▪︎ quarantacinque

2.5K 213 13
                                    

Lembro-me como se fosse hoje o dia do nascimento dos meus primeiros filhos, foi um dia de muita tensão para mim e ainda mais para Michela que urrava de dor a cada contração que vinha, mas eu estava ao seu lado, segurava sua mão com força a deixand...

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Lembro-me como se fosse hoje o dia do nascimento dos meus primeiros filhos, foi um dia de muita tensão para mim e ainda mais para Michela que urrava de dor a cada contração que vinha, mas eu estava ao seu lado, segurava sua mão com força a deixando segura e mostrando que não estava sozinha.
O semblante de sofrimento da mulher durante o parto me despedassava inteiro, na minha percepção não era justo ela estar passando por tudo aquilo sozinha já que estava dando a luz aos nossos filhos, de nós dois, não somente dela. A falta de lógica da situação me fez entrar em uma crise existencial intensa, na qual eu me questionava o porquê só ela estar sofrendo se eu também fazia parte daquilo, as crianças também eram meus filhos e portanto a dor física teria que ser de nós dois.
Apesar de estar ali me sentia impotente e inútil, tendo em vista que minha única função era segurar sua mão e a assistir sofrer para que meus dois primeiros filhos nascessem saudáveis. Em contrapartida, apesar de toda a inconstância mental que a situação me trouxe eu estava perto de Michela, quando nos olhávamos eu conseguia identificar que apesar de tudo que estava vivendo a mulher se sentia segura, sabia que não estava sozinha e que eu não sairia do seu lado, ela tinha consciência de que a dor que nela era física em mim era emocional, a ver naquele estado fazia meu coração se contrair e eu só mantive minha força por ela e por eles.

Quando penso que Lorena passou por todas essas fases sozinhas a culpa que senti a 19 anos atrás no parto de Michela volta com o peso de uma âncora em meu peito três vezes mais pesada.

Quando minha filha chutou pela primeira vez eu não estava ali, e quando a sua primeira ultrassom foi feita eu não estava ali. Eu não estava ali nos primeiros centímetros de dilatação, não ajudei a montar seu quarto rosa e tampouco comprei sua saída da maternidade, quando sua mãe estava em uma cama de hospital chorando para tê-la eu já estava na Itália e sequer passava pela minha cabeça que um anjo denominado Serena estava sendo concebido.
Dói ainda mais quando me lembro que não ouvi teu primeiro choro, vi teu primeiro sorriso, a ajudei a dar seus primeiros passos e também não a assistir ploriferar suas primeiras palavras.

Quando Lorena a agarrou em seus braços