Foi notando o olhar de Flora que Henry virou-se em direção à mulher para lhe dar ordens.

— Morgana, espere-me lá fora, por favor. Ficarei bem sozinho.

Ela fez uma reverência e obediente se retirou. Já a princesa fechou os punhos de maneira involuntária, sem se dar conta de que ouvir aquele nome e associá-lo a tal mulher fez um sentimento estranho manifestar-se em seu peito.

— Dê-me alguns minutos, por favor. Prometo não te fazer mal — ele pediu em voz baixa, arriscando dar mais alguns passos até ela.

— Como eu já disse, não há nada a ser explicado, Henry.

— Eu estava bêbado — confessou. — Não tinha noção do mal que estava prestes a causar. Seu pai... Seu pai negou meu pedido e eu fiquei furioso por saber que estava prestes a perder a mulher da minha vida. Pensei que pudesse arrumar uma maneira... Na verdade, eu pensei que você desejava o mesmo e me surpreendi com sua recusa. Por favor, me perdoe, minha amada.

O estômago de Flora se embrulhou. A menção da noite anterior fez algumas péssimas lembranças retornarem e ela perdeu a fala. Deveria adiantar-se e dar um tapa na cara do homem diante de si, mas viu-se incapaz de mover um músculo. Estava petrificada de raiva e horror.

Henry tentaria algo mais. Munido de sua vaidade e orgulho, era incapaz de perceber a dispersão da afeição de Flora. Cria que sua crise momentânea estava mais ligada à moral e o desejo de “fazer as coisas certas”, fruto de sua ingenuidade, do que a falta de consideração com que ela o olhava naquele momento. Ele acreditava, em toda a sua presunção, que com uma investida profunda e romântica, faria a jovem não só o perdoar, como ansiar pelo enlace tão necessário para ele.

Porém, o socorro veio na presença de Fergie. O príncipe, percebendo a aproximação de Henry da irmã, engoliu todo seu ódio e desejo de esbofetear a cara daquele engomadinho, e, sabendo exatamente como as coisas correriam dali a pouco, assumiu uma postura descontraída, de quem não fazia ideia dos acontecimentos da noite anterior.

— Ah, Henry, como vai? Creio que teremos a honra de sua companhia para o desjejum. Aliás — ele continuou com um sorriso e ofereceu o braço para a irmã pálida e sem compreender a disposição do irmão em ser gentil com o príncipe de Goi —, estamos atrasados. Creio que a maioria dos nobres já ocuparam seus lugares à mesa.

E sem esperar uma resposta, sentindo a mão falha da princesa em seu braço, a carregou dali. Ele sabia que ela estava confusa, por isso, com apenas um olhar do qual ela conhecia muito bem, ele requisitou sua confiança e a conseguiu.

Quando entraram no grande salão, cuja extensa mesa já estava praticamente ocupada, a figura deles despertou grande admiração. A beleza singular da princesa fora imensamente discutida desde a noite anterior, e a maioria dos presentes se alegravam com a possibilidade de desfrutar da visão de sua alteza sendo conduzida pelo príncipe herdeiro até uma das cadeiras ao lado do rei. Flora notou, sem muito esforço, Philip ocupando um dos lugares de honra logo a sua frente.

O rei, embora ainda estivesse bastante agitado devido aos acontecimentos, alimentou sua vaidade por expor uma filha tão bela como um dia havia sido sua esposa. Estava também bastante satisfeito com o rumo em que as negociações haviam tomado, graças à princesa e sua mão oferecida a um importante homem de Or. Porém, quando percebeu que logo atrás de seus filho a imagem embelezada de Henry se desacatava, encheu-se de cólera e num rompante ergueu-se, forçando todo o salão a fazer silêncio.

— Meus queridos irmãos, companheiros e nobres aqui presentes — ele disse antes mesmo que sua filha estivesse completamente acomodada na cadeira destinada a ela. — Tenho a honra de ser pai de uma jovem tão bela como é minha Flora. — Ele nem sequer fez questão de olhar para a filha. Sua concentração estava no príncipe de Goi que alcançava um lugar mais distante do que esperava. — Virtuosa como ela é, preciso dizer que mal teve sua apresentação e eu concedi sua mão para um honroso cavalheiro. Aproveito essa pequena reunião para anunciar o noivado da princesa Flora Jasmin com Dom Philip de Baruch, de Or.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Where stories live. Discover now