6. Domingos São Dias Para se Passar Com a Família ou Para ir a Lavanderia

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Naomi Dawson



Abril, 2021.


Os domingos de primavera costumam ser tão lindos na cidade de Nova Iorque. Tem muita cor para onde quer que você olhe, muitos grafites nas paredes harmonizando mais a sua vista e pessoas felizes andando para lá e para cá.

Mas não eu, é claro.

Domingos se tornaram dias tediosos ou irritantes pelo simples fato de ser uma data importantíssima e sagrada para minha mãe.

— Domingos são dias para se passar com a família, minha querida. – põe o prato com bolo de carne e purê na minha frente, se abaixa na altura do meu ouvido e continua: – não para passar o dia todo vagabundeando num sofá e estragando seu corpo com porcarias. – dá tapinhas no meu ombro e reprimo a vontade de revirar os olhos.

Conheça minha querida e adorável mamãe, dona Morgana.

— E então, filha, como anda o curso de mandarim? – senta-se no seu lugar à ponta da mesa e pergunta para minha irmã.

— Ah, bem legal... É bem difícil, mas acho consigo pegar o jeito. – Moana responde num tom não muito animado, seu celular vibra sobre a mesa, mas mamãe não deixa que a gente mexa no celular enquanto come.

— Acha? Você tem que pegar o jeito, menina! Mandarim é a língua do futuro! A China vai passar esse país e se tornar a única superpotência existente. Você tem que estar preparada para isso, saber essa língua vai te abrir muitas portas. Você é mulher e negra, tem que se esforçar dez vezes mais, Moana. – diz calmamente cortando seu bolo de carne.

Moana faz mímica imitando nossa mãe com um ar zombeteiro e tento não rir quando minha mãe pega ela no flagra.

— Você me entendeu? E tira esse celular da mesa.

— Claro, mamãe, a senhora está certíssima. – força um sorriso e revira os olhos quando minha mãe volta sua atenção ao prato.

— E você, Naomi? – começou...

— O que tem eu? – me faço de desentendida saboreando a comida.

— Você já conseguiu algum emprego? Sabe que pode me pedir dinheiro emprestado, né? Sei que o aluguel por aquelas bandas não é muito barato, minha querida.

Claro, ela sempre envolve dinheiro nisso. A intenção é a das melhores, mas depois ela adora jogar na minha cara.

— Não, obrigada, eu consegui um trabalho sim. - ouço ela repousar os talheres no prato.

— Jura? Que bom, eu fico muito feliz! - pelo menos isso eu sei que é verdade, ela realmente almeja nosso sucesso. – Naquela revista chique no Upper East Side? Tem muitos partidos bons lá, quem sabe até o fim do ano você não esteja, no mínimo, namorando seu futuro marido. – suspiro e encaro ela sorrindo amarelo.

Let's Pretend? • AFIWhere stories live. Discover now