1. O isqueiro.

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- Dá próxima vez que tentares fugir, eu mato-te. - ele disse calmamente com a arma a apontar-me de forma descontraída enquanto eu asfixiava no meu sangue e procurava por fôlego.

Ele estava pouco se lixando se eu vivia ou morria. Pelo menos não agora, não enquanto está enfurecido, mais tarde ele compensa, com as rosas, o carro ou talvez um iate desta vez, nunca recebi um.

- Se tu pensares em apresentar queixa para seja lá quem for, tu morres. E a pessoa a quem contaste também. - ele continuou, mas agora estava a passear pelo quarto.

Zangou-se porque a saia que usei hoje era demasiado curta para o trabalho, diz que o fiz porque estou a procura de atenção de outros homens. Devo confessar que não foi pior que das outras vezes.

- Se pensares em provocar-me ou desobedecer-me outra vez, morres. Seja como for, as consequências dos teus actos, não são as melhores Madelyn.

Recolhi a pouca força que me restava e sentei-me no chão depois de limpar o meu lábio fraturado.

Ele deu uma volta pequena pelo quarto e quando parou, voltou a apontar-me a arma.

Ainda tenho medo.
Mas já me conformei que durmo na mesma cama que o meu assassino, não acho que exista maior medo; medo de fechar os olhos e não voltar a abri-los.
Eu tenho mais medo dele do que de qualquer outra coisa ou pessoa.

- Mas a quem é que estou a enganar. Não é? Tu não conheces ninguém, tu não tens ninguém. Não tens uma mãe, um pai, um irmão ou irmã, primos. - ele desatou-se a rir. - Maddie tu não tens ninguém, não tens ninguém para além de mim.
- Então ainda tenho a quem queixar. - cuspi o sangue que estava a incomodar-me dentro da boca. - Eu preciso que isto pare Wes. - choraminguei. - Por favor. Por favor.
- Obedece e tudo para. Tu sabes como isto é, tu sabes como eu sou. - ele coçou a cabeça com a arma - Se agisses mais como a minha mulher do que uma puta, nada disto teria acontecido. Então de quem é a culpa Maddie?
- Minha. - suspirei.

É culpa minha.
É culpa minha por ter um medo maior de sair do que de ficar.
É culpa minha por deixar a situação se alastrar, ele isolou-me e eu só percebi quando já era tarde e quando eu percebi que eu precisava de ajuda, ele era a única pessoa nos meus meus contactos.

Eu não consigo sair, sempre que tento, ele encontra-me, sempre que eu tento a porrada é pior que anterior...eu não consigo sair, é exatamente como ele disse uma vez: eu pertenço a ele e se ele não pode ter-me, ninguém mais pode.

***

O meu nome é Madelyn Wright Russell, sou estilista e dona de algumas fragrâncias. Gosto de seriados de médicos, de músicas alternative indie, de tudo que envolve frutos vermelhos: compota, cocktails, sorvetes...sou vítima de violência doméstica e tenho uma déficit de memória, que é conhecido por amnésia, que foi causado por um acidente que eu tive sete anos atrás. Não lembro de nada que aconteceu antes do acidente, de quem eu era, da minha idade, quem eram as minhas pessoas, nem do próprio acidente. E porque também ninguém sabia dizer quem eu era na altura, senti-me obrigada a criar uma nova identidade, a partir da tatuagem de iniciais que tenho no pulso: MW e passei a chamar-me Madelyn Wright.

Era suposto ser uma identidade temporária, até eu lembrar-me de quem eu era, mas nada nem ninguém lembrava-me da minha existência, passei a deduzir que talvez eu nem fosse desta cidade e esperei que a minha família viesse a minha procura mas ninguém veio.

Então comecei a minha vida do zero, sozinha. Com ajuda de grupos de apoio para pessoas como eu, aceitei que ninguém viria ao meu encontro e que não voltaria a lembrar de quem eu era e enquanto eu trabalhava, num dos meus empregos como servente, conheci o Wes, Wesley Tom Russell que tornou-se no meu cliente frequente que dava excelentes gorjetas e depois passou a ser o meu namorado, noivo e fechou como marido.

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