16- O Primeiro Dia.

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— Não me olhe assim. – ela resmungou quando conseguiu controlar sua respiração. – Não entende, não é? Quem sou eu pra dizer algo? Nem mesmo sei quem eu sou!

 
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, pensativa. Após alguns minutos, se levantou, voltando a atenção para as caixas de suprimento enviadas. Havia comida, água, ferramentas e curativos em grande quantidade. Se perguntou para que de tudo aquilo se estava só, mas não deu muita atenção. Pegou um pano grande e grosso de dentro de uma das caixas, o esticando com força para descobrir sua resistência. Enrolou outros dois panos em cada ponta, esses um pouco menores, mas firmes. Seguiu para o bosque, procurando por árvores firmes e que ficassem próximas uma das outras. Assim que encontrou, enrolou cada lado em uma árvore e com cuidado, se sentou no meio, com medo de que sua gambiarra de rede não funcionasse. Respirou aliviada quando seu primeiro teste não resultou em um tombo. Dormiria ali naquela noite. Olhou para o céu azul se transformando em amarelo, sem nenhuma nuvem. Não havia sinais do Sol, por isso, imaginou que ele já tivesse sido coberto pelos muros.

  Os muros.

— O que será que tem atrás daquelas coisas?
  
Não teve tempo para descobrir a resposta de sua pergunta. A fome falou mais alto e a garota voltou para a caixa, fazendo um lanche saudável com um pão recheado de tomate e alface. Antes de comer foi atrás de algo para o cachorro, encontrando uma sacola de pano grande com ração o suficiente para um mês. Encheu um pote com ela, que logo foi devorado pelo labrador. Enquanto comia, sua mente era preenchida com cada vez mais perguntas sem respostas.

Por que não me lembro da minha família?
Quem me colocou aqui?
Por quanto tempo vão me deixar aqui?
Isso é uma prisão?
O que eu fiz?
Qual é o meu nome?

Ela deu a última mordida no pão, batendo as mãos uma na outra para tirar o farelo que restou. Uma mancha preta no meio de uma delas chamou sua atenção. A garota virou a palma da mão para si. Havia uma única palavra escrita com um hidrocor preto. Scarllet. Seus olhos se arregalaram e ela levantou com um pulo, abrindo um sorriso. Foi como se o baú que escondia suas memórias tivesse sido aberto. Teve certeza de que aquele era seu nome, de qualquer forma, isso não importou tanto quando uma vaga lembrança de um garoto alto e forte passou por sua mente. Não sabia quem ele era, muito menos o seu nome, nem conseguia ver seu rosto, mas teve certeza de uma coisa; aquele era seu irmão.

— Eu tenho um irmão. – murmurou. – Eu tenho um irmão! Ei, cachorro! Eu tenho um irmão, sabia? Mas... quem é ele?

 O chão sob seus pés tremeu e por um segundo ela achou estar no meio de um terremoto. Correu os olhos pelo lugar. Os muros estavam se mexendo. Não sabia como, nem o porquê, mas a abertura no meio deles se fechava lentamente. Scarllet paralisou, não fazia ideia do que acabara de acontecer. “O que?”, “Isso é impossível.”, “Como?”, “Que!?”, “Isso é totalmente contra as leis da física!”

 A primeira semana se passou. Scarllet não se atreveu a passar pelos muros e todas as noites se perguntava como eles se mexiam. Teve certeza de uma coisa durante esses dias; havia algo lá dentro e com certeza não era uma boa coisa. Com o tempo, passou a fingir que eles não existiam, mas algumas vezes se tornava difícil ignorar os barulhos estrondosos que vinham de lá. 

  Focou então em passar seus dias arrumando um lugar para dormir que não fosse uma rede desconfortável. Desistiu em algumas horas, quando percebeu que não sabia construir. Não fez nenhuma tentativa de fuga, por mais que tivesse pensado em várias dela, a não ser quando jogou uma pedra no buraco do elevador que considerou infinito, já que nunca ouviu a pedra chegar no fundo. Deu então um nome para a cabra, que constantemente a acordava com berros no pé de sua orelha, Clara.

— Vou te chamar de Clara. – a cabra tentou morder o pano da rede. – Ei! Não! – Scarllet lhe deu um leve empurrão, o suficiente para que ela desistisse. – Você tem um gramado inteiro só pra você, esqueça a minha cama! – ela se levantou. – Onde está esse cachorro? Tagarela!

O nome do labrador foi dado por ele ser incrivelmente quieto, a não ser nos horários em que queria algo.

— Onde você estava? – ela se agachou, acariciando o cachorro que soltou algo em cima de seus pés, que Scarllet pegou. – O que é isso?

Ela analisou o objeto em forma de animal. Um lagarto que não podia ser considerado de verdade, já que suas costas tinham letras verdes que formavam a palavra CRUEL, além dos olhos vermelhos e sem pupilas. Parecia muito com um robô. De repente ele se mexeu e com o susto, Scarllet o deixou cair. Tagarela latiu, correndo atrás do pequeno robô que iluminava o chão com um feixe de luz vermelha, vindo de seus olhos. “É com isso que me vigiam aqui.”, “CRUEL? Que nome ruim”. Um barulho alto ecoou por todo o lugar, um tipo de alarme. Scarllet se abaixou, tampando os ouvidos, mesmo assim, ainda podia ouvi-lo tocar. “Não é possível, eles leem pensamentos?”, “Que droga é essa!?”. Viu o labrador rodeando o buraco no chão onde ficava o elevador e imaginou que ele estivesse latindo por causa do movimento de sua boca, mas o alarme conseguia ser muito mais alto.
  
Correu até ele, ficando surpresa por ter chegado tão rápido. Um minuto se passou e finalmente, o silêncio voltou, restando apenas o ranger dos metais que vinha do elevador. “Está subindo”, pensou. Tinha razão, dessa vez, as portas de metais não abriram sozinhas. Scarllet as empurrou, revelando o elevador. Havia um garoto deitado dentro dele, desmaiado, de pele escura e com roupas amareladas.

Ela desceu com um pulo com o intuito de verificar se ele estava vivo, ao tocar em seu pulso, foi jogado para longe, batendo suas costas na grade de metal. O garoto saiu do elevador completamente assustado, perseguido por Tagarela. Scarllet não sabia se ele tinha mais medo do cachorro ou do que acabara de descobrir. Teve certeza de que o maior medo dele foi o que descobriu assim que os joelhos do garoto tocaram o chão e ele chorou alto. Ela se aproximou, com cuidado.

— Olá. – ele a olhou, assustado. – Sou Scarllet, pode me chamar de Scar. Bem-Vindo a... esse lugar.

— Onde estou?

— Um lugar nada bom. Vem comigo, vou te contar tudo que sei. – ela saiu andando. – Ah, se tentar algo, eu te mato.

   Scarllet tirou uma faca do bolso, lançando um sorriso.

— Me ajude a tirar as coisas do elevador antes que ele feche. Assim que terminarmos eu começo a história, é bem curta, a propósito.
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Está na hora de conhecerem um pouco sobre como a história de Scarllet começou...e como outras chegaram ao fim.

A Primeira - Maze RunnerDonde viven las historias. Descúbrelo ahora