Sempre Minha

69°

Cat: o carro do Relíquia acabou de entrar na favela bora- fala e todo mundo se despede de mim saindo de casa.

Não demora muito tempo e o Diego entra em casa que nem louco e vem na minha direção correndo todo apressado, ele me abraça, mas sabe aquele abraço cheio de necessidade, cheio de saudade, cheio de preocupação e cheio de carência? Então, foi esse o abraço que recebi do meu marido.

Eu: sentiu a minha falta?- pergunto e ele apenas confirma com a cabeça ainda abraçado comigo- cuidado aí que teu neném tá machucado- falo e ele apenas esconde os rosto na curva do meus pescoço
Relíquia: eles te machucaram muito? Fizeram algo com você contra a sua vontade? Vou pegar o remédio para tu, pera ae, melhor, vou chamar os teus médicos aqui- fala tudo de uma vez e eu dou risada negando com a cabeça
Eu: quero que tu vá tomar um banho e descanse vida, a sua mãe já veio aqui com a minha mãe e as meninas e me contaram que tu não teve um minuto de sossego- falo e ele nega com a cabeça
Relíquia: vamos subir, tu vai ficar deitadinha descansando enquanto eu chamo os médicos para tu- fala e me pega no colo me levando pro nosso quarto, ele me coloca deitadinha na cama e vai me dá um beijo na testa todo fofo mesmo- vai querer alguma coisa?- pergunta e eu nego com a cabeça
Eu: vai tomar o teu banho e vem deitar comigo, senti a sua falta pô- falo e ele vai pro banheiro, me ajeito na cama com uma leve dificuldade e quando eu tô quase dormindo o Relíquia sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura
Relíquia: teus médicos já estão vindo para cá para ver como tu ta- fala e eu confirmo com a cabeça
Eu: já disse que não precisa, eu passei no médico lá em Salvador Diego- falo e ele da de ombros
Relíquia: eu só vou sossegar quando ver os médicos te examinando e me dizendo aqui, pessoalmente, frente a frente, olho no olho, que tu tá bem- fala e eu nego com a cabeça rindo de leve.

Ele vai pro closet e não demora muito para ele voltar vestindo apenas uma calça de moletom, o cabelo molhado pingando no seu abdômen, a havaianas branca, sei lá, um charme na minha nada humilde opinião.

Relíquia: os seus médicos já estão chegando- fala parando na frente da cama com os braços cruzados na altura do peito e eu confirmo com a cabeça
Eu: amor- chamo e ele me olha atento- deita aqui comigo, por favor- peço e ele nega com a cabeça
Relíquia: só depois de tu fazer os teus exames- fala e eu faço careta.

[...]

Relíquia: só isso mesmo doutora?- pergunta enquanto ela examina a minha barriga
Dr. Suzana: eu ainda vou fazer uma coleta de sangue nela- fala e ele confirma com a cabeça.

Ela pega o material e faz a coleta do meu sangue, ela guarda na caixa térmica que ela trouxe e novamente examina a minha barriga atenta, ela confirma com a cabeça e anota algumas coisas num papel lá.

Dr. Suzana: é isso, o resultado eu mando amanhã pelo whatsapp dela, aqui está uma lista do que eu preciso que vocês comprem e ela vai fazer tudo amanhã assim que acordar- fala e o Relíquia apenas confirma com a cabeça
Relíquia: pode entregar para qualquer um dos vapores da contenção- fala e ela sai com as coisas dela e cabeça baixa, essa tem medo do Diego coitada!
Eu: viu?! Eu tô bem, não precisava de tudo isso- falo e ele nega com a cabeça se deitando do meu lado
Relíquia: a cara da doutora não era das melhores não Bianca- fala e eu dou de ombros
Eu: não é nada Diego, deve ser apenas um exame de rotina- falo deitando a cabeça no peito dele e ele nega com a cabeça
Relíquia: e se tu machucou alguma coisa aí dentro e não pode mais ter filho?- pergunta e eu dou risada
Eu: não Diego, com certeza não foi nada disso- falo e ele confirma com a cabeça
Relíquia: tu quer conversar sobre o que aconteceu lá?- pergunta e eu nego com a cabeça
Eu: não obrigada, estou muito bem assim- falo me encolhendo na minha, quietinha
Relíquia: eu sou teu marido pô, se abre comigo- fala e eu olho no fundo dos olhos deles
Eu: eu fiquei com medo, eu tive medo de morrer, eu simplesmente tive medo de morrer e não ter realizado nada do que eu sonho a anos Diego, eu tive medo de morrer e deixar a nossa história inacabada, eu tive medo de morrer e deixar meus pais desolados porquê eu sou filha única Diego, eu simplesmente tive medo de morrer e te deixar sozinho- falo tudo de uma vez- o que eles fizeram no meu corpo não chega nem perto dos danos que causaram na minha cabeça não Diego, esses cortes, esses machucados, esses roxos, não chegam nem perto das paranóias que tão aqui- falo apontando para a minha cabeça
Relíquia: isso é tudo culpa minha- fala e eu nego com a cabeça
Eu: não, não, não, a culpa não é sua, a culpa não é minha, a culpa é deles que não sossegaram até acabar com o nosso sossego, a culpa é deles que se aproximaram de nós dois com a intenção de fazer o mal- falo e ele nega com a cabeça
Relíquia: a culpa é minha Bianca, minha, será que você não tá vendo? Se eu não tivesse te mandado para a droga daquela ilha você estaria aqui em segurança esse tempo todo- fala e eu nego com a cabeça me sentando na cama
Eu: a gente nunca vai saber Diego, e se isso for apenas mais uma provação de Deus para nos mostrar que o nosso amor resiste a tudo- falo e ele nega com a cabeça levantando da cama
Relíquia: porra Bianca, meu sonho é ser pai, mas se eu não consigo nem te proteger imagina proteger uma criança indefesa- fala e anda de um lado para o outro passando a mão no cabelo- é tudo culpa minha sim, se eu não tivesse entrado pra essa vida ninguém estaria contra a gente agora- fala e eu nego com a cabeça
Eu: não mudaria em nada, só que eu provavelmente estaria morta, Diego isso não tem nada haver com o tráfico, com a favela e com o caralho a quatro, isso é de antes de ficarmos juntos, só a Bruna que eu conheci depois de já está namorando contigo- falo e ele senta na cama apoiando os cotovelos na perna e escondendo o rosto nas mãos, foi alí que eu vi o meu marido desabar em chorar que nem uma criança
Relíquia: não Bianca, é minha culpa, minha culpa- fala com a voz embargada e eu nego a cabeça indo o abraçar
Eu: não é amor, não é sua culpa- falo e ele nega com a cabeça- olha para mim Diego- mando e ele olha no fundo dos meus olhos- não é sua culpa, tá bom? Não é sua culpa, ou minha culpa, não somos os culpados de nada meu amor, de nada- falo e ele me abraça escondendo o rosto na curva do meu pescoço.