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Como explicar os corações humanos? Como podemos entender os sentimentos conflitantes que assolam as mentes humanas? E fazem de seus corações cativos?

Nossos dois amantes de outrora, tem em seus pensamentos, lembranças conflitantes, memórias antigas, que julgavam estarem guardadas sob as águas profundas de um oceano chamado “esquecimento”, apenas para descobrir que tais águas eram mais rasas que um riacho sob o sol de um verão sem chuvas.

Taehyung, deitado em sua cama em um quarto ricamente ornado, porém vazio de recordações, se lembra... Ele lembra do sorriso do ômega ao acordar, com seus olhos suaves, sonolentos, a voz rouca e baixinha lhe dando bom dia, — ele se lembra de acordar sentindo os afagos suaves do outro, de seu cheiro de limão, suave, levemente ardente, e sente vontade de chorar. O tempo passou, no entanto, as feridas ainda estão vivas em seu coração, levemente cansado apesar da pouca idade, o cansaço de um coração partido, de um amor ao qual que se entregou e foi despedaçado. Na mente do alfa, lembranças de todos os momentos com Jeongguk formam uma dança, os beijos, os gestos, as palavras, os carinhos e a entrega. Fechando os olhos, ele relembra, relembra de como foi tocar o outro intimamente. De como Jeongguk se entregou a ele, dos beijos trocados, das mãos afobadas e levemente desastradas, dos gemidos suaves, Taehyung se lembra da maciez do mesmo, do cheiro de ambos se misturando, de como incrível estar em Jeongguk e Jeongguk estar em si.

O alfa lembra também da primeira briga, por um motivo banal, ao menos aos olhos de outras pessoas, para o casal havia sido o fim do mundo.

Taehyung havia cometido o erro de dizer que Tony Stark, já tivera seu tempo em Vingadores e sua morte havia sido para melhor, Jeongguk havia odiado as palavras do namorado, e dito ao mesmo que Steve não havia sido mais que um tapa buraco em toda série de filmes.

Havia sido o suficiente para que o casal, ficassem dias sem se falar, cada um remoendo as palavras do outro, em frente à televisão, com baldes de pipoca ou litros de sorvete.
Enlouquecendo a essa altura todos os amigos, que já não aguentavam ouvir o ômega chorando por seu TaeTae ter dito aquilo sobre o seu Starkinho. E o alfa então? Yoongi ameaçou jogá-lo da janela por mais de uma vez, quando tinha que aguentar o Kim choramingando cheio de ranho, sobre como seu Steve era maltratado pelo seu coelhinho.

Ah! Os jovens corações humanos, tão cheios de sentimentos, tão enérgicos na dor e tão bobos no amor. Não foram muitos dias separados, porém para o jovem casal, haviam parecido “eras”, e o reencontro foi regado a lágrimas, beijos molhados e promessas de nunca mais se magoarem assim. Se eles ao menos soubessem...

Nosso alfa, - nosso, pois espero eu, que em algum tempo no universo, alguém possa conhecer o que lhes conto, — permanece perdido em pensamentos. Em lembranças gentis de um tempo que lhe era sem fim. Enquanto o alfa se prepara para sair, ir comer algo, andar pelas ruas sem rumo, ele não imagina o que está por vir. Em umas das muitas curvas, o Kim encontra alguém, um amigo, ex quase amante, alguém que já foi, sem nunca ser. Park Bogum. E ambos ficaram contentes com o breve reencontro.

Para Taehyung, Bogum sempre havia sido um bom amigo, o ômega havia sido um ponto de equilíbrio na vida do alfa, quando este havia perdido o rumo por um tempo. Não haviam sido apaixonados um pelo outro, ou sequer sexualmente envolvidos, entretanto haviam tido bons momentos, cúmplices em uma amizade benéfica para ambos. E ambos se respeitavam de tal forma, que Taehyung havia sido padrinho de casamento do outro, e também havia sido convidado pelo marido do mesmo a ser padrinho do primeiro filho de ambos. Perdidos em uma animada conversa, após o Park ter convidado o Kim para almoçar e assim colocar a vida em dia, Taehyung se viu as portas de um restaurante, o nome lhe era familiar, mas ele não deu tanta atenção.

