Vinte e Quatro

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Aviso: Esse capítulo contém cenas de violência e possível gatilho para ansiedade. Proceda com cuidado, boa leitura.

A ausência de Jiang Cheng era como agulhas espetando a parte de trás do cérebro de Lan XiChen. Ele não conseguia pensar direito quando essa pessoa estava longe dos seus olhos. Talvez, ele pensava, era algum trauma que restou daqueles dias no reino dos mortos, sozinho na ponte do desamparo, apenas com a voz chorosa de Jiang Cheng soando com promessas absurdas e enlouquecendo lentamente porque não conseguia se lembrar do rosto dele.

Completamente sozinho, no escuro, cercado por centenas de outras almas prateadas com luz parca, ouvindo Jiang Cheng chorar noite a dentro. Se esticando sem nunca alcançar essa pessoa, sem nunca poder silenciar seus soluços e acalmar sua dor ou dar vazão para a tristeza dele. Tudo isso o fez relutante em se afastar de Jiang Cheng nessas semanas desde o seu renascimento.

Checar as armadilhas poderia levar mais que um quarto de hora, o que ele poderia fazer além de ir atrás de Jiang Cheng? E se Jiang Cheng encontrou com Lan Wangji? Eles podem estar brigando agora mesmo. Tudo isso eram apenas motivos que Lan XiChen encontrou para remexer nas coisas de Jiang Cheng.

Não foi preciso procurar muito para encontrou sua espada, mas sua flauta não estava em lugar algum. Com um suspiro, Lan XiChen concluiu que deveria estar nas mangas de Jiang Cheng.

Seu marido bobo andava com seu instrumento e vestia suas roupas, mantendo um luto falso, embora Lan XiChen tenha concluído que carregar sua flauta por aí era apenas uma maneira dele se sentir mais íntimo. Tocando o hair pin que estava usando, ele sentiu que entendia muito bem os sentimentos do marido.

Esse hair pin é um presente que Lan XiChen ainda quer dar para Jiang Cheng, mas todos os dias seu marido enfeita seus cabelos com isso, como ele poderia recusar? Lan XiChen ainda estava sorrindo para o quanto bem seu casamento avançava. No começo, ele pensou que aqueles vinte dias poderiam dar uma boa impressão para Jiang Cheng, mas quase um ano já havia se passado desde então e apesar de estarem caminhando lentamente, eles ao menos estavam caminhando juntos.

Quando deixou o acampamento e entrou na trilha, Lan XiChen retirou a máscara, se sentindo um pouco mais como ele mesmo ao ter a luz filtrada do sol batendo no rosto. Seguindo o caminho que ele se lembrava de ter visto no mapa, Lan XiChen iniciou sua rota em direção ao primeiro marco das armadilhas.

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No início do mundo a alma do primeiro demônio foi partida em duas partes pontiagudas, em seu desespero para ser uma novamente ele teceu um fio das lágrimas prateadas da primeira mulher humana que caminhou sobre terra. Sofrendo de uma dor inimaginável, ele usou o fio trançado para costurar as duas partes de si, ainda assim, ele não estava completo porque seu fragmentado perdido de alma vagou por muitos anos e encontrou alguém que amava mais que a outra metade de si.

Essa alma gerou uma filha e essa filha, quando cresceu, se apaixonou pelos pedaços remendados que ficaram para trás. Os pedaços remendados que esfriaram lentamente através dos séculos finalmente puderam sentir o calor novamente. Por isso, quando os filhos e filhas desses pedaços gêmeos de alma nasceram, eles eram frios e nunca sentiam o calor em seus entes queridos, somente sua alma predestinada poderia lhe devolver esse tipo de sensação.

Uma vez encontradas e se o laço entre elas fosse reciprocamente firmados, então eles morreriam ao serem separados. Esse laço deixava uma marca profunda na pele, nos ossos e na própria alma.

Lin LuSe cresceu escutando esse tipo de coisa e ele não acreditava nelas, mas isso veio-lhe a mente num momento crucial. Enquanto ele estava desesperado para sobreviver, o pequeno demônio da ilusão agarrou-se a Wen Ning.

Lótus YunmengWhere stories live. Discover now