Dimitri

106 34 4
                                    

Eu seguia o rastro do lobo, ele não corria tanto quanto eu gostaria, mas estava rápido.

O recado havia chegado no fim da tarde. Eu estava ansioso. Alguma coisa devia ter acontecido para que me chamassem, mas rapaz parecia tranquilo quando falamos e isso me deixava mais curioso do que preocupado.

Fazia um tempo que eu não rondava a vila dos lobos, então não tinha ideia do que estava acontecendo lá.

Tinha passado vários dias enfurnado na biblioteca proibida em busca de respostas, de certezas.

Nicolae e Rael haviam dito sobre rumores de lobos que tentaram se livrar do laço forjado e tinham enlouquecido pela morte do companheiro.

Isso me desanimou completamente, mas então Rael comentou sobre a possibilidade de isso não acontecer com Jena porque ela já tinha encontrado o companheiro verdadeiro.

Mas era apenas uma possibilidade, nada certo, nada que me levasse a arriscar, então procurei em todos os papéis, livros, pergaminhos já esfarelando ao toque, domos enormes e diários antigos. Por fim eu tinha voltado ao início, tão distante de Jena como antes, pois não tinha encontrado nada que me desse alguma esperança.

Como último recurso procurei irmão Odair, o mais antigo dos sombrios. Irmão de meu pai, talvez ele soubesse algo que não estivesse escrito, mas tudo o que ele conseguiu foi me deixar ainda mais preocupado.

Houve a guerra Obscura, ele tinha dito, a guerra lupina trouxe muitos casos de loucura pela perda, era uma curiosidade também nossa, mas nenhum caso de laço forjado teve um final feliz.

E agora eu temia o pior. Talvez eu tivesse sido chamado porque Jena decidiu matar seu companheiro, e se fosse isso, eu precisava impedi-la.

Ficaria sem ela, mas não arriscaria que se destruísse.

Temeroso de que fosse um pedido de ajuda eu acelerei o passo, praguejei irritado com o lobo que me guiava.

Quando pensei que não mais suportaria, ele parou e farejou.

Logo tomou a direção que eu conhecia bem e isso me deixou ainda mais bravo.

Se ele tivesse me dito para ir até a vila dos Licans eu não precisaria tê-lo seguido, eu sabia a droga do caminho.

Mas então ele parou e Laican estava ali, o agradeceu e após um aceno, o lobo sumiu pela mata.

Fiquei um tempo tentando entender as nuances que desprendiam dele.

Seu cheiro estava diferente, ameno, não havia aquela intensidade da presença do lobo. Não cheirava como antes.

E ainda assim era uma forte presença.

— Folgo em saber que está de volta, irmão.

Estendi o braço e ele me cumprimentou ao modo guerreiro, coisa que só fazia com quem respeitava.

Dediquei essa cortesia ao fato de eu já ter participado de uma guerra, ou de ser o companheiro de Jena.

— Aconteceu algo com Jena?

Não queria ser apressado, mas nunca fui conhecido pela minha enorme paciência.

Ele me sondou por um tempo, seus olhos dourados me avaliando como se buscasse todos os requisitos necessários para que eu merecesse sua beta como companheira.

Por fim ele assentiu. — Fisicamente ela está bem, mas sua raiva está me deixando com hematomas no espírito.

Limpei a garganta vislumbrando rapidamente a lembrança da luta dele e Nicolae na floresta. Tinha visto na mente de meu irmão, não presenciei de fato porque, como sempre, eu estava dormindo.

— Certo. Você é famoso por irritar as pessoas com tramas complexas. Uma delas incluindo minha irmãzinha.

Ele riu sem demonstrar constrangimento.

— Ah nessa trama me superei, mas devo lembra-lo que paguei caro. Seu irmão cumpre suas promessas sem nenhuma consideração com a amizade.

Eu assenti, tranquilizado por ele estar rindo. Não parecia algo grave então, afinal Jena estar brava era praticamente normal, mas então seu semblante se fechou e ele me olhou, preocupado.

— Você precisa fazer o ritual para se ligar a ela. Precisa que ela o aceite como companheiro.

Não tive tempo nem mesmo de ficar surpreso. Havia uma tensão no ar, algo que meu olfato captou e não gostou.

Laican tinha falado sério. Não entendi direito, mas senti a bendita esperança brotar, ele sabia de algo.

Se meu coração pudesse acelerar ao ponto de explodir, teria acontecido agora.

Mas não ia cair nessa, precisava entender o que estava acontecendo.

— Não é como se eu fosse jogar Jena nos ombros, correr até em casa e forçá-la a alguma coisa, ela precisa tomar a iniciativa, não posso fazer nada antes disso, mas porquê? O que você sabe que não encontrei pesquisando naquela biblioteca infernal?

— Na verdade... — Laican me sondou por um momento. — Você vai precisar apenas de uma coisa para que tudo dê certo.

Pela cara dele desconfiei que era uma de suas tramas.

— E o que seria?

— Dizer a ela que não se importa de ter que dividir.

Apertei os olhos. — Só isso?

— Você se importa?

Pensei por um momento. Dividir... Eu não era tão idiota para não entender aquilo. — Não, eu não me importo. Se Jena ficar comigo e continuar o laço com o outro, não vou me importar.

Um sorriso lupino abriu nos lábios do supremo alfa.

— Era exatamente isso que eu queria ouvir, agora vou te dizer o que precisa fazer.

Quando ele começou a explicar, meu peito inflou de esperança. E no fim, quando compreendi, planos e mais planos começaram a se formar em minha mente.

Eu sabia que ele estava me usando, via pelo brilho em seu olhar que tinha mais coisas ali, mas não podia deixar de reconhecer o talento desse lobo para ardis e os resultados estavam a favor dele, então se funcionasse, ele que me usasse como peão em suas tramas. Afinal orgulho exagerado e honra não me ajudariam, mas as loucuras de Laican sim.

De manhã eu tinha uma mão cheia de nada, e agora eu tinha esperanças. Eu estava mais perto de Jena do que imaginei possível.

E agora, tê-la como companheira era algo que eu não precisava temer e sim correr atrás, como todo sombrio faz. Esperando ela tomar a iniciativa.

Claro, eu não ia mudar isso, mas havia uma diferença na minha espera, eu tinha a meu favor as tramas do Supremo Alfa e um dom...

__________

Mais um trechinho. Aproveitar enquanto estou com tempo U.U

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Where stories live. Discover now