16.

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Aguardei alguns minutos, confiante de que logo Noah e a garota desceriam e eu poderia conversar com ele. Mas o garoto não reapareceu. Por uma hora. 

— Acho que vou voltar para casa. — gritei para minhas amigas, a fim de que a música alta da caixa de som não cobrisse minha voz.

Olhei para a poltrona, me irritando ao ver Joalin ainda sentada sobre o colo de Sabina, o casal aos beijos. Aparentemente, não tinham me ouvido. Quer saber? Foda-se.

Deixei a garrafa de água na mesinha de centro da sala, me apressando para fugir do apartamento. Grunhi de dor ao trombar meu ombro num peitoral musculoso. 

— Desculpe! 

— Sina ? — Marcel franziu as sobrancelhas. — Está bem? — revirei os olhos, rindo ironicamente.

Eu poderia ter esbarrado contra qualquer pessoa, mas não. Precisava ser, justamente, o idiota do meu ex-namorado. Que ótima noite, não? 

— Não poderia estar melhor. Obrigada. — atravessei a porta, indo até a escadaria do prédio.

Fui agarrada pelo braço antes de descer os degraus. 

— Obviamente está mentindo. — abri a boca, pronta para mandá-lo ir se foder. — Ainda te conheço, Sina. Sempre que está irritada, ou puta, tenta fugir de qualquer um que queira ajudar. — arqueou as sobrancelhas, sorrindo. — Como daquela vez que Betty Kawnsan colou na prova, mas quando foi chamada na diretoria, jogou a culpa em você. 

Bem lembrado. Eu odiava aquela garota com todas as minhas forças. No colégio, todos os adolescentes passam por um inferno. E Betty Kawnsan foi a responsável por transformar meu ensino médio num pandemônio. Era uma das pessoas mais populares e com mais dinheiro da cidade – até mesmo, do país. Seus pais eram donos de uma rede de hotéis com unidades por todos os Estados Unidos. 

Betty sempre estava envolvida em alguma confusão. Dava em cima dos professores, transava com o capitão do time de futebol na arquibancada, colava nas provas... Mas nunca era flagrada, por isso, se safava.

Até o dia que a professora de matemática viu o pequeno papel debaixo de seu estojo. Para o diretor, a filha da puta disse que eu tinha a cópia de todas as provas e compartilhava as respostas com os alunos que me pagassem dez dólares. 

Por que eu fui a sua vítima? Anos se passaram e eu ainda me pergunto a mesma coisa. Nunca conversamos. Nunca a confrontei, nunca nem dirigi uma palavra à ela. Provavelmente, me escolheu por eu ser uma pessoa introvertida e tímida – sem muitos amigos. E a pessoa mais estudiosa da turma, sem dúvidas. 

Como Betty vinha de uma família tão poderosa, o diretor não hesitou em comprar aquela história maldita. Fiquei de detenção por um mês, as provas do ano letivo foram alteradas e todos passaram a me odiar por ter fodido com o esquema. 

— Passei dias tentando te convencer a conversar comigo. Mas você era impossível. Se recusava a falar com seu próprio namorado. — deixei escapar um sorriso, sentindo nostalgia por uma época que eu adorava relembrar.

A convivência com minha avó, um colégio que me frustrava diariamente, mas onde as coisas eram muito mais fáceis do que atualmente... Eu guardaria boas lembranças de um namoro e uma amizade com Marcel também, se ele não tivesse destruído tudo meses depois.

— Sei que não está tudo bem. Então, me diga, como posso te ajudar? 

Ok, de fato, ele ainda me conhece perfeitamente. 

— Você não pode me ajudar, Marcel. A única coisa que pode fazer é me soltar e deixar que eu vá para casa. 

— Essa festa está um porre. Posso ir com você? — não. Definitivamente não. Nunca.

HANDS TO MYSELF - Noart Where stories live. Discover now