Capítulo 5

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Ava estava tendo um pesadelo que já não tinha há meses. O dia do acidente. Depois que seus pais faleceram e ela não pode viver o seu luto da forma que queria por ter que cuidar de seu irmão caçula, ela optou por se privar desse processo tão necessário após uma perda. E essa lembrança voltava a sua mente em forma de pesadelo, ela sempre se sentia culpada pelo o que aconteceu, ela não conseguia de forma alguma fazer esse peso desaparecer. Sempre que esse pesadelo a assombrava ela acordava assustada, suada, com o coração acelerado, como se estivesse naquele fatídico dia. Então para tirar essa sensação de seu corpo e afastar seu cérebro desse pensamento ela começava a bagunçar propositalmente seu quarto para depois arrumá-lo, era uma forma de escape que ela tinha.

Mais tarde naquele dia, ela resolveu deixar Ian na escola e de lá ir para o armazém.

- Se a Mabel não vier mais tarde talvez eu venha, tá bom? - Ela se abaixa um pouco pra ficar do tamanho dele.

- Tá bom. Ava, se o dia de hoje não for tão bom, a gente pode comer sorvete?

- E por que não seria bom?- ela fica preocupada.- Tá acontecendo alguma coisa na sua sala?

- É que tem uns meninos que ficam implicando comigo e a minha amiga, eles são muito chatos, as vezes me deixam com raiva, mas eu não faço nada.

- Você pode chamar a professora pra dar um jeito.

- Mas as vezes ela não ajuda e eles continuam, ai eles falam que eu sou um bobão.- ele fica emburrado.

- Não, você não é um bobão.- ela contém sua risada.- Você é muito esperto e o garoto mais corajoso que eu conheço! Vai saber fazer a coisa certa, mas, por favor, não se mete em confusão, conta pra professora, tá bom?

- Tá. - ele revira os olhos.

- Te vejo mais tarde.- eles se despedem trocando um cumprimento de soquinhos e depois fingem que ele explode.

No trajeto que Ava faz para chegar ao armazém encontrou Dante.

- Oi!- ela se apressa pra chegar até ele.

- Ah, oi, você veio hoje.- ele fica confuso.

- E por que não viria?- ela pergunta no mesmo tom.

- Gael pediu pra que eu abrisse hoje, ele não vai poder vir, vai ter que ir ao centro fazer algumas compras.

- Ah é, eu tinha me esquecido.

Nesses dias Gael costumava levar Ava, mas dessa vez ele se quer deixou mensagem a convidando.

- Acho que ele não quis falar nada pra gente cuidar do armazém e continuar passando as coisas pro Micah. - ela deu de ombros enquanto acompanhava o amigo.

- Deve ser... 

- Como vai a perna?- ela tenta desviar o assunto.

- Todo dia uma calibradinha. Mas é melhor não arriscar subir em escadas... Aquele dia que tive que viajar foi pra ver quanto custava a definitiva, e com absoluta certeza está fora do meu alcance.

- Que droga, sabe que se eu pudesse te ajudaria.

- Eu sei...

- Seu pai achou o tubarão?

- Com certeza aquele cretino deve ter nadado pra bem longe daqui, espero pelo menos que tenha valido a pena e que metade da minha canela tenha sido saborosa o suficiente pra ele não voltar mais.- Dante brincou e Ava acabou rindo respeitosamente.

- Tomara! - eles chegam no armazém e Dante deixa sua mochila com Ava pra que ele possa se abaixar e abrir o cadeado.

Assim que ele ergue o portão os dois sentem o cheiro de madeira das prateleiras, era um dos cheiros favoritos de Ava. Doce-seco-amadeirado.

Ainda Escuto VocêDonde viven las historias. Descúbrelo ahora