixou explicar que já estou cansada de ficar sozinha, apenas gritou dizendo que eu deveria fazer coisas de mulher e sei ao que se refere quando diz isso, mas até agora não fui abençoada com essa dádiva.

Olho para o relógio que se encontra em cima dos meus pés e percebo que daqui a pouco vamos entrar em um outro dia e pelo que percebo será mais um dia difícil. Estou usando apenas a minha camisola fina devido ao calor, sinto o vento agraciar o meu corpo com sua presença e fecho os olhos para senti-lo, após alguns minutos ouço a porta abrir-se, não me levanto, permito que venha até mim enquanto encaro a parede sentindo-me angustiada.

— O que faz ai querida? – indaga fazendo com que o meu corpo preguiçoso levante-se.

— Faz muito tempo que o aguardo para jantar – murmuro sem tentar esconder minha chateação.

Ricardo franze o cenho para me olhar e em seguida olha para a mesa, ao perceber que não comi suspira profundamente.

— Eu já expliquei que não poderei jantar contigo todos os dias – suspira colocando-me de pé e beijando levemente os meus lábios.

— Então permita-me trabalhar ao seu lado, eu seria sem dúvida a mulher mais feliz do mundo se considerasse o meu pedido – imploro e forço um sorriso mesmo sabendo que ele não aprova minha solicitação.

— Amália, já conversamos sobre isso, tu não deves trabalhar fora de casa. Tem tanta coisa para fazer aqui, não entendo porque deseja sair – reclama afastando-se de mim.

Permito que vá para o meio do cômodo repreendendo-me mentalmente por ter voltado neste assunto sabendo que não o agrada, no entanto não vejo outra saída e desejo que meu marido me compreenda hoje da mesma maneira que já me entendeu há alguns anos.

— Ricardo, sinto-me entediada – confesso e ele me encara perplexo por conta da minha fala. — Sei os deveres de uma esposa, entretanto não gosto de ficar por tanto tempo dentro de casa – explico tentando parecer calma. — Anseio por mais e sei que posso trabalhar tão bem como tu – afirmo e de repente ele começa a sorrir deixando-me envergonhada.

— Isso é um absurdo querida, como ousa dizer que pode trabalhar tão bem quanto eu? Tu és apenas uma mulher, não deve ser tão esperta, nem tão forte – exclama e começa a tirar a gravata.

Permaneço parada em meu lugar, a perplexidade volta a tomar conta de mim. Não compreendo como pode me achar tão inferior a ele quando só é capaz de alimentar-se se eu fizer sua refeição.

Não imagino como um homem que não lava suas próprias roupas e não prepara o próprio banho pode se achar tão superior a uma mulher que faz tudo isso para ele. Não respondo e desisto de insistir neste assunto por enquanto.

Pego a roupa que deixou no chão e levo para a lavanderia, Ricardo vai para o banheiro banhar-se já que tudo foi preparado anteriormente e ele só deve usar o shampoo e a água, isso é capaz de fazer. Quando termina, a comida já foi requentada por mim e nós podemos finalmente jantar.

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