Azriel moveu uma mão entre os fios macios do cabelo solto da fêmea, encostando a testa sobre o seu peito ele permitiu que ela chorasse. Não era a primeira vez que tal coisa acontecia desde que tudo ocorreu de forma tão... Destrutiva. E em todas as outras vezes ele apenas a abraçava junto de si até que ela voltasse a dormir tendo a certeza que ele ainda estava ali, e que não sairia por toda a eternidade. Azriel moveu os dedos entre os fios de cabelo, e Callyen suspirou quando o carinho veio de forma lenta, acalantando-a em seu colo.

— Outro sonho ruim, anjo? — a voz soou baixa e profunda, ainda sonolenta em meio a meia luz que vinha da lua cheia no céu noturno.  As sombras se moveram ao redor do quarto, inquietas e preocupadas. Outro soluço escapou pela garganta da fêmea quando ela balançou a cabeça em afirmação, as lágrimas ainda escorrendo, Azriel sentiu cada uma delas molhando em seu peito. — Quer falar sobre isso?

Um novo suspiro escapa sobre o peito esculpido, acima da cicatriz que ela havia deixado ali. Callyen não ergue a cabeça quando nega devagar. Ela não podia, não conseguiria contar sobre o maldito pesadelo onde ela tinha destruído todos a quem amava de forma tão cruel... que ela havia destruído ele novamente.

— Não consigo.. — a voz soou quebrada, baixa devido ao choro contido em sua garganta. Azriel moveu os dedos no couro cabeludo novamente, lentamente. As sombras circularam a redor dos fios soltos, ao redor de sua mão, no quarto. — Eu não.. não posso, Az. Eu não consigo..

— Anjo. — suspira, ambas as mãos descendo para as bochechas molhadas em lágrimas e então ele a fez erguer o rosto, a observa-lo. Callyen engoliu em seco com a potência do olhar sobre si. As orbes douradas profundas olhando-a como se pudesse ler dentro de sua alma, e a fêmea sabia que ele podia. Ele sempre pôde. — Escute.. não há ninguém que já tenha chegado onde você chegou. E não há ninguém mais forte do que você é. Você continua sempre me empurrando para ser o melhor de mim, e eu não acho que conseguiria sem você.. eu precisava de você, anjo. Eu desejei ter você desde o primeiro momento, porque você soava como a ausência do caos. Soava como a sensação de estar em casa. E você me ama... tão verdadeiramente e genuinamente que eu só posso querer ser digno disso todos os dias.

Silêncio ondulou no quarto, as palavras de Azriel descendo como um carinho aquecido por sua pele, fazendo-a tremer. Embora Callyen sentisse que pudesse quebrar a qualquer momento, o medo de perder o controle e todos aqueles sonhos, como malditos presságios, pudessem vir a se tornar realidade.

— Me distraía, Azriel. — sua voz soa ainda embargada. Os lábios tocando a pele bjs do peito esculpido do macho a sua frente enquanto ela se mantinha em seu colo. Azriel se calou ainda mais por alguns segundos... Pelas palavras, pelo toque suave da boca de sua parceira em sua pele.

— Tinha algo que... A minha mãe fazia, quando vinha me visitar. — ele diz, descendo os lábios sobre os cabelos, afundando o rosto para sorver o aroma. — Ela teria gostado de conhecê-la... E teria dito o que sempre me dizia..

Callyen ergueu o rosto novamente, o brilho melancólico das lembranças no olhar de Azriel aqueceu seu peito ao mesmo tempo que o apertou.

— Diga-me...

— Você é forte, pequeno guerreiro... — responde, os polegares arrastando sobre pele ainda úmida em suas bochechas. — E então ela cantava.

Callyen sorriu com a recordação de quando ela viu o momento por trás dos escudos, por trás da ponte. As semelhanças com a mulher que lhe dera a luz.

— Cante para mim, Shadowsinger...

As mãos de Azriel pararam o movimento sobre as costas da fêmea a sua frente. Um pedido simples, que teve seu efeito. Azriel riu depois de alguns segundos. O som de baixo ocupando o espaço escuro do quarto junto com as sombras, com seu cheiro. Ele inclinou a cabeça pensativo, observando a forma como Callyen apenas aguardou que ele acatasse seu pedido, apreciando a forma como ele sabia que faria qualquer coisa que ela quisesse mesmo que ele não cantasse a muito tempo.

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