4. Em apuros.

558 73 20
                                    

Jesse parecia um menino magoado e quieto preso no corpo de um homem arrogante e desconfiado. Ele não mostra muitas emoções, ele não fala a não ser que seja necessário e ele acha que tudo que saí da boca dele é ouro, que tem direito a última palavra e que é sem dúvidas o homem mais inteligente de qualquer sala em que ele entra.

Eu sou assim, no meu dia a dia, eu sou arrogante porque eu sei porquê eu estou no cargo em que estou e eu não tive que ajoelhar para ninguém para chegar onde estou, no entanto, não digo que me sinto ameaçada pelo Jesse, mas sinto sim que o gato morde-me a língua quando ele está por perto.

- Não vejo o porquê de me intimidar. - menti ao responder a sua pergunta inicial.

Jesse fez uma expressão de impressionado mas também de quem estava a dizer-me que dentro de pouco tempo posso vir a mudar de ideias.

- Isaiah disse-me que estavas preocupada com a tua ausência no trabalho durante os próximos trinta dias.
- Trinta dias? - quase gritei de espanto - Eu não vou ficar aqui trinta dias. - protestei mas o King não reagiu. - Ninguém falou-me de dias.
- Falaram-te de o quê ms. Wright? - ele questionou curioso.
- De nada. - estourei de nervos. - Ninguém me diz nada. Simplesmente dão-me ordens como se eu fizesse parte da porra da alcateia. Eu não sou uma de vocês, eu não tenho culpa que o meu marido decidiu limpar o cú de um de vocês. Eu não sou o Wes, nem a rapariga esquisita das facas, muito menos o teu irmão lunático.

Não sei o que realmente incomodou-me no que ele disse, se foi o facto de eu saber que estarei com ele e o resto da matilha durante trinta dias, sabendo que não tenho para onde ir, numa mansão com mais de quarenta seguranças lá fora que seguem ordens como drones. Ou se só sou eu a reagir ao medo que estou ligeiramente do que o Wesley pode pensar ou fazer com essa ideia de eu me ausentar por trinta dias. Ele não pode descarregar no Jesse, provavelmente vai sobrar para mim. Vai definitivamente sobrar para quando eu voltar.

Jesse encolheu os ombros e perguntou quem eu era, uma vez que mencionei que não sou o Wes, a rapariga esquisita ou o irmão dele lunático.

- Madelyn Wright. E isto que vocês estão a obrigar-me a fazer, vai contra todos os meus princípios.

No lugar de responder, Jesse escolheu fazer o que faz de melhor: calar-se.

Por baixo dos vários livros que estavam ali, Jesse puxou um que tinha a minha foto e várias folhas ligadas a ela.

- Isso é uma brochura sobre mim? - perguntei
- Tenho que saber com quem estou a dividir o teto.
- E que tal se perguntasses?
- Parece ser demasiado sobrevalorizado. Teu ficheiro diz que tiveste um acidente alguns anos atrás.
- Pensei que fôssemos falar das minhas preocupações de trabalho. - desviei o assunto dele mas ele optou por continuar a pressionar no botão.
- Ficaste em coma por três meses e ninguém veio procurar por ti? Incrível. - ele suspirou como se quisesse rir - Eu posso matar-te e ninguém vai querer saber. Parece que de lá para cá nada mudou não é?

Ele estava a procurar uma reação em mim e honestamente, não acho que me importo de não dar-lhe uma.

Mas a forma como ele estava a picar no assunto, é como se quisesse extrair algo sobre mim que ele já soubesse a resposta.

Se há um tópico que eu não abordo, é esse, especialmente porque não diz respeito a ninguém para além de mim. Foi meu acidente, foi minha perda.

Jesse continuou a falar no assunto como de fosse uma conversa para se ter a volta da fogueira.

- Podes parar com isso? - berrei para ele - Eu perdi a minha vida nesse acidente. A minha vida. E se tu queres fazer gracinhas ou sei lá, sinta-te à vontade.

Hostage (A Refém)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora