Capítulo 27

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Amália

Assim que entro em casa vou direto para o meu quarto, tranco a porta e me permito respirar fundo. Jamais pensei que seria tratada desta forma por ele, pois o coloquei em um pedestal.

Depois de tudo o que passamos cheguei a supor que Enrico seria para mim a pessoa certa, no entanto isso foi apenas mais um engano. No momento em que me sinto menos nervosa tiro minha roupa e vou para o banheiro, ligo o chuveiro e deixo que a água caia sobre mim como se fosse capaz de limpar cada profundidade que invade minha alma.

Ela é lúcida e fria, quando passa pelo meu corpo permito-me fechar os olhos sentindo-a fazer o seu caminho levando tudo de mim, o que é bom e ruim se misturam deixando-me vazia e pronta para uma próxima vez.

Após longos minutos pego o sabonete e passo pela minha pele até que a espuma se forme e vá embora com a mesma rapidez, não lavo o cabelo, então quando termino de me enxaguar desligo chuveiro e pego a toalha.

Olho-me no espelho enquanto me seco, penso quem devo ser agora, por que sei que não sou mais a mesma que chegou aqui. Saio do banheiro e coloco um vestido leve, ele fica dois palmos acima do meu joelho e possui um decote discreto, escolho-o por conta da cor, é um vermelho sangue e será perfeito para o que desejo fazer.

Passo uma maquiagem leve e solto meus cabelos, escolho um sapato de salto alto na cor preta e quando me sinto pronta olho-me no espelho, percebo que realmente não sou a mesma pessoa e não me importo com isso.

Desço rapidamente e me dirijo à cozinha, não olho muito para o caminho, minha visão está alterada, pois minha mente permanece nas palavras que Enrico me disse, mostrando-me que sempre passarei pelas mesmas coisas. Abro a geladeira e procuro pelas coisas que costumo comer no café da manhã, estranho quando não encontro nada.

Fecho a porta e decido perguntar para Iara, no entanto sou surpreendido pelo meu marido sentado na bancada encarando-me. Seu olhar percorre o meu corpo, não consigo saber o que está pensando e de fato não desejo, acomodo-me em sua frente e fico olhando para ele esperando que me diga algo que justifique essa situação. Como se pudesse ler os meus pensamentos seus lábios dizem o que desejo saber.

— Combinamos de tomar café juntos – murmura.

Vejo que Iara estava observando-nos e assim que ouve suas palavras ela sorri e sai como se fossemos dois apaixonados, isso justifica o que está acontecendo, havia me esquecido completamente das aparências.

Não me sinto capaz de julgar, pois não sou melhor do que ninguém, entretanto isso me faz pensar em como as pessoas são vazias, vivem algo irreal e mostram-se completamente diferentes do que são no coração. O Ricardo era assim e o Enrico não é diferente, ele está aqui apenas para mostrar para as pessoas que trabalham conosco que é um marido presente, quando a verdade é que me trai como meu antigo marido.

Sorrio para ele, um sorriso forçado e não faço nenhum esforço para disfarçar a minha raiva. Pego o que desejo comer e sirvo-me mesmo achando que não tenho mais tanta fome.

Olho para ele de relance, vejo que apoia seu queixo nas mãos e me observa como se analisasse se deve ou não falar comigo, percebo como sua barba o deixa ainda mais bonito e seus olhos azuis parecem impregnar em mim, sua beleza é capaz de esconder muitas coisas.

— Tu vais sair? – indaga.

Eu o encaro sem me deixar afetar por sua presença e o que ela causa em mim, ainda posso sentir o seu beijo e odeio-me por isso. Bebo um pouco de suco e confirmo com a cabeça sem me dar ao trabalho de responder.

— Temo que isso não seja uma boa ideia – afirma.

Sei ao que se refere, provavelmente já sabem quem começou toda a confusão com aquele homem, no entanto não pretendo me intimidar por conta disso.

VendidaWhere stories live. Discover now