A gravidez.

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—Tem alguém em casa? Você precisa ir para o hospital— disse desesperada, eu já tinha visto sangue dela o suficiente, logo logo ela ia precisar de uma transfusão.

—A mamãe está aqui, mas não chama ela, não quero assustar nossos pais— ela respondeu tranquila.

—Se você perdeu, precisa fazer exames, medicamentos, ultrassom...

—Não, Sam!— ela se sentou na cama— ele saiu de madrugada— a olhei confusa— eu acordei com um pouco de dor e fui ao banheiro, quando sentei no vaso senti algo saindo, parecia um caroço com sangue coagulado— fiz cara de nojo— achei que seria só aquilo, mas acordei agora e tinha mais sangue.

—Por isso você precisa ir ao hospital— não que eu me impostasse, por mim ela morria ali mesmo.

—Sam, o papai já está muito nervoso e estressado com essa situação toda, imagina se eu disser agora que eu perdi o bebê— ela se levantou e começou a tirar o pijama sujo— não quero deixar ele mal, e apesar de tudo, não quero que ele faça mal a você, porque a culpa disso é sua.

—Como você perder o bebê pode ser culpa minha?

—Estresse, nervosismo... tudo isso faz mal— que vaca do caramba— só me ajuda a limpar isso, de boca fechada, quando o papai estiver mais calmo eu conto.

—Eu não vou te ajudar em nada, estou cansada de você.

—E acha que eu não estou de você? Só seja útil pelo menos uma vez na vida e não diz nada— sai do quarto morrendo de ódio, agora tudo o que acontecia com aquela megera era culpa minha?
Ela bem que mereceu isso, e ainda foi pouco, mas para alguém que queria construir uma família com o Rafael, ela não me pareceu triste, muito menos preocupada.

Passei a manhã toda perturbada com essa história da Sarah, depois que se limpou, ela voltou a agir normalmente, ficou na sala assistindo série, hidratou o cabelo, e ria no telefone com alguma amiga, como se ela não tivesse acabado de perder o bebê, e pelo visto nem sua perna estava tão ferida assim, ela já andava sem ajuda nenhuma, apenas mancando um pouco.

Em certo momento, meu pai chegou em casa, quando ele passou pelo meu quarto e me olhou, eu fiquei esperando as palavras de ódio, mas ele não disse uma palavra, foi para o seu quarto e em seguida saiu de casa de novo.

Ao descer para almoçar, a cozinha estava vazia e a casa em total silêncio, Sarah não saia de seu quarto, e nem minha mãe do escritório trabalhando, fui a geladeira pegar comida para esquentar, quando Janaína passou do meu lado com sacos de lixo.
De relance eu vi em um dos sacos transparente uma mancha vermelha, e talvez por estar tão perturbada por ver tanto sangue da minha irmã em tão pouco tempo, eu me apavorei com aquilo.

—O que é?— perguntei alto e um pouco alterada, assustando a Janaína— desculpe Jana, não queria te assustar, me dá esse saco.

—O que você quer fazer com o lixo, Samantha?— ela perguntou rindo.

—Isso é sangue?— apontei para o saco.

—Acho que é tinta— ela olhou de perto, eu praticamente tomei da mão dela.
Peguei o saco pequeno, o abri e despejei todo seu conteúdo no chão, pelos objetos contidos lá era o lixo do quarto da Sarah. Logo vários vidrinhos com vestígios vermelhos caíram no chão— ai meu Deus, é sangue— agora quem estava apavorada era ela.

—Fica calma— peguei um dos recipientes olhando de perto, e a ficha foi caindo— aquela vaca!— peguei todos os vidrinhos com raiva, pronta para meter a mão na cara daquela falsa.

—O que foi, Sam?

—Nada não, Jana, é só tinta mesmo. Você pode juntar essa bagunça para mim?— disse para ela saindo da cozinha, correndo em direção as escadas.

A Irmã ExemplarWhere stories live. Discover now