SFOGARSI

▪︎ diciassette

A vida muitas vezes nos proporciona experiências fantásticas, momentos bonitos e enriquecedores. Assim que começamos a tentar achar nosso lugar no mundo traçamos um futuro muito bem pré estabelecido para nós, na maior parte das vezes esse futuro inclui sucesso profissional, dinheiro, família e alguém especial, isso era tudo que eu tinha estabelecido para mim desde o início, uma vida calma e feliz ao lado meu namorado cristão e tradicional. Mas o que a vida fez? Cuspiu na minha cara mostrando-me que na verdade eu não tenho controle algum sob minhas próprias vivências e tampouco sobre meu futuro.

A vida me jogou nos braços de um homem casado, me fez ter com ele alguns dos melhores momentos da minha vida, sensações até então inexploradas no meu corpo foram descobertas por ele, despertou em mim sentimentos insanos e intensos que não deveriam existir.

Maldito italiano.

Odeio o fato de estar me amaldiçoando tanto por ter lhe virado as costas quando na verdade minha vontade era pular em seus braços, odeio o fato da culpa que eu deveria sentir evaporar, odeio não conseguir assimilar todos os motivos que tenho pra estar distante dele e dar espaço apenas para a saudade que lateja em mim insistentemente, todos os dias, a cada hora, a cada minuto e a cada milésimo de segundo.

Ao lado de Luigi fui tão inconsequente egoísta, estar com o homem corrompeu meus valores morais e fez minha empatia ir aos ares. Nada mais importava quando estava perto dele, o mundo se diminuía a um tamanho molecular enquanto estávamos juntos. Era surreal, uma utopia tão gostosa que até agora me recuso a acreditar que eu realmente fui tão feliz sendo uma vadia egoísta.

Hoje fazem cinco dias que não recebo uma mensagem de Luigi ou sequer uma ligação. Foi isso que pedi a ele, mas me dói tanto saber que ele o fez. Uma parte dentro de mim desejava que ele insistisse, mandasse mensagens mesmo sabendo que seria ignorado ou ligasse mesmo sabendo que eu rejeitaria a ligação, isso mostraria que ele ainda está ali, que ainda gosta de mim e que ainda se importa.

Qual o meu problema?

A vontade de ir atrás de Luigi se alastra sob mim se fazendo presente em cada parte do meu corpo, tento controlar meus dedos que por um impulso próprio tocam a tela de meu celular, abrem a agenda e digitam o nome dele. Fecho os olhos e conto até dez, coloco o aparelho no meu criado mudo em um movimento rápido tirando-o do meu alcance, respiro fundo e quando abro meus olhos vejo Amora deitada ao meu lado com um olhar sereno em minha direção, pego a filhote em meus braços e a envolvo neles dando-a um abraço apertado.

— Agora somos só nós duas filha, eu e você. Você e eu – a cadela continua a me olhar atentamente com seus pequenos olhos — Sei que talvez você não vá sentir tanta saudade dele já que ainda é uma bebê, mesmo com ele distante não te faltará amor e cuidados, mas ainda assim ele fará falta pra gente – a aperto outra vez em meus braços — Olhar pra você me desperta tantas lembranças, mas de qualquer forma é o presente mais lindo que aquele italiano poderia me dar.