Noites Inacabadas

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Reprimi a mim mesma que não iria ter pesadelos esta noite, apenas essa noite eu pedi, a última coisa que eu queria era acordar atrasada para ir comprar os materiais no Beco Diagonal amanhã, mas eu não consigo controlar, qualquer coisa que isso seja, me persegue.

Desta vez era um tipo de sonho diferente, não era aquele mesmo lugar que levava ao pantano, ou até aquela mulher abatida, era muito mais complexo. Tudo começou sem nenhuma visão, apenas... escuridão. Com sussurros de vários tipos de pessoas, mulheres, homens, crianças e choros de recém nascidos, e eu mal conseguia ouvi-los, muito menos decifrar o que tentavam dizer, de repente os sussurros ficaram mais baixos quase inaudíveis, e aquela escuridão começou a se transformar em uma luz solar fortíssima na minha visão, entre aqueles sussurros tenebrosos, eu comecei a ouvir uma mulher cantarolar uma canção com a garganta, aquela voz parecia ser amigável mas ficava cada vez mais medonha e horripilante, sem nem alterar o tom. Eu conseguia ouvir tão bem aquela mulher cantarolando que parecia que ela estava grudada atrás de mim no pé de meus ouvidos.  

Genuinamente pensei que nada daquilo poderia piorar e logo após eu iria finalmente acordar desse pesadelo. Mas as vozes e a mulher continuavam ali, e acho que pulei da cama enquanto dormia, pois senti meu corpo dar um pequeno pulo na cama, porque levei um susto ainda no sonho, após ouvir o som de um salto alto batendo no solo com toda força ao caminhar, agora os sussurros, a mulher, e o salto alto que eu ouvia andar como se estivesse ao meu lado, estavam a me atormentando ao mesmo tempo.

    
     A cada passo o barulho do salto ficava mais e mais realista, a cada passo… eu finalmente estava começando a enxergar além daquela plana parede escura, eu comecei a ver os mesmos passos subindo uma escadaria de mármore, e qualquer pessoa que seja, estava se aproximando cada vez mais da voz que cantarolava a canção. Cada vez mais, eu comecei a avistar além dos sapatos, estava subindo e subindo, até eu ver as costas da mulher, que vestia um longo vestido negro de rendas, e tinha um coque elegante com os cabelos negros que mesclavam nas roupas sombrias. Mas era apenas isso, eu só via a parte de trás daquela mulher, mas sem o rosto, nada. Ela subiu a longa escadaria iluminada pelas altas janelas que eram invadidas pelo pôr do sol, e se aproximou de uma porta e a mão enrugada da mulher logo a abriu a maçaneta.

O que revelava atrás da porta era o mistério desse sonho, naquele cômodo claro, com três grandes janelas esculpidas e com as cortinas escancaradas, havia uma moça sentada no banco de um piano, sem tocar ele, apenas cantarolando desde o início. O que mais teria me chocado não era descobrir quem era a mulher por trás daquela voz, foi ver que ela era assustadoramente parecida comigo, tinha os mesmos cabelos negros e ondulados, olhos verde esmeralda, os mesmos traços,  aparentava ter uns 15/16 anos e vestido que parecia ser de poucos  anos atrás.

A garota encarou em câmera lenta para a mulher que vestia os saltos altos, em um olhar vazio e angustioso, se tornando a última cena que vi, depois desse pesadelo, apaguei no sono novamente, como se tudo aquilo… fosse inexistente

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A garota encarou em câmera lenta para a mulher que vestia os saltos altos, em um olhar vazio e angustioso, se tornando a última cena que vi, depois desse pesadelo, apaguei no sono novamente, como se tudo aquilo… fosse inexistente.


A Herdeira Perdida [Em Andamento]Where stories live. Discover now