A alcançou em cheio, cortando sua barriga. Scarllet caiu no chão, colocando a mão sobre o recente machucado que, por sorte, não havia sido muito fundo. Barkley se jogou em cima dela, dando um sorriso tão sinistro quanto a gargalhada de minutos atrás. Ela sentiu o bafo, tão ruim quanto a dor que ela estava sentindo, a causando uma tremenda vontade de vomitar.

Ele segurou seu ombro, bem em cima do machucado aberto que ainda sangrava. Scarllet berrou quando ele a apertou, colocando o dedo dentro de seu ferimento. Ela se rebatia, em tentativas inúteis de se soltar de um homem três vezes mais forte. Ele repetia diversas vezes as mesmas ameaças, dizendo que iria matá-la.

Por um segundo, Scarllet acreditou que aquele era seu fim. Não tinha mais forças pra lutar, morreria ali, uma morte horrível, mas não tanto quanto a de Gally, Nick ou Chuck. Fez um último esforço, torcendo para que desse certo. Scarllet lançou a cabeça para frente, encontrando com a dele. Um movimento inesperado que fez Barkley cair para o lado com o susto. Ela se levantou, depositando chutes em Barkley. Utilizou o tempo que ele usou para se queixar da dor para pegar o bastão de metal.

Assim que Barkley se levantou, ela o lançou.

Tudo pareceu estar em câmera lenta. Scarllet usou toda a força que tinha. O bastão atravessou o ombro do Crank e ele urrou. Os olhos vermelhos sangue, transmitindo pura raiva. Ele bufava alto, uma respiração ofegante. Se não o matasse agora, quando Barkley conseguisse se recompor para revidar, seria seu fim, e os últimos minutos de sua vida seriam, com toda certeza, uma grande tortura.

Correu, torcendo para que a idéia que teve desse certo. Deu um pulo, esticando as pernas a frente e atingindo o peitoral de Barkley, uma incrível voadora que o jogou longe, com as costas de encontro ao chão. O impacto foi tão forte que a lança cravada em seu ombro saiu, caindo ao lado dele. Scarllet se levantou, depressa, gemendo de dor pelos machucados em seu corpo. Pegou a lança de novo, deu um berro, como um grito de guerra, e então, no segundo seguinte, a cravou no peito do Crank.

O sangue respingou para todo lado, manchando mais a blusa da garota. Barkley deu um sorriso sombrio, os dentes vermelhos com o líquido que saia do próprio corpo e tomava conta e toda sua boca. Scarllet fincou mais a estaca no peito do Crank, ele tremeu o corpo por alguns segundos até que finalmente parou. O braço caiu ao lado do corpo, os olhos fixados no mesmo lugar, sem nenhum sinal de vida.

Ela o matou.

Matou a primeira pessoa em toda sua vida. Matou de verdade.

Por alguns segundos sentiu um remorso, mal acreditando no que havia feito.

Ela não sabe o que vai ser de sua vida amanhã ou daqui a dez anos, ela não pensa nisso a muito tempo. Nunca foi importante. Não depois de tantas mortes. Não depois que ouviu o último suspiro de Nick, pedindo para que ela salvasse os seus amigos. Nada mais importava, nada além daquela promessa. Desde então, nunca mais parou para pensar no que queria fazer, em qual seria a melhor opção para si mesma ou em como seria o dia de amanhã. Só pensava em uma coisa, uma única coisa; em seus amigos.

Scarllet não tem muitos medos, não se importava se algum dia talvez morresse nas corridas pelo Labirinto, mas tinha medo de morrer antes de encontrar a saída. Precisava tirar todos dali e cumprir sua promessa.

Talvez, apenas talvez, ela tenha conseguido salva-los. Talvez, e apenas talvez, ela se sinta bem por ter cumprido a promessa a Nick. Talvez, apenas talvez, algum dia ela acredite que deixar a Clareira tenha mesmo sido a melhor opção, mesmo que no fim, só tivessem restado onze.

O tempo não cura tudo.

Não se pode depender do tempo para matar as coisas que te magoam, porque ele não fará isso. No fim, as coisas que o tempo não mata são as mesmas coisas que um dia vão te matar. Ela tentou - ainda tenta - esquecer. Perdoar não é e nunca será uma opção, mas quem sabe esquecer seja. Esquecer o vazio que ocupa um espaço imenso dentro do seu ser. O vazio que eles deixaram ao partirem. O vazio que nunca, nunca, será um lugar ocupado novamente. É como se a escuridão tivesse tomado conta dele e qualquer um que tentasse penetra-la caia naquele profundo poço, de onde nunca mais escapariam.

A Primeira - Maze RunnerWhere stories live. Discover now