Capítulo 2

261 25 101
                                    

Voltar ao Brasil para Catarina significava voltar para o passado, sabia que a mentira que havia contado se materializaria na sua frente, não sabia por quanto tempo conseguiria fugir das perguntas constantes de Clara sobre o pai e já imaginava a reação dela se descobrisse que tinha um irmão gêmeo, afinal Bianca tinha certo contato com eles e sabia que até seu pai havia conversado com o único neto homem que tinha.

— Eu não posso voltar! - negou automaticamente ao pai ao telefone quando o ouviu falar que mandaria dinheiro somente para as passagens e que era para se livrar da casa e móveis, levando só roupas.

— Catarina, minha filha, os tempos mudaram, a modernidade está chegando, é até comum encontrar casais que se separaram, é claro que para a mulher é mais difícil, principalmente encontrar emprego, mas posso te colocar para trabalhar no ban…

— Eu não tenho medo de ninguém, não tenho medo de encarar ninguém falando que sou separada! - logo chiou com Batista. - Mas eu não posso voltar porque…

Era horrível demais dizer em voz alta, mesmo por telefone, sabendo que sua filha esperta, estava em algum canto da casa muito atenta com sua conversa.

— ...você sabe muito bem o porquê!

— Agora você conta uma mentira por anos e espera que ela vire verdade? Minha filha precisa encarar as consequências dos seus atos.

— Não é tão simples assim! Passaram-se quinze anos! Quinze anos! Eu tenho certeza que vou querer o ver… eu já sofro o tempo todo longe sem o ver, se estiver no Brasil não vou resistir.

Clara ouvia do corredor a conversa, sabia que era esse diálogo que definiria seus passos a seguir. Tinha convencido seu avô, mas entendia que não era seria fácil convencer sua mãe.

— E para que resistir? Eu já sou velho e sei que antes tarde do que nunca para repararmos nossos erros e ficarmos com nossa família completa e feliz ao nosso lado… Além disso Catarina, será bom você voltar pois estou doente… quero ter meus quatro filhos perto de mim antes de partir.

— Partir? Do que está falando papai? - assustou-se com a sinceridade de Batista.

Catarina sentou-se para ouvir o relato do pai, ele havia passado mal dias atrás e descobriu com um médico que estava com uma doença crônica renal. Seus rins estavam parando de funcionar.

— ...Mas deve haver estudos, alguns remédios que possam ajudar, talvez um tratamento fora do país! - A filha mais velha tentava arranjar soluções para um problema que não estava ao alcance de suas mãos.

— ...A solução é aproveitar o resto da vida ao lado de todos meus filhos e todos meus netos. Volte Catarina!

Ficou conversando longos minutos com o pai e cada palavra que ele dizia, mais ela sabia que sua decisão já estava tomada. Voltaria e teria que enfrentar todos os fantasmas do passado.

Catarina estava com o olhar vaga e perdido depois de desligar o telefone, sua garganta estava se fechando e seu sangue fervia de ódio, de medo, receio… pegou o primeiro vaso que viu e jogou no chão com a maior força que conseguiu reunir.

Sentou-se desolada no sofá ao lado e começou a chorar, apavorada com o que encararia.

— Dona Catarina, o que aconteceu? - Filomena apareceu preocupada, normalmente quando ela tacava vasos na casa, era depois de uma briga com Clara.

— O passado está me chamando Filó, não tenho mais escapatória, vou ter que encará-lo.

xx

— Boa tarde, os senhores desejam alguma coisa? - Julião Júnior era o melhor da família para atender clientes.

A pequena loja de laticínios que haviam montado no centro da cidade tinha certo movimento, pessoas iam em busca de leite, queijo, manteiga, requeijão e doce de leite que produziam na fazenda. Tinham rótulos nos produtos e a maioria dos clientes voltavam quando gostavam da mercadoria.

Segunda chance حيث تعيش القصص. اكتشف الآن