Capítulo 4: A portadora do selo

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Passados alguns minutos, ou horas, não tenho certeza, o grifo pousou em um campo coberto por dentes-de-leão, diante de um palácio caucasiano colossal, coberto de ouro em suas extremidades. Era como eu imaginava o palácio de versalhes, porém com as paredes cobertas pela cor marfim

Soltei o ar de meus pulmões, que até então eu não sabia que estava segurando, e me deixei ser encantada pelas belezas desse mundo novamente.

— Que lugar é esse? — volto-me para o moreno.

— Essa é a cidade de Marisol, capital de Auryn. E aquele titã colossal ali é o palácio da Rainha. — Ele responde enquanto se despede do animal alado.

— E Auryn, o que é? — questiono ainda meio ludibriada.

— Auryn é o Reino do Sol, uma das cortes que compõem Hiraeth. — O elfo me fita com um ar de incrédulo, como se para ele eu já devesse saber disso. — Vocês, humanos, costumam se fazer de burros ou é só você mesmo? — Há um momento atrás ele era uma criatura completamente diferente. Pensei que quisesse me ajudar de verdade, mas acho que fui enganada. E eu pensando que as fadas poderiam ser amigáveis.

— Aprendi com as bestas que nem você, querido. — Bufo e dou as costas para ele. Não estou disposta a ficar plantada ao seu lado ouvindo-o dirigir ofensas contra mim. Saio sem ao menos lhe agradecer por ter me ajudado na taberna.

— Onde pensa que vai? — ele se põe a minha frente

— Irei viver o meu sonho, é melhor do que ter que ouvir caraminholas suas.

— "Sonho"? — Ele ergue as sobrancelhas. — Que seja, agora vamos! — O elfo me puxa para a direção oposta na qual eu estava indo.

— Mas o que é que você está fazendo? — estapeio a sua mão. — Pensei que quisesse me ajudar. Mudou de ideia e agora acha que me raptar seria melhor? Que espécie de personagem que eu criei é você? — não compreendo o porquê eu ser impedida de desbravar a minha própria ilusão por mim mesma, já que inventei seres completamente loucos e sem fundamentos algum.

— Hahahaha vejo que está fora de si. Porém, escute, só vou lhe dizer uma única vez: nenhum feérico estende a mão sem receber nada em troca. Não pense que somos gentis. Mas o que eu quero de você é apenas que me siga.

— Espere, então quer dizer que fez tudo aquilo já premeditado? — Ele não queria me livrar dos orcs, no entanto fez parecer que sim para me enganar e conseguir o que deseja. Agora a questão é saber o que ele deseja.

— Pensando por esse lado, parece que sim, não é? — ele exibe um sorriso serelepe. — Mas não, o destino apenas me deu uma força.

— Não existe destino.

— Não? E do que devo chamar então? — Inesperadamente, uma corrente fina se formou em meu pulso esquerdo, envolvendo Vênus e eu. Tentei arrancá-la, porém, a coisa parecia estar colada à minha pele, como se pertencesse ao meu corpo.

— Que diabos é isso?

— Uma corrente, não vê? — o feérico não se deixa abalar, pois não tem a menor vergonha na cara ou decência.

— E por que eu estou presa a ela, seu paspalhão?

— Para que não fuja. — Ele uma outra vez responde tranquilo, com uma voz mansa, como se nada, nem mesmo eu, pudesse o abater.

Mesmo com muita relutância, eu o segui. Até porque, na verdade, eu não sei para onde eu quero ir e, para gente assim, qualquer caminho serve.

Adentramos o palácio e me peguei deslumbrada desde os portões até os corredores vazios e pouco acolhedores.

No amanhã de alguémOnde as histórias ganham vida. Descobre agora