Os três irmãos

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Jena


A história dos trigêmeos era algo conhecido entre os lobos. Alguns conheciam através de Laican, alguns poucos chegaram até a conhecer a mãe deles, esse era o caso da velha que servia a matilha, e tinha ainda outros que tiveram a sorte de estar nesse lado do continente para acompanhar parte dessa história de perto e eu era uma dessas.

Quando fui trazida para esse lado do continente, Laican já era famoso entre a raça lupina, mas não era nada mais do que um integrante de uma das matilhas mais cruéis já conhecida e embora seu pai fosse o Alfa, Laican não tinha privilégios.

Os lobos podem ser rígidos em suas leis, mas também podem ser corruptos em sua liderança. Quando nascemos, um companheiro nos é destinado ainda no Nemeton, não temos escolha quanto a isso, uma vez o encontrando, amamos incondicionalmente, mas uma vez que percamos esse vínculo, podemos enlouquecer ao ponto de pedir para que nos tirem a vida para assim nos juntar a nosso companheiro na floresta espiritual.

Geralmente essa é a escolha óbvia, mas se formos covardes para isso, podemos seguir com a vida vazia e cheia de amargura e foi justamente essa a escolha do pai de Laican.

Em tempos idos e basicamente esquecidos houve uma guerra que se tornou um verdadeiro hecatombe para a raça lupina. Foi tão cruel e sanguinária que ficou conhecida como a Era obscura, uma época que fez com que muitas matilhas fossem extinguidas, clãs inteiros sumiram e levaram com eles conhecimentos milenares que até hoje muitas de nossas velhas bruxas não conseguiram recuperar. Essa foi uma guerra sobrenatural, que aconteceu somente entre os lobos.

Foi duro para os Licans, mais ainda para os clãs superiores que tiveram sua derrocada, sendo, vários deles varridos do mundo, alguns remanescentes ainda surgem aqui e ali e outros, acredita-se que vivem escondidos no mais profundo buraco do mundo.

Mas o clã de Kinag lutou bravamente, derrotando muitas matilhas que ousavam enfrentá-lo, com o tempo ele passou a ser temido, e seus feitos lhe trouxeram fama, mas também fez aumentar a rivalidade, tanto que passou a ser o alvo de basicamente todas as matilhas mais fortes.

Por um longo tempo ele lutou para proteger os seus, para proteger os lobos, pois nem mesmo os de nossa raça compreendiam o que estava acontecendo. Foi um tempo, de fato obscuro, matilhas inimigas aproveitando a confusão, atacavam na calada da noite, comiam o coração de seus inimigos mais poderosos e arrancavam a espinha de lobos jovens, mas com as mulheres eles foram além.

Não podendo comer o coração de uma loba que já tivesse a mandala do companheiro eles fizeram algo ainda pior, queimaram os corações para evitar que o ritual de luto fosse realizado. Um corpo sem coração é uma casca vazia, uma árvore não abriga apenas carne, ela abriga a parte humana levando o espírito do lobo, a ligação entre humano e divino é mantida através de suas raízes que ficam nesse mundo e seguem para o Nemeton, onde todos os lobos descansam para retornar ao escolhido quando o momento chegar, mas quando um coração é queimado, esse reencontro se torna impossível.

Nessa guerra Kinag foi um bravo herói de sua raça, até que em um grande embate de matilhas inimigas sua companheira teve a cabeça decepada e seu coração queimado. Isso o levou a uma loucura absurda e tudo virou um caos.

Ele passou a percorrer os territórios atacando seus iguais, não havia mais distinção, não havia amigos ou inimigos, apenas outros lobos para caçar.

Passou a odiar todos que não pertencessem a sua matilha. Tomou por esposa todas as lobas solteiras que encontrou. Não era mais um lobo descente, nem protegia suas amantes, ao contrário disso causava a elas todo tipo de humilhação e dores.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora