Primeiros dias

817 128 29
                                    

Tratamento

— Beba isso... Ótimo, mais um pouco... Boa garota.

— Acha que é só isso, um vício? Então ela já podia ter voltado há muito? Malditos humanos! Segure ela Cristian, ela vai se machucar.

— Não se preocupe Jena. Não vou deixar que se fira, ela está assim porque sente falta da mistura.

— A velha avisou que isso aconteceria, mas Cristian, pela mãe Terra, já faz três dias...

Laican

Acordei com as vozes novamente. Meu corpo todo tremia, queimava de uma forma brutal. Estava lutando contra o veneno, o expelindo com a força máxima de meu desespero. Eu precisava voltar antes que Celina fosse submetida ao ritual da lua. Eles não podiam fazer isso com ela.

Eu tentei gritar a ordem para deixarem ela em paz. Rosnar um comando que com certeza seria entendido, mas nada saiu como eu queria. Meus resmungos saíram desconexos. Meu rosnado não passou de um ganido falho.

— Laican? — Cristian chamou e eu tentei respondê-lo, mas como sempre, fui solapado pelo cansaço de tentar.

— Laican me desculpe irmão, eu o sinto perto, mas não consigo entender o que quer dizer, sua mente está uma bagunça. Diga-nos o que fazer. Não temos muito tempo, a lua sangrenta será daqui uma semana.

Uma semana? Celi ia passar por sua primeira lua e eu começava a perder a esperança de que conseguiria estar curado para acompanhar isso. A tristeza e a derrota começavam a me tomar, e o peso de minha liderança nunca pareceu tão difícil de suportar, tantos dependiam de mim e quanto mais tempo eu ficasse assim, mais chances do rumor se espalhar e então todos os lobos que estavam sobre minha proteção ficariam em perigo.

Mesmo Cristian e Jena sendo fortes e tendo suas matilhas prontas para um combate, eles não seriam páreos para os remanescentes de meu clã do lado paterno.

— Você não conhece a si mesmo? — Meu lobo rosnou e deixei de ouvir as vozes, eu estava novamente do outro lado. Porém, meu lobo falava comigo, ele também sofria, ainda estava distante, mas estava me caçando.

— Responda. Tanto tempo juntos e você não se conhece?

Maldição. Tanta coisa acontecendo e o sarnento do meu lobo ainda vinha com incógnitas.

— Vamos perdê-la por sua culpa. Fraco.

O que eu faço? Eu não conseguia pensar claramente nem mesmo aqui. Como encontrar uma solução para sair desse martírio?

Supremo Alfa... Supremo...

Isso tinha significado. Só eu tinha a marca do divino, isso tinha um fundamento, um motivo.

A marca em minha testa era minha herança, o acúmulo da magia de meu clã. Mas como ativá-lo eu ainda não sabia. E seria arriscado, se a marca sumisse, todos ficariam em perigo. Meu clã, meu extinto clã era um mistério para nós, os únicos sobreviventes, mas...

— Juntos... Poderemos senti-la, e eu poderei chegar mais perto.

Sim, era isso. Meu lobo estava certo, eu só conseguiria saber de algo, mesmo que fosse uma ínfima informação, se permitisse que ele tomasse conta de meu corpo. Não era eu que deveria usar o símbolo, ele que podia ativá-lo.

E assim parei de correr, parei de tentar e fechei os olhos, se não conseguíamos força para objetar sobre as decisões de Jena e Cristian, tínhamos que pelo menos facilitar as coisas para Celi, mas para dar certo, toda a força tinha que se acumular no lobo, para ele poder vencer a distância e chegar ao blót, uma vez lá, ele poderia chamar por ela, ou mesmo ser ouvido por ela.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Where stories live. Discover now