Capítulo 4

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Amália

As cortinas já se abriram, o sol invade o salão lhe dando a luz que inspira um grande show, não me assusto com o vazio com o qual sou recepcionada, pois sei que no momento certo todos os lugares serão ocupados.

Costumam chamar esse lugar de grande teatro, mas tampouco se parece com o local que está acostumado, sento-me em uma mesa de madeira rústica e marrom, a mesa é mais alta do que as comuns e possui apenas dois bancos altos disponíveis para serem ocupados.

Não tem muita decoração como flores ou balões, o que decora o lugar são as bebidas que são depositadas em cima da mesa. O chão é de madeira e devido ao tempo em que não é feita nenhuma manutenção é possível ouvir alguns barulhos conforme os pesos são depositados em seus lugares.

As janelas são redondas e possuem um vidro contornado com madeira para protegê-lo, além de um trinco tão pequeno que talvez a mão de uma criança não consiga segurá-lo. O teto é mais alto do que na maioria das casas, possui algumas cordas penduradas que é por onde as mulheres que escolheram outra vida se apresentam para nós.

As cordas ficam próximas às mesas e isso é a única coisa que me faz detestar este lugar, não gosto de como essas mulheres olham para o meu marido, contudo ignoro esse pensamento quando o vejo ao meu lado.

O palco é pequeno, cabe poucas pessoas se colocarem mais de três já fica apertado para todos, os microfones ficam sempre ao meu lado esquerdo e o lado direito é sempre usado para a dona do show.

Este ambiente é bem escuro, às paredes são pintadas em um tom bege que pode ser confundido com o amarelo e essa é a cor mais clara que podemos ver por aqui, após alguns minutos em que bebo em silêncio ao lado do meu marido ouço quando os outros convidados começam a chegar.

Uma antiga amiga de infância entra sozinha e isso chama a atenção de todos, eu sei porque ela está aqui e acho sua atitude desnecessária já que não poderá salvar a amiga. Passam-se alguns segundos e isso faz com que todos a observem curiosos e esperançosos, mas essa sensação passa rapidamente assim que um dos seguranças a forçam a sair do salão.

Ela não se retira por vontade própria e quando começa a ser arrastada a única coisa que fica para nós ouvirmos são seus gritos irritados. Olho o homem a minha frente e ele parece indignado, consigo entender completamente o motivo de estar assim.

— Algumas mulheres deveriam colocar-se em seus lugares, não conseguem aceitar que não são como nós, que não ditam leis. Devem conformassem em ser apenas mulheres – vocifera e eu não o respondo, sei que não devo lhe dirigir a palavra agora, afinal não se dirigiu a mim.

Nós não temos autorização para virmos aqui sozinhas, esse não é lugar para mulheres casadas ou com pretendentes e sempre que alguém tenta ir contra essas regras acaba sendo banido e vive por algum tempo como se não tivessem família e cidade, o fim é sempre trágico.

Concentro os meus olhos na cortina fechada do palco, penso em meu irmão e em como está triste, não consigo pensar nele por muito tempo, pois o silêncio se esvai conforme a sala enche, os lugares nas mesas são ocupados. Alguns homens me encaram, mas os ignoram e às vezes olho para eles com hostilidade, sei que aqui não é o melhor lugar para mulheres, no entanto isso de forma alguma faz diferença para mim quando estou com o meu marido ao meu lado.

As luzes se apagam deixando todos na escuridão, a escuridão que cria expectativa mostrando que logo irá iniciar, mais um espetáculo. A palmas começam antes que as cortinas sejam abertas percebo como estavam ansiosos por isso e a emoção que sentem me faz querer sorrir.

Penso em como é mágico quando se tem uma multidão que anseia pela mesma coisa, a energia que é transmitida parece uma luz de paz em cada vida, dá mesma forma que é uma energia boa, pode ser completamente ruim. Assim que a iluminação se destaca no palco os burburinhos aumentam deixando todos ansiosos para o inicio de uma longa noite.

VendidaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora