— Como sabe que ele era seu irmão? – perguntou Aris.

— Eu me lembrei. Lembrei de muitas coisas.

— Então você se lembra da sua família? De todos eles?

— Lembro. E todos estão mortos.

— Será que podemos mudar de assunto? Está conversa está me deixando deprimido.

— Quanto vocês eram ao todo? Antes de fugirem.

— Quase cinquenta. Mas só trinta de nós aceitou fugir e só vinte sobreviveram. – Newt o respondeu.

— Por que acham que levaram a Teresa e deixaram a Scar? Quando me separaram das garotas disseram que era pra eu ter privacidade. Não tentaram fazer o mesmo com vocês?

— Tentaram. – Thomas afirmou.

— Eles tentaram levar a Scar, mas quando perceberam que nós não deixaríamos isso acontecer eles desistiram e só levaram a Teresa. Não conseguimos fazer nada, ficamos trancados. – explicou Minho.

A conversa durou por mais uma hora. Thomas foi o primeiro a deixar o quarto, indo dormir. Aris fez o mesmo minutos depois, voltando ao trio inicial, Scar, Newt e Minho.

O loiro continuava sentado no chão, com os braços sobre os joelhos. Minho estava deitado ao seu lado, com a cabeça encostada na pena de Scar, de olhos fechados. Scar deitou a cabeça no ombro de Newt, tentando manter os olhos abertos, em alerta. Aquilo era quase impossível. O lugar inteiro estava completamente silencioso e ela não fazia a mínima ideia se era dia ou noite. Seu relógio não funcionava mais e ela estava cansada de perguntar a hora para os garotos.

Scarllet colocou a mão no cabelo bagunçado de Minho, o arrumando apenas para um lado, coisa que o garoto nunca fazia. Não demorou muito para que ele pegasse no sono por completo com o cafuné de Scar. Agora, com toda certeza, Newt e ela eram os únicos acordados.

— Do que sente mais falta?

Ele perguntou, rompendo o silencio. Scarllet levantou a cabeça, virando-se para ele. Newt jogou a cabeça para trás, encostando-a na parede e fechando os olhos, exatamente como Scarllet costumava fazer. Assim como ela estava sonolento, mas talvez a ideia de que ele ainda tinha uma certa responsabilidade por todo os outros ainda assombrava sua cabeça, o obrigando a ficar acordado, como acontecia com Scarllet. Ela ficou o observando por mais alguns minutos, pensativa.

Newt e Minho são os únicos que restaram. Todo o resto morreu, os Clareanos Originais, a não ser por eles e Caçarola.

Mas, de qualquer forma, nem mesmo eles a podiam salvar, não mais, não agora. Scarllet é uma garota perdida, como o Peter Pan. Bom, talvez não como o Peter, ele não está tão perdido assim, está na Terra do Nunca, seu lar. Parando para pensar, a história dos dois não é tão diferente assim. Sem pais, fugindo sempre de um vilão, seja ele o Capitão Gancho ou o CRUEL junto de seus amigos. Os amigos... isso sim era diferente. Peter Pan com certeza não perdeu tantas pessoas assim.

— Scar? Por que está chorando?

Newt passou o polegar em sua bochecha, secando as lagrimas que molharam seu rosto.

— Desculpe se te magoei com essa pergunta.

— Não, não foi você. Não foi isso.

— No que estava pensando?

Sinto falta do início. – ela abaixou a cabeça, acariciando mais uma vez a cabeça de Minho. – Sinto falta de como éramos, Newt. Nós éramos... felizes. Eu queria poder ser assim de novo, voltar a ser como eu era antes de tudo isso. Antes da primeira morte. Uma vez, Alby disse que podemos transformar tudo em um aprendizado, algo para levarmos pro resto das nossas vidas. Sinceramente, não queria ter que aprender tantas vezes a mesma coisa. Não queria aprender a como me reerguer mais uma vez, se é que alguma vez eu consegui fazer isso. É tão cruel pensar que eles não estão mais aqui. É tão cruel pensar que todos morreram sem lembrar da sua família. É tão... cruel pensar que meu irmão morreu sem se lembrar de mim. Em uma coisa Alby estava certo; vou carregar isso comigo pro resto da minha vida. A dor, a memória, o luto, a raiva, as últimas palavras.

Scarllet fazia esforço para que seu choro não fizesse tanto barulho, mas aquilo estava começando a se tornar inevitável. Minho já havia acordado, completamente confuso. Ele fechou a porta, impedindo que o barulho chegasse no outro quarto. Sentou-se no lado de Scar mais uma vez, entrelaçando seus dedos nos dela e intercalando os olhares entre a garota e Newt, tentando entender o que estava acontecendo. O rosto de Newt demonstrava uma tristeza descomunal e a todo momento, ele parecia estar concentrando todas as suas forças em segurar o choro, imaginando que aquilo pudesse, pelo menos um pouco, confortar a amiga.

— Eu me lembro de todas elas. De cada uma. Eu coloco essas lembranças para dormir todos os dias, de manhã, de tarde, de noite. Não adianta. O silencio sempre as traz de volta. E então eu volto a viver aqueles dias, um de cada vez e fico me perguntando, e se? E se eles soubessem que todas as minhas noites são reservadas para eles? E se eles soubessem que tudo que eu faço é pensando que eles fariam o mesmo se estivessem aqui? E se eles soubessem que eu faria de tudo para tê-los de volta? E se eles pudessem voltar, eles voltariam? E se eles pudessem dizer um último adeus, uma despedida, o que eles diriam? Mas, se eles voltassem, se viessem se despedir, eles iriam embora de novo? Quanto tempo teríamos juntos antes que tudo se acabasse de uma vez, pela segunda vez?

Ela parou de falar, dando um longo suspiro para recuperar o folego. O choro havia se transformado em pouquíssimos soluços, que saiam durante algumas pausas.

O rosto de Scarllet estava vermelho e as lágrimas que caiam de seus olhos pareciam nunca mais ter fim. Newt se perguntou por quanto tempo ela guardou esses sentimentos. Minho se culpou por não ter percebido a sua tristeza antes.

Eles não disseram nada, não a interromperam, nem mesmo fizeram menção de querer dizer algo. Eles sabiam que tudo que precisavam era ouvi-la e no fim, a reconfortasse com um abraço. Nada que dissessem a faria se sentir melhor, era óbvio. Assim que recuperou seu folego, ela continuou.

— Se fosse preciso, eu caminharia por mil horas para vê-los por um minuto, mas eu teria tempo de dizer tudo? Tudo que está dentro de mim, tudo que eles levaram quando foram embora. Eu teria tempo para dizer ao Nick que eu nos tirei do Labirinto, que cumpri a nossa promessa? E se eu tivesse esse tempo, o que ele acharia quando descobrisse que só restou vinte de nós? Eu poderia dizer ao Alby que sinto muito por ter brigado com ele? Eu poderia dizer a Alby, obrigado por tudo? E se eu pudesse, o que ele diria? Eu teria tempo de fazer uma última pegadinha com Chuck? E se eu tivesse, como ele se sentiria quando descobrisse que não encontrei sua mãe no final das contas? Eu conseguiria dizer a Gally que ele é meu irmão? Eu teria tempo para me desculpar por não ter o salvado? E se eu conseguisse, o que ele pensaria de mim quando o tempo terminasse e eu desaparecesse? O que todos eles pesariam quando eu fosse embora?
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A Primeira - Maze RunnerWhere stories live. Discover now