Correr, chorar e gritar

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Stiles

Acordei assustado com o telefone do meu pai tocando na cabeceira da cama.

Sempre quando ele tira a noite de folga, dormimos juntos na cama dele. Solto o braço do meu pai e volto a dormi.

— Stiles... Sti... filho — ouço a voz do meu pai e tento abrir os olhos. — Levanta filho, Melissa ligou e precisamos ir ao hospital.

Levanto rápido com um sorriso, por saber que verei minha mãe de novo. No entanto, ver os olhos do meu pai avermelhados e marejados me fez desfazer o sorriso no mesmo instante.

— Pai? — Ele não falou uma palavra se quer. Apenas virou-se para mim, e começou a tirar meu pijama. Suas mãos estavam tremulas suadas. Pus minhas mãos sobre as dele e falei — Eu já tenho 11 anos sabia? Posso fazer isso sozinho — ele tira as mãos e vai para o andar de baixo.

Decido não tirar o pijama, só vestir um casaco vermelho por cima e por luvas.

O caminho para o hospital foi rápido. Meu pai não ligou para sinais vermelhos, setas ou para a velocidade. Sinto que há algo de errado, por ser a primeira vez que o vejo sair de casa só de pijama. O painel da viatura mostra que já são quase meia noite. Através do vidro do carro, o céu mostra algumas estrelas e uma lua minguante.

Meu pai pára a viatura de qualquer jeito no estacionamento e pega no meu braço andando a passos largos. Tenho que correr um pouco para acompanhá-lo. Entrando no hospital ele me coloca numa cadeira na ala de espera e se agacha na mesma altura do meu rosto.

— Stiles fique aqui, por favor — ele pede passando a mão no meu cabelo. Notei que seus olhos estavam bem mais vermelhos que antes.

— Mas pai...

— Por favor, Stiles — ele me corta, com um pouco de autoridade em sua voz e seu olhar foca no meu. Desvio os olhos para o chão e balanço a cabeça em afirmação — obrigado filho.

Depois que ele saiu, levantei a cabeça e olhei em volta. Exceto pela enfermeira tomando um café atrás do balcão, não havia mais ninguém na recepção. Fiquei pensando em quando iria ver minha mãe e por que meu pai não me levou para vê-la. Fazia algum tempo que ela havia entrado em um sono profundo. Meu pai disse que era chamado de coma. Os minutos estavam passando e minhas mãos já estavam começando a suar.

— Stiles! — olho para a direção da voz me chamando e avisto Scott segurando a mão da sua mãe, que ao contrario dele não estava sorrindo.

— Scott, faça companhia ao Stiles que eu vou ver o pai dele.

— Tá mãe — ele fala sentando do meu lado enquanto sua mãe vai à direção onde meu pai tinha ido. Ele da um bocejo bem grande e esfrega os olhos, seus cabelos negros mais bagunçados que o habitual. — Você sabe por que estamos aqui?

— Não... Sua mãe ligou para meu pai vir para cá. Pensei que fosse para visitar a mamãe.

Sinto uma pontada no peito, como se uma agulha tivesse sido enfiada em meu coração, e uma dor no estomago, como se o cara mais forte do colégio, tivesse me acetado por horas.

— Stiles? O que foi? — Scott fala saltando na minha frente.

Vejo dois caras de branco correrem para aonde meu pai e a mãe de Scott tinha ido.

— Esta doendo... — foi só o que eu consegui dizer. Tudo começou a se mover em câmera lenta.

— Stiles... Sti... Mãe — ouço Scott gritar, mas é como se o som estivesse em segundo plano. Abro a boca para falar, mas não há som algum — Sti o que foi cara?

Saí correndo na direção do quarto da minha mãe. Percebo vagamente Scott atrás de mim, chamando meu nome. Da porta do porta dela vejo varias pessoas. Ao entrar, assisto ao seu medico cobri-la com um pano por cima de sua cabeça e meu pai chorando agarrado a sua mão.

—Stiles... não... — meu pai percebe a minha presença e faz um gesto com o braço para que eu não veja, mas eu já entendi. Minha mãe... ela...

— Não... — grito e saiu correndo para longe do quarto. Minha visão já embaçada pelas lágrimas, faz com que eu esbarre em pessoas e objetos ate sair de dentro do hospital.

Correr, chorar e gritar era tudo o que eu fazia. Vou em direção ao estacionamento, e passo a cerca viva baixa, adentrando a reserva que cerca o hospital. A mesma em que eu acampei há algum tempo atrás quando criança. Antes de entrar na mata, sinto alguns pingos gelados de chuva. O céu cinza e triste, começava a despejar suas gotas doces nas folhas das árvores. A dor e o frio não cessavam. Sonhos foram arrancados num só golpe. Com esperança, meu coração diz que tudo aquilo é mentira. Anestesiado pela imensa dor, não consigo falar. Desobedientes, lágrimas insistem em não aceitar a voz do coração. Rosto avermelhado. Alma dilacerada.

Quando não aguento mais correr, me agacho no chão e ponho os meus joelhos perto do peito ,enlaçando as pernas com a mão e a cabeça entre os joelhos.

— Não... mamãe... — as lágrimas e a chuva tentava lavar minha alma que estava ficando cada vez mais dolorida. Tudo estava girando sem foco. Abro os olhos após alguns minutos, ou horas, não sei definir. Pude sentir que não havia mais chuva, mas sim um vento forte e gelado que passa pelo meu corpo molhado. Encolho-me mais tentando tirar essa sensação do meu corpo e olho em volta. A ultima coisa que vejo antes do meu corpo ceder à exaustão, foram luzes esverdeadas por toda a parte. — Va...galumes... pensei que... — as palavras saiam difíceis, minha garganta seca e dolorida. Deitei-me no chão molhado e fechei os olhos — os dessa floresta... não pudessem brilhar... — deixo a exaustão dominar meus sentidos e apago.

Sinto Por Você ISSO É Só Por Você ...Where stories live. Discover now