Lótus Yunmeng

Quatro

Como a febre tinha cedido o suficiente, no quarto dia, Lan XiChen finalmente abriu os olhos. Pontualmente, às 5h da manhã, ele se moveu na cama. Ao tentar esticar os braços, ele se deu conta que estava segurando as mãos junto com Jiang Cheng.

Numa breve recapitulação do que ele havia sonhado, não foi difícil para ele adivinhar que deveria ter se movido ou ainda falado enquanto não dominava sua consciência completamente. Ele se lembrou de ter chamado "A-Cheng" várias vezes até que fosse respondido.

Até onde podia lembrar, era uma resposta vaga, mas Jiang Cheng e ele haviam adormecido de mãos dadas, isso era a forma de um casal dormir? Era assim que Wangji dormia com Mestre Wei? Era confortável, exceto pela dormência nos dedos.

Lan XiChen observou a pessoa mais jovem. Seu rosto ficava relaxado ao dormir, sua boca se separava um pouco, parecia com uma criança e essa era a primeira vez que eles estavam dividindo a cama. Para ele, isso era um avanço, na velhice, eles poderiam estar deitados lado a lado, nenhum dos dois passaria frio por não ter família.

- A-Cheng é o mais bonito. Um bom menino, o melhor, eu agradeço. - Ele sentiu que deveria soltar as mãos depois de dizer isso, só que ele não queria e Jiang Cheng deveria ter ouvido seu pedido ontem... Se ouviu, não havia mal em segurar mais um pouco. - Conhecendo A-Cheng melhor por alguns dias, você teria me jogado da cama se não concordava em dar as mãos. Por isso, vou segurar mais um pouco.

Dar as mãos o deixou confortável, como se não estivesse mais sozinho. E ele não queria deixar isso ir embora, essa sensação gostosa nas pontas dos dedos.

Lan XiChen, então fez a coisa que não deveria, ele mentiu. Fechou os olhos e continuou fingindo que dormia até que Jiang Cheng acordasse, prolongando aquela sensação por mais uma hora inteira.

Jiang Cheng acordou tendo as mãos ainda seguradas com firmeza. A memória da noite ruim antes de cair no sono voltou com tudo, essa pessoa estava falando coisas desconexas e quentinhas.

Tão quentinhas que fizeram seu coração doer, principalmente porque ele sabia que não era verdade. Ninguém queria um futuro com ele e tudo bem, mas ainda assim, essa pessoa o chocou até a morte ontem.

Jiang Cheng tocou a testa e o pescoço de Lan XiChen, conferindo se a febre estava alta outra vez. Um suspiro de alívio escapou ao confirmar que não havia mais febre, só o suor fino de alguém que estivera queimando por muito tempo. Puxando a mão com cuidado, ele saiu da cama. Não queria que Lan XiChen acordasse e sentisse envergonhado de estar segurando-o.

Por volta de uma hora depois de haver se levantado, Jiang Cheng retornou ao quarto e ergueu o corpo de Lan XiChen, entornando um pouco de mingau entre os lábios pálidos.

- Zewu-jun, você precisa acordar em breve, como vou prestar contas para sua família? - Claro, isso não era a única coisa que estava perturbando-o. Era, principalmente, o medo de nunca poder retribuir. - Se você não acordar, então vou te deixar morrer, não gosto nada de alimentar pessoas grandes como se fossem crianças pequenas.

Ele se sentiu um pouco insolente, mas antes que pudesse voltar atrás nas suas palavras, Lan XiChen engasgou e tossiu. Seus olhos se abrindo rapidamente para encontrar um Jiang Cheng assustado. Acontece que Lan XiChen havia acordado quando ele entrou no quarto, mas não queria alarmar Jiang Cheng e tinha decidido que "acordaria" quando ele não estivesse mais lá.

Só que essa pessoa estava brava com ele, e não era do mesmo jeito que qualquer pessoa já estivera brava com ele. Isso era quase irreverente e Lan XiChen queria segurar a vontade de rir, mas acabou engasgando e tossindo pela força com que essa pessoa entornava o mingau.