27. A Distância.

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JESSE KING

Eu não devia ter dito nada, porque como sempre me encontrei a tomar decisões idiotas, que não tem volta.

Outra decisão idiota que fiz foi beber a ponto de eu não saber distinguir muito bem as coisas a minha volta.

Foda, porquê é que ela sendo Madelyn não é suficiente para mim? Nada disto estaria a acontecer se eu simplesmente aceitasse que a Madelyn é suficiente para mim.

Inicialmente voltei para o meu apartamento onde bebi a ponto de murmurar palavras sem sentido como um velho.

Meu apartamento era um sítio fácil de se ficar porque não constavam memórias, de nada nem ninguém, era só o meu apartamento. Mas eu tinha que trazer ela para aqui, e dar-lhe o direito de manchar a minha tela branca com os arco-íris dela.

Estava tudo manchado, tanto o apartamento como a mansão.

Bebi tanto a ponto de conseguir ouvir a voz dela a negar a ideia de eu mandá-la de volta à casa.

Depois disso, fui irresponsavelmente colocar a vida de civis em risco, quando entrei no carro e conduzi bêbado para a mansão porque acredito que trabalhar pode ajudar-me a ficar lúcido e a distrair-me.

Idiota. Dormir parece também ser uma ideia. Minha consciência sugeriu.

Claro que seria. Se eu fosse o tipo de pessoa que dorme quando está estressado.

Quando cheguei as luzes estavam todas apagadas, não dei-me o trabalho de acender, mas fui até ao quarto onde a Madelyn dormia e notei que estava tudo arrumado, a mala dela que ficava no canto do quarto já não estava lá, o laptop que ela deixava sempre por cima da cama com o montão de papéis e lápis de carvão também não. Exatamente como eu mandei. Droga.

Fui até o escritório e ao invés de eu fazer o que eu realmente vim cá fazer, abri a gaveta da mesa secretária e tirei o porta retrato com a foto da Munich, que a tirei num piquenique que fizemos alguns meses antes do acidente, coloquei-o a minha frente, deitei a cabeça na mesa com os braços a apoiarem-me e limitei-me a olhar para ela.

Não muito tempo depois, ouvi movimentos lá fora e depois a porta de baixo a abrir e fechar, sem nunca acender as luzes, ouvi a pessoa a subir as escadas e depois a abrir a porta do escritório.

Quando subi os olhos dei de cara com o meu irmão não biológico, que riu-se desacreditado assim que me viu.

- Estás aqui enquanto podias muito bem esconder-te na tua penthouse perfeita?

Era uma pergunta retórica, por isso não lhe disse nada. Nem que não fosse uma pergunta retórica, eu não teria lhe respondido, não tenho vontade de falar nada, muito menos desse assunto.

- Então és mais burro do que eu pensava. - ele continuou. - Dá-me um motivo para eu não partir a tua cara agora. - ele ordenou.

É claro que ele ia ficar do lado da Munich.

Qualquer pessoa sã teria ficado do lado dela.

Sem nada a dizer, levantei-me com os braços no bolso das calças e parei a frente dele.

- Força. - eu disse-lhe - Mas fica a saber que eu já estou a castigar-me o suficiente para nós dois.
- OOOHH, NÃO ME DÊS ESSE PAPO DE MERDA. SE TU ACHAS QUE A MUNICH ESTAVA MORTA, ESPERA ATÉ A MADELYN TAMBÉM MORRER. Talvez o que tu precisas é de ver um caixão. Parabéns irmão, vais ver um muito brevemente.

Acho que eu estava mais envergonhado do que qualquer coisa, de abertamente saber que mandei a minha esposa indefesa voltar para o outro marido dela abusivo.

Hostage (A Refém)Where stories live. Discover now