Capítulo 3: Fui raptada por um elfo bonitão

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Grama verde, árvores no alto de uma colina e uma doce melodia de pequenas sialias azuis.

Eu nunca imaginara um cenário tão belo como esse antes. Provavelmente a minha mente está projetando um último resquício de felicidade antes que meus órgãos falhem por completo. Não consigo sentir nem mesmo dor.

Tenho saudades disto, de um lar no qual nunca fui.

Mas, parecia tudo tão real que eu quase acreditei quando a brisa acariciou a minha face. Ou quando algumas folhas despencaram do orvalho ao meu lado.

— Então essa é a sensação de estar em paz? Parece-me bom.

Seja lá onde estiver, aqui é como eu imagino os cenários exuberantes de tirar o fôlego que leio nos livros de fantasia. É como uma noite de verão. Eu deveria estar morta, com o meu corpo prestes a entrar em decomposição, mas, por algum motivo, estava sonhando.

Pus-me logo de pé, porque não demorará muito tempo até que tudo se desmanche. Caminhei lentamente, totalmente atônica, por vezes notava certas estranhezas que geralmente não se encontram em sonhos banais, entretanto deixei de lado.

Passei por um campo de alecrim, tomilho, salsa e sálvia e colhi alguns ramos para mim.

Além do horizonte, há cadeias montanhosas por todo o território, como se estivessem delimitando a área.

Os campos são verdes, os prados floridos e os animais correm soltos, despreocupados de qualquer mal que possa lhes atingir. Aqui o céu é mais azul, o dia é mais ensolarado e os bosques são mais vicejantes.

Continuei a andar, até encontrar uma humilde aldeia — mais do que humilde, na verdade — próxima a um extenso milharal. Pode parecer exagero, no entanto as casas pareciam que iriam desmontar apenas pelo simples ato de as olhar. As portas e janelas estavam todas fechadas, não havia sequer uma alma viva rondando pelas ruas.

Bem no coração da pequena aldeia, avistei uma taberna de finalidade um tanto duvidosa, com homens oblíquos de orelhas pontiagudas. Estão bêbados, sentados à porta, enquanto o que aparecem serem pixies sacam os seus bolsos e furtam algumas moedas de ouro e prata.

Ignoro o temor e adentro o local sem mais nem menos.

Mas, assim que passei pela porta, arregalei os olhos de espanto. O interior do comércio estava repleto de feéricos, alguns bêbados caídos ao chão, outros dançando e os demais cantando.

A banda que tocava a música no estabelecimento era composta por um sátiro de cabelos verdes que tocava um alaúde com fios dourados, uma fada de pele lilás e asas de borboletas que remexia ao ritmo da música com a sua lira em mãos e um elfo de escleras negras que assoprava a sua flauta feita de bambu.

Eram coisas demais para o meu cérebro recapitular.

Contudo, quando concentrei a minha atenção no balcão, o que me chamou mais a atenção foi uma pequenina fada, do tamanho de um polegar e de meia idade, enterrando a cara num barril de cerveja dezenove vezes maior do que ela. Repeli a vontade de rir.

Parecia até um conto.

Encostei-me sorrateiramente na bancada, as minhas órbitas não paravam nem por um instante. Sempre havia algo para observar. Era tudo tão estranho, e ao mesmo tempo tão encantador. Eu estava indecisa se achava graça ou horror.

O bodegueiro, que por acaso é um orc, não percebeu a minha presença logo de cara, mas eu notei a sua assim que ele saiu da adega. Ele possui olhos de gato: amarelos e vibrantes. Os mais bonitos que já vi, em contraste com o dono. Após alguns segundos, ele finalmente reparou a minha presença, não tirando os olhos de mim nem por um segundo, como se em um estalar de dedos eu fosse sumir dali. O orc é alto como um gigante, as suas presas são saltadas para fora da boca e ele tem apenas um pequeno ramo de cabelos presos a um rabo de cavalo no topo de sua cabeça.

No amanhã de alguémKde žijí příběhy. Začni objevovat