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A chuva forte encharcava a cinzenta Londres

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A chuva forte encharcava a cinzenta Londres. As calçadas inundadas por pessoas carregando enormes guarda-chuvas, esforçando-se para chegarem em suas residências o mais rápido possível, e então, se protegerem do temporal.

Assim como eu. Após um cansativo dia de trabalho, não via a hora de estar em casa e poder tomar um banho quentinho. Todo o meu corpo latejava. Como se não bastasse o estresse que passei na faculdade, mais cedo...

Atravessei a rua às pressas, alcançando a entrada do edifício. Sacudi o guarda-chuva – agora fechado – no hall, rezando para que o porteiro não reclamasse da poça de água que se formou no piso. O cumprimentei e subi o lance de escadas até o terceiro andar. Busquei pelo molho de chaves em minha bolsa carteiro, destrancando a porta.

Todo o ambiente estava iluminado. O cheiro que me invadiu pelas narinas era inconfundível. Massa italiana. Com certeza, Sabina preparava o jantar, na cozinha.

— Porra, até que enfim! — ela berrou logo que escorei no batente. — Fiquei preocupada. O tempo está feio, e pelo o que o jornal diz, vai piorar.

Sabina Hidalgo e eu éramos amigas a mais de dois anos. A conheci na faculdade, em meu primeiro dia de aula. Ela cursava o terceiro semestre de comunicação social, e ao encontrar uma alma perdida, decidiu ajudar. Meses depois, dividíamos o apartamento.

Não desgrudamos mais. Parecíamos gêmeas siamesas. Vamos para o campus ao amanhecer, nos separamos durante a tarde para trabalharmos – ela é secretária em um consultório médico – e retornarmos para casa em horários similares.

— Tive que arrumar o depósito. Aquilo estava uma bagunça! Mas Sonya, obviamente, queria tudo organizado.

— Por que não recusou? Seu trabalho não é esse.

Tipicamente, Sabina estava certa. Minha função não era organizar depósitos. Sou encarregada de atender as mesas e servir os clientes.

A cafeteria era bem perto de casa. Trabalhava de segunda a sexta, durante a tarde. Sorte a minha, a carga horária era curta – apenas seis horas por dia. Por isso, costumava chegar em casa antes de escurecer.

— Você sabe que não reclamo. — contanto que eu receba no final do mês, faço tudo o que minha chefe pedir. — O cheiro está ótimo.

— Estou fazendo nhoque. Vi num programa de culinária. Precisava tentar!

— Enquanto termina, vou tomar um banho.

Fui até meu quarto. Fechei as cortinas para não correr o risco de um maníaco me observar enquanto me despia.

O apartamento não era ruim. Espaçoso, um quarto para cada uma. A suíte foi ocupada por Sabina. Sempre que sua namorada – Joalin – nos visitava, elas passavam horas trancados no maldito quarto.

Iam da cama, para o chuveiro. Do chuveiro, para a cama. Graças a Deus, tínhamos outro banheiro. Em frente ao meu cômodo. Então, isso não era um problema.

HANDS TO MYSELF - Noart Onde as histórias ganham vida. Descobre agora