Laican

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Havia um amargor constante em minha boca. Por um ínfimo de tempo eu tive um vislumbre de como seria a felicidade em estar com Celina sem nenhuma pedra do passado para atrapalhar nosso caminho.

Depois de a levar pela floresta e rir com seus gritos, eu e meu lobo diminuímos o passo para que ela pudesse apreciar de verdade o passeio.

Embora a alegria tivesse enchido meu peito eu sabia que nenhum grilo trinaria em sintonia com o pio do mesmo pássaro viajante, nem o sol estaria brilhando da mesma maneira deixando um mormaço que atenuaria de forma agradável com a brisa constante.

Era um momento único, e que tinha sido apreciado por nós três, ela meu lobo e eu.

Mas não durou como deveria. Não havia tempo para tanto. Infelizmente o tempo que eu deveria estar passando com ela teria que usar para preparar tudo para mantê-la protegida. Por isso tive que voltar logo a vila.

E quando desceu ela abraçou meu lobo como se fosse um bom animalzinho. O que claro, não nos ofendeu. Meu lobo se sentia pleno e eu inebriado.

Víamos um brilho de alegria genuíno nos olhos de Celi e isso pelo menos me confortou um pouco.

Fora algo rápido, um momento diáfano, mas que deixaria uma lembrança sólida e pungente.

Depois de deixar uma Celina risonha na morada de Jena, segui para o ponto de encontro. Ainda havia muito a se fazer.

— Laican... Vamos lutar, por favor. _ Cristian continuava insistindo, mesmo de longe, ainda não aceitava minha ordem.

— Não posso. Se eu não seguir as regras, Organda terá o que quer, um show.

— Se ela ferir Celina...

— Não vou permitir. Confie em mim.

Antes que ele pudesse responder fechei a mente para ele. Eu o entendia, de verdade entendia, mas havia regras e tradições milenares em nossa raça que nem mesmo o mais poderoso lobo podia quebrar.

As regras regidas pela lua, pela terra e pela honra.

Se Celina estivesse forte somente com a lunação da Huanag ela teria desenvolvido sua loba normalmente, e com o treinamento correto ela conseguiria pular essa etapa.

Mas infelizmente sua loba não tinha conseguido encontrar o caminho, ela não conseguiria trazer a loba à tona sem a iniciação parental. E esse era um direito da fêmea da família. Se minha mãe estivesse viva...

Mas não estava e eu não podia me comiserar por isso.

Eu poderia impor minha vontade, fazer com que Celi fosse iniciada pela velha de nossa matilha, mas toda e qualquer atitude minha iria refletir no respeito que minha companheira ia receber no futuro.

Era por ela que eu estava fazendo isso, porque ela merecia isso, e eu devia fazer as coisas da maneira correta.

Organda conhecia as leis. Sabia muito bem como me deixar de mãos atadas.

Celina estava com Briana e Pria. A pedido de Jena elas não desgrudavam de Celi um minuto, mas agora diferentemente de antes, mesmo que estivessem rindo, apenas Celina sentia alegria. Briana e Pria estavam tensas como cordas, aguardando assim como eu a chegada de minha irmã.

A única coisa que deixava Celina sem perceber o que estava acontecendo eram os anos de treinamento dessas duas.

— Tem certeza que vai por esse caminho, meu supremo?

Era Capeto, meu beta dos lobos da terra. Eu aguardava sua visita, e sua súbita aparição sem se fazer notar fazia jus a sua fama.

— Siga como foi instruído. Seu papel nessa história será o mais importante. Conto com vocês para que tudo dê certo.

— Não iremos decepcioná-lo.

Ele sempre tinha sido fiel, embora tivesse feito atrocidades por ordem de meu pai, também as fazia por mim. Meu clã, composto por tão poucos lobos não era nem considerado por outras matilhas maiores, mas era graças a eles que eu poderia ter esperanças de terminar esse pesadelo.

A força deles e a habilidade de esconder seus pensamentos mesmo estando ligados a outra matilha, era o que os definia como elite. Eles não eram lobos desgarrados, serviam a uma matilha, a um alfa, porém sua verdadeira devoção ao supremo alfa e isso tinha ajudado muito para que vivêssemos em paz. Ser atacado de surpresa com tão bons guardiões era impossível, mas mesmo isso não ajudaria a evitar as amargas regras dos Licans.

— Peço desculpas por tudo o que vai passar. — Ele falou, sabendo que não seria fácil para mim. Sempre me pesava na consciência usar os meus para um fim. Mas eu não poderia culpá-lo por nada que viesse a acontecer a partir daqui.

— Não pode pedir desculpas por obedecer a uma ordem.

Os olhos vermelhos dele brilhavam de desgosto, mas ele assentiu. — Ainda assim...

— Não importa o que eu vou sentir, é uma consequência do plano. Agora vá.

Sem dizer mais nada ele se afastou, logo um lobo branco e enorme surgiu. Antes de partir ele me olhou mais uma vez, os olhos vermelhos brilhantes me encarando, parecia um fantasma, uma aparição que me pedia desculpas com o olhar.

Assenti como uma forma de incitá-lo a ir embora. Eu precisava ficar só.

Logo sem um único ruído ele tinha partido e eu estava sozinho para poder sentir pena de mim mesmo.

Organda a tiraria de mim justo quando estávamos nos acertando, quando o laço entre nós estava ficando mais forte.

Mas era necessário. Para tê-la de volta eu precisaria perdê-la.

Mais uma vez...

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Oi gente, desculpem a demora, mas aí está um capítulo, mesmo que curtinho.

Olha, quero agradecer de coração cada comentário. Eu não consigo mais interagir como antes, infelizmente, mas leio todos e muitas vezes fico inspirada. Obrigada viu. Pela força. Continuem me dizendo o que estão achando.

Estou deixando os personagens seguirem o próprio caminho. Deixar a história seguir e ver no que dá, planejar não combina comigo, já percebi isso as duras penas. Então vamos lá, pois está sendo uma aventura até para mim, e também um meio de tirar esse bloqueio literário que durou tanto tempo.

Beijos :*

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora