Nós somos resumidamente um saco de ossos com carne fresca e uma mente pensante, formados por uma junção de problemas sem soluções que anseiam por serem resolvidos. E assim se tem início a nossa saga, cada indivíduo busca incessantemente a resolução dos seus problemas, todos os dias a todo tempo.
Meus problemas são infinitos e estão por toda parte, se fazem presente na minha vida a todo segundo. Minha motivação diária é resolve-los, é dar o melhor de mim para que consecutivamente eles sejam resolvidos para que novos possam aparecer no lugar.
Respiro fundo enquanto dou um longo gole no café amargo que pedi em uma padaria qualquer no centro da cidade. Olho para o lado de fora através do vidro que se alastra por toda a frente do estabelecimento permitindo que vejamos com clareza o que acontece na rua. Dou uma soprada no líquido quente e preto presente na xícara antes de dar mais um gole.
As últimas duas semanas foram incríveis e desafiadoras na mesma proporção, eu e Lorena conseguimos ficar ainda mais próximos, mas isso vem trazendo incontáveis consequências dentro de mim. Lidar com o que sinto pela garota e com tudo que há na minha vida externa está se tornando cada vez mais difícil, quando se trata da morena pareço estar em um universo paralelo no qual só existe nós dois, a luxúria e o amor, em contrapartida quando a realidade volta a bater em minha porta tudo se esvai.
A minha vida é muito mais do que tenho com a Lorena, mas ultimamente não tem sido assim. Nossa relação tem influenciado diretamente em tudo que há no meu cotidiano, não consigo mais manter o equilíbrio e sinto que a qualquer momento cairei.
O mais sensato agora seria eu me afastar da garota, mas isso está longe de ser uma opção. Ficar longe dela não é uma possibilidade para mim e se pra estar ao seu lado eu tenho que lutar contra os meus demônios internos, que assim seja.
Toda minha sanidade e meu equilíbrio emocional foram postos em prova assim que a vi pela primeira vez e desde aquele momento nada nunca mais foi como era antes.
Queria ser forte o suficiente para resistir, para respeitar minha família e minha reputação, mas não consigo. Sou fraco e covarde, me rendo aos meus desejos pecaminosos e errados sem pestanejar, coloco a prova a minha imagem e da minha família para viver uma coisa imoral e injusta.
Tenho consciência do quão desgraçado sou com todos a minha volta, assumo minha culpa e minha inconsequência, mas não consigo retroceder.
Não consigo deixar para trás aquela pele morena bronzeada, o sorriso largo e a leveza que carrega aqueles fios de cabelos ondulados. Não consigo deixar pra traz a voz manhosa, o corpo magro e quem dirá aquela boca.
Posso estar traçando minha ruína, mas não me importo, a quero por perto e não abrirei mão disso.
Acordo de meus devaneios assim que sinto uma mão tocar em meu ombro e viro-me.
— Tomando café sozinho em uma tarde ensolarada? – Sabrina exclama com um sorriso no rosto caminhando até a cadeira a minha frente e se sentando ali — Deixar a Costatine assim no meio do dia era uma coisa que você não faria a anos atrás.
— Não sou de ferro. Preciso respirar – exclamo passando o guardanapo em minha boca — Mas o café já está no fim e logo estarei de volta ao trabalho.
— Vai porque o café acabou ou porque cheguei?
— Um pouco dos dois.
— Minha presença é tão intolerável assim para você?
— Você fez que se tornasse.
— Eu estava com raiva Luigi. Passei anos na Europa depois de ser enxotada daqui por você como uma qualquer!
— Deve ter sido um grande sacrifício morar na Europa enquanto faz um phD em uma da melhores universidades da Inglaterra – exclamo sarcasticamente.
— Quando se é descartada pelo homem que ama é sim um grande sacrifício – olho em seus olhos pela primeira vez e vejo ali uma mágoa profunda enquanto sua pupila começa a acumular lágrimas.
— Eu não tive outra opção Sabrina – justifico — Mas ainda assim fiz questão de que você fosse feliz mesmo assim.
— Eu era feliz com você Luigi. Você era a minha felicidade!
— É melhor não começarmos esse assunto mais uma vez.
— Nós tínhamos tudo pra estarmos juntos até hoje, mas você desistiu da gente.
— Sabrina, por favor..
— Podemos começar de novo. A gente consegue recomeçar.. Agora sua esposa sequer lembra de mim e tudo se acalmou.
Me mantenho em silêncio, sem saber quais palavras usar e como. A mulher a minha frente tirou de mim qualquer argumento plausível e estou me sentindo intimidado e constrangido.
— Não posso Sabrina, não posso.
— Mas pra aquela garota você pôde, não é?
— Ela não tem nada a ver com a nossa conversa, a deixe fora disso.
— Luigi, por favor. Eu ainda o amo – a morena toca em minha mão sob a mesa enquanto olha profundamente em meus olhos — Você precisa de mim assim como precisava antes, a gente se completa. Somos ambiciosos, maduros, bem sucedidos, temos um mundo de possibilidades pela frente, é só você dizer sim.
— Nã..– antes que eu conclua a palavra minha visão periférica identifica Lorena.
Olho para a porta da padaria no mesmo instante e a vejo passar por ali juntamente com o fotógrafo, meu coração parece parar e o ar foge de mim assim que nossos olhares se encontram. A capixaba fica petrificada e eu rapidamente tiro minha mão do toque de Sabrina que assim que percebe a situação dirige o olhar aos dois jovens que acabaram de adentrar o ambiente. Fico estático e meu sangue começa a ferver assim que o rapaz pousa seu braço na lombar da garota, aperto minha mão diante a cena enquanto os observo caminhando próximo a nós e se acomodando ali.
— Ela é jovem Luigi, assim como ele – a mulher começa a falar enquanto eu não desvio o olhar do casal por sequer um segundo — Ainda estão construindo a vida, buscando sucesso profissional e uma boa educação. Os hormônios dos dois estão a flor da pele, estão descobrindo a maturidade e juntos não tem metade da vivência que nós temos.
Me mantenho em silêncio com o olhar cravado na mesa a minha frente, sem medir as consequências me levanto da mesa em um gesto rápido e como um animal feroz e irracional começo a caminhar até os dois. Assim que me aproximo sorrio para o casal e ofereço minha mão ao rapaz que logo a pega cumprimentando-me.
— Que coincidência encontra-los aqui – exclamo tentando manter a calma em minha voz.
— É bom te rever também Luigi. Sente-se conosco – diz o rapaz calmamente.
— Isso se sua acompanhante não se importar – fala a capixaba com a voz firme.
— Só a encontrei aqui coincidemente, sem pretensões. Tenho certeza que não irá se importar – indago sentando-me.
— Como você está? E Michela? – questiona o jovem enquanto olho disfarçadamente para Lorena que esta com o olhar abaixando — Não falamos com ela ainda depois do evento, as vendas da nova coleção parecem estar uma loucura já que esgotaram todas as peças no dia seguinte.
— Sim, está difícil – solto as palavras sem sequer ter prestado atenção no que o fotógrafo acabara de dizer.
— Preciso ir até a faculdade resolver umas coisas – fala Lorena sem dirigir o olhar para mim — Podemos ir Vicente?
— O meu novo cliente já está quase chegando para a reunião que marquei aqui. Foi pra isso que viemos, esqueceu?
— Desculpe. Estou atordoada esses dias e me esqueci desse trabalho – mente ela — Mas sem problemas, irei de táxi.
— Eu te dou uma carona, a faculdade fica no caminho da Costatine e já estou de saída também.
— É melhor eu ir de táxi, não se preocupe.
— Faço questão – digo encarando-a diretamente.
— Obrigada pela gentileza Luigi, está me fazendo um grande favor a levando em segurança.
— Não se preocupe. Manter a segurança dela agora é minha responsabilidade – falo com a voz firme.
Sabrina ainda está sentada, encarando toda situação imóvel.
— Vou pagar meu café e já vamos Lorena – é o que digo antes de me levantar da mesa e ir em direção ao caixa pagar pelo café.
Assim que começo a caminhar em direção a porta Sabrina se insere na minha frente.
— Vai me deixar aqui sozinha desse jeito? – pergunta entredentes.
— Preciso ir.
— Se fizer isso irá se arrepender. Eu juro!
— Nos falamos outra hora.
Desvio meu corpo do dela andando em direção a porta e através da minha visão periférica vejo a garota fazer o mesmo seguindo-me.
Adentramos no carro em seguida, dou partida com o automóvel sem me importar com a alta velocidade enquanto sinto o suor pingar de minha testa.
— Eu pensei que fosse terminar com ele.
— Eu jamais faria isso – sua voz é sarcástica — Vicente é um bom homem, carinhoso, cuidadoso e além de tudo é bom de cama.
Tomado pela raiva freio o carro de uma só vez virando o volante em um movimento rápido e impensado, estaciono o veículo próximo a uma praça deserta perdida no meio da cidade.
— Você enlouqueceu?! – esbraveja — Qual o seu problema? Seu idiota! – nesse momento socos são disparados contra meu peito consecutivamente enquanto permaneço imóvel sentado no banco do motorista — O que você estava fazendo com ela? Ela me humilhou! Eu odeio você! – os movimentos violentos vão ficando cada vez mais fracos até se cessarem totalmente, consigo olhar plenamente para o rosto da garota que está coberto de lágrimas — Como pode fazer isso comigo?
— Eu não fiz nada – afirmo.
— Ela estava tocando sua mão! Eu não sou cega! – grita entre soluços — Você disse que me amava e agora estava com ela!
— Eu estava tomando um café quando ela apareceu e se sentou na mesa. Jamais mentiria pra você dessa forma – justifico olhando-a firmemente — Além disso você estava com aquele moleque e ainda tem coragem de me dizer aquelas coisas!
— Eu vi aquela cobra tocando você tão intimamente – fala chorosa passando a mão pelo rosto — E quanto a Vicente, você é última pessoa que pode me questionar o que faço ou não da minha vida amorosa.
Nesse momento encosto minha testa no volante, totalmente desnorteado e inquieto. Fecho os olhos afim de fazer com que minha sanidade retorne ao meu corpo e ergo minha cabeça assim que ouço seus soluços se tornarem mais intensos. Ela está encolhida no banco carona, com seu rosto molhado sob suas mãos enquanto chora compulsivamente.
Me desprendo do cinto de segurança e a puxo para meus braços, ela é um pouco relutante no início mas logo cede ao meu apego. Sinto meu coração se apertar enquanto ouço os gemidos dela e sinto suas lágrimas molharem minha camisa social, uma dor quase física lateja em meu peito causando-me uma grande tristeza.
— Eu estava dizendo a ela que não tem volta – digo na esperança de acalma-la — Eu não quero outra mulher, só você. Você é uma das coisas mais importantes pra mim agora e eu jamais faria isso.
— Vo-Você jura que está falando a ver-dade? – gagueja entre soluços dirigindo seu olhar a mim.
— Eu juro pelos meus filhos – digo fitando seus olhos marejados — E ainda que eu morra engasgado na minha própria raiva e ciúme não irei mais questionar a relação que tem com esse rapaz. Não posso te cobrar isso.
— Eu queria estar com você. Gostaria que tudo fosse mais fácil e mais justo pra nós dois.
Suas palavras fazem com que meu coração se aperte ainda mais e preciso respirar fundo para que minha tristeza não seja externada.
— Eu também minha menina. Eu também.
— Estou disposta a ultrapassar meus limites para estar com você, mas se envolver Sabrina eu não vou suportar.
— A Sabrina não é uma opção, jamais será – asseguro — Tudo que eu mais quero agora é você, até mais que o meu matrimônio.
— Está sendo sincero?
— Sim.
Num movimento rápido Lorena pula em meu colo encaixando suas pernas cada uma de um lado do meu corpo, abraço sua pequena estrutura que se aconchega ali, em meus braços.
Não me importo de estar em baixo de um sol escaldante diante da possibilidade de um conhecido passar e me ver dentro do meu carro nessa situação. Só me importo em dar colo a minha garota e mostra-la que apesar de tudo eu a amo e estou aqui.
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Meu casal não tem um minuto de paz..
A inspiração vem, as idéias e os conflitos tb.. vcs que lutem! 🤣🤣
Comentem muito pra ajudar a me inspirar a ponto de voltar essa semana. Vocês são incríveis e se não fossem por vocês já teria desistido.
Vejo cada palavra de carinho, meu coração palpita a cada voto e comentário.. e isso é culpa de vocês que apesar de poucos são MUITO pra mim! 🥺❤
Um beijo e até a próxima!