Capítulo 34

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Catarina queria acreditar no tempo, como ele havia a ajudado semanas atrás apaziguando as mágoas e permitindo que o filho se aproximasse de si e Petruchio a perdoar pelos anos de separação e mentiras. Queria acreditar que o tempo mais uma vez a ajudaria, apesar de todo seu desânimo diante dos nãos que nunca paravam de lhe dar bofetadas. Dias depois de ter aceitado morar novamente na fazenda, de ter sido sincera com Petruchio sobre seus medos em relação aos fantasmas que a rondavam, recebeu um não de um lugar que nunca imaginou que iria receber.

— Desculpe Candoca, mas é contra as leis da igreja uma mulher divorciada ser madrinha de uma criança. - as palavras do padre entraram como faca em seu coração.

Catarina não era uma pessoa religiosa, mas recorria a Deus quando achava que precisava conversar e se acalmar quando a vida lhe dava diversas rasteiras. Receber esse tipo de não, de um lugar que era para acolher a todas as pessoas, a fazia mal.

— O senhor está dizendo que não sou bem-vinda aqui? Achei que a casa de Deus acolhia todas as pessoas. - Não deixou de perguntar.

— É bem-vinda sim, mas o batismo eu não posso autorizar.

Ela chorou de ódio quando saiu porta a fora com Candoca e Otávio. Era como ter ganhado um presente e lhe ser arrancado dos braços sem motivo algum.

— …Eu sinto tanto Catarina, para mim, você sempre será a madrinha dele… - Candoca não sabia como a consolar quando sua única alternativa foi trocar ela por Bianca como madrinha de seu filho.

Naquele dia ela escreveu, mais uma vez, suas frustrações no papel. Precisava desabafar. Acarcava as palavras no papel com a caneta devido ao seu ódio que quase o furava. Petruchio notou seu semblante triste e sua raiva evidente.

— Eu sinto muito. - disse a esposa quando esta lhe explicou tudo com ódio nos olhos.

Ela então desabou a chorar e ele a abraçou a consolando e acariciando suas costas.

— Me sinto tão fraca, tão impotente.

— Tá tudo bem não ser forte o tempo inteiro.

— Eu tô cansada de ser forte o tempo inteiro. - Petruchio esticou seu pescoço para trás e a encarou, lhe deu um beijo em sua testa e ele sentia seu coração se apertar, junto ao dela. Já havia brigado com Serafim, colocado Heitor em seu lugar, falou verdades ao pai da aluna que a expulsou da escola, até amedrontou Edmundo. Sua vontade agora era…

— Eu tenho é vontade de ir atrás desse padre e… onde já se viu? Tantas pessoas, mais pecadoras que ocê, que frequentam aquela igreja e se fingem de boas e morais e ocê… Ocê que é a errada? Só por causa de um divorciada no nome?

— Está tudo bem Petruchio, é mais um dia em que aprendo que as leis são feitas pelos homens, para os homens.

Ele acariciou seu rosto com seus dedos e pensou consigo.

— O que posso fazer pra deixar ocê um tiquinho feliz? Eu não aguento mais ver ocê triste pelos cantos.

— Não se preocupe. Estou bem…
Catarina estava começando a cuidar da contabilidade da loja e atendia alguns clientes que apareciam de manhã, enquanto Petruchio cuidava das encomendas da feira e sempre checava se a produção na fazenda estava em ordem. Ele estava feliz com Catarina o ajudando e apesar de dizer que para ela era o suficiente fazer o que ele amava, que se lembrava dos tempos em que cuidaram da fazenda juntos, ele sabia que a ex-mulher não estava feliz trabalhando consigo.

Reparou que ela escrevia muito, sempre levava um caderninho e vez ou outra "vomitava" palavras nele.

— …Eu posso perguntar uma coisa pr'ocê? - Petruchio pediu, depois de minutos. Catarina parecia mais calma depois da recente frustração. Apesar de estar contando o estoque de manteiga da geladeira, que já havia feito três vezes e se perdido.

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