Capítulo 19

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Petruchio ficou sentado no chão durante horas tentando assimilar as novas informações e controlar sua respiração. Ele sabia que a vida poderia lhe dar bofetadas, já havia recebido várias delas, seus pais morrendo cedo deixando a fazenda para ele cuidar e dar conta desde muito jovem, o desafio de salvar seu povo, de não deixá-lo passar fome quando as dívidas o afogavam e o desafio de esquecer Catarina depois que ela havia partido deixando o filho com ele. Mas ele não se lembrava de sentir o desespero. Aquele desespero absoluto que chegava quando sentia o mundo desabar e os passos que viriam a seguir não eram claros. Todas suas dores do passado se curaram, mas quando a nova dor chegava não havia como descobrir o que fazer para tirá-la de seu coração. Uma filha que não conhecia, uma filha que lhe foi tirada de sua vida sem dó ou remorso. Uma filha!

Bufou nervoso sentindo o desespero invadir seu coração. Como recuperaria a esperança de seu relacionamento, de sua família depois de descobrir tudo aquilo? Depois de repassar toda a carta da filha inúmeras vezes e saber que a mãe mentiu a ela o tempo todo? A mãe? Catarina!

Decidiu enfrentá-la, precisava confrontá-la. Esperou dar o horário combinado e foi ao cinema a esperar na porta. Catarina desceu de um carro de aluguel deslumbrante, estava linda de arrancar o fôlego de qualquer homem, mas ele não conseguia mais enxergar essa beleza nela.

Catarina decidiu esquecer o pio da coruja e seguir seu coração, afinal era só uma superstição. Desceu do carro e reparou em Petruchio a esperando, ele estava lá, tudo estava bem. É claro que resolveu também ignorar a roupa gasta de trabalho na fazenda e seus olhos fundos e vermelhos - "Estava tudo bem, estava tudo bem" - repetia em sua mente.

— Você está aqui… - suspirou aliviada indo o abraçar sem receios. Enlaçou seu braço forte em seu pescoço e colocou o rosto no peito dele. - Passei o perfume que tanto gosta e comprei um lenço novo só para essa noite.

Catarina esticou seu pescoço e olhou Petruchio nos olhos, ele estava impassível. Pousou suas mãos na barba dele e esticou os pés com a intenção de beijá-lo nos lábios. Petruchio negou com a cabeça e segurou suas mãos a afastando de si.

— Ocê é falsa.

Ela piscou engolindo em seco, um relâmpago cortou o céu ao mesmo tempo em que ela lhe perguntava com medo.

— Por que está me chamando de falsa?

— Ocê mentiu pra mim, a pior mentira que podia mentir! - ele estava nervoso ao ponto de não controlar mais sua voz. - Ficou me beijando, me abraçando, fingindo que queria construir uma família comigo. Que queria conquistar a mim de novo pra conquistar meu filho…

— Eu não menti! - Catarina gritou tentando se defender, no fundo de seu coração sabia que não era mentira, que queria mesmo construir uma família consigo como não tivera a oportunidade antes.

— ...E eu caí, feito um idiota nessa sua encenação. Como sempre caio quando o assunto é ocê e suas mentiras.

— Que mentira?

Era como estar cega diante dele. Ela sabia que seu mundo estava prestes a desabar, ela sabia que a avalanche ia cair em sua cabeça. Mas não esperava pelas palavras cortantes que recebeu dele a seguir.

— Pare Catarina, sabe muito bem a mentira que mantém de mim durante anos. Ou mente tanto, tanto, tanto que finge que não é mais mentira? Acredita que é mesmo verdade?

Ela sabia do que ele falava, mas ao mesmo tempo não queria acreditar que ele sabia o que achava que ele soubesse por outra boca sem ser a dela.

— Petruchio, vamos sair daqui? Vamos conversar em outro lugar? - começava a pingar e o céu do crepúsculo do fim da tarde ficava cada vez mais escuro, mas as pessoas que estavam no cinema pareciam não se importar mais em assistir ao filme no qual compravam o ingresso, estavam de olho nos dois. Um espetáculo particular.

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