Tratado dos Párias - Supremo Alfa.

Reunião- parte 3

Jena

Laican era temido e isso garantia um singelo respeito entre as matilhas e a paz entre as raças, era justamente por isso que havia essa tensão, por causa do perigo não só para os lobos ou os sombrios, mas para os humanos que não sobreviveriam, uma vez que tudo o que possuíam para se defender eram os metais cobrindo o corpo e armas de mão.

Se acontecesse um ataque dos lobos ao reino Humanis, era uma amarga certeza que seriam derrotados. Com corpos tão frágeis e movimentos tão lentos eles não seriam capazes de vencer um embate entre sobrenaturais, no entanto eu me conhecia o suficiente para saber que mesmo odiando mais da metade dos humanos e suportando uma quantia ainda menor, não ficaria de fora disso. Amélia, aquela humana cheia de pudores com roupas e nenhuma vergonha de pedir coisas para os amigos, havia se tornado uma pessoa cara para mim e seria por causa dela e por mais um ou dois que eu lutaria pelos humanos até perder a vida ou vencer a guerra.

Após um silêncio curto Rael tinha mudado sua postura, passou a andar de um lado a outro como se tivesse concentrado em algum debate importante, Nicolae tinha a postura rígida na poltrona, parecia contrafeito com o curso da conversa mental com o irmão, pois mexia a cabeça singelamente ora em concordância, ora em negação.

Logo, como se tivessem chegado a um acordo Rael voltou sua atenção a nós. Olhou para Cristian e pediu com a voz um pouco mais animada.

— Conte novamente como aconteceu. Com detalhes dessa vez, agora temos tempo para focar nisso visto que já decidimos sobre a segurança de Laican.

Cristian não era muito de falar, nunca foi, mas agora o fazia com desenvoltura porque era importante.

— Laican não estava transformado quando entrou na frente de Celina para protegê-la, acredito que esse foi o motivo de ter sucumbido tão rápido.

Rael ouvia atentamente. Assentiu e incentivou Cristian a continuar. — Então, depois que vocês tiraram os dois do castelo, começaram a sentir a presença do lobo dele...

Cristian negou. — Foi estranho, não aconteceu imediatamente, era como se o lobo tivesse tentando assumir, mas Laican continuou na forma humana, ele sempre foi forte e conseguiu controlar seu lobo com maestria, por isso, ficou semiacordado enquanto corríamos pela floresta. Mas o sentimento de perda foi sentido de maneira gradativa durante o percurso. O lobo queria assumir, mas acredito que Laican não permitiu por causa de Celina.

Celeste que segurava a mão de Cristian e ouvia atentamente completou com um sorriso orgulhoso. — Ele murmurou o nome dela o tempo todo.

Pude ver um sorriso enigmático surgir no rosto sisudo do supremo dos sombrios. — Isso é algo comum, mas me diga. Quando Organda apareceu?

Cristian fechou os olhos e soltou o ar devagar, era nítido que essa parte o deixava imensamente irritado.

— Ela não apareceu, não de verdade, mas a sentimos perto, seu cheiro vinha da caverna onde a menina Diana foi levada quando... — Ele olhou para Nicolae. — Ela foi leiloada e nós a compramos. Sinto muito por isso. Laican foi errado em usar seu caçador para resolver os problemas dos lobos. Devia ter lhe entregado Diana sem usá-la para garantir sua ajuda.

Nicolae não mudou o semblante ao ser lembrado de que foi usado por Laican no maior descaramento.

— Não sinta, foi por causa das tramas de Laican que agora ela está ao meu lado. Comprá-la naquele leilão salvou a vida dela e serei grato por toda a eternidade.

Cristian assentiu, seus olhos prateados brilharam de compreensão. Ele entendia o que Nicolae sentia porque ele mesmo estava carregado desse sentimento por sua companheira Celeste, eu por outro lado, estava achando essa conversa sentimental cansativa. Queria resultados e ver a paixão no olhar dos dois por suas amadas me fazia lembrar que o companheiro destinado a mim dormia em um caixão na câmara ao lado. Eu podia ver o caixão se me virasse, mas não o fiz nenhuma vez. Mesmo que sentisse essa vontade me corroendo desde que cheguei.