Talvez fosse melhor ter dado, ou não, o destino tem uma forma única de agir. Se o Kim soubesse de antemão, que aquele restaurante, pertencia à cadeia de negócios do amigo Seokjin, e que justamente naquele dia, Jeongguk, - seu ômega, amigo do outro, além de recentemente sócio e chef, — estaria ali, ele provavelmente teria dado meia volta e ido embora. Agora, no entanto, sentando de frente ao amigo, ele teve seu olhar cruzado com o outro, e novamente e mais uma vez em sempre, o mundo parou!

Não haviam mais pessoas conversando, talheres se chocando, nem o ir e vir de funcionários uniformizados, servindo comidas que mais pareciam criadas pelas mãos de fadas.

Havia somente ele e Jeongguk. Se olhando, se analisando. Lábios entreabertos, mãos trêmulas.

Jeongguk estava corado, Taehyung pálido. O alfa queria ir até o outro, tinha tanto a lhe dizer, a lhe perguntar, porém, não pôde. O olhar do ômega foi ao encontro do outro à mesa, que observava tudo curiosamente, e se virou, logo entrando no local que o Kim, julgava ser a cozinha. O restante do almoço foi cheio de silêncios, com o alfa perdido em pensamentos, e desejos, em questões sem fim, sem saber que em outro ambiente, o ômega também pensava em si, se perguntava se o outro estava ali com um amante, um marido...

E mesmo que aos olhos do Jeon, em nada o Kim lhe interessava, - exceto como pai de seu filho, algo que ele sabia que deveria esclarecer em breve, - não consegui evitar sentir o coração se magoar.

E foi assim, com ambos os corações pesados, que o Kim se despediu do amigo, logo na saída do restaurante, prometendo se verem em breve, e Jeongguk continuou trabalhando, criando seus pratos, decorando suas sobremesas, recordando de quando havia feito, ou tentado fazer isso por alguém, outra época.

Outro Jeongguk, não este de agora, um Jeongguk cheio de corações nos olhos, e não um coração ferido, e uma alma despedaçada.

Um Jeongguk plenamente feliz. Horas mais tarde, enquanto o Kim afoga suas mágoas e memórias em um copo de licor, observando a vista de sua sacada, alguns petiscos esquecidos na mesa ao lado, um Jeongguk cansado, acaba por colocarde colocar Minsoo para dormir.

Cheio de energia o filhote havia demorado a se cansar, e foi apenas depois de um banho, onde o Jeon poderia jurar que saiu mais molhado que o pequeno, e cerca de cinco histórias mais tarde, que o pai zeloso, o viu finalmente descansar.

Olhando o filho dormir, é impossível não lembrar de todos os sacrifícios no decorrer dos anos, da sensação de abandono, do abandono em si, da dor de ter sua família, lhe virando as costas, das horas não dormidas, das dores pelo corpo, pela ausência de Taehyung, a sensação de vazio, e as lágrimas que havia derramado. Porém, quando Minsoo lhe olhava, lhe sorria, lhe abraçando, era impossível não se encher de amor, de alegria, seu filho era tudo, era o único que ele precisava e que manteria.

Minsoo era seu mundo.

Fechando a porta do quartinho do mesmo, não totalmente, o ômega se encaminhou ao seu próprio, e após um banho não tão longo, secou-se e colocou apenas uma calça, e pegando mais uma vez sua caixa de lembranças, tirou de lá um livro, um dos muitos presentes que havia ganhado do alfa, um que não abria a longos anos, e como se segurasse o mundo em suas mãos, o abriu em uma página qualquer, sabendo que fosse qual página fosse, ainda doeria.

Era o livro “deles” o mesmo livro que Taehyung sempre pedia a si para ler, já que sabia que o Jeon amava os personagens. Respirando fundo, como se tomasse coragem, o ômega abriu os olhos e leu um parágrafo qualquer. E com o coração acelerado, apertado, os olhos rasos d'água, ele chorou.

“Quando realmente chegar o dia em que tenhamos que nos separar - ele disse ternamente, virando-se para olhar para mim -, se minhas últimas palavras não forem 'Eu a amo', você saberá que foi porque não tive tempo.”

— Diana Gabaldon

Unforgivable Love - TaekookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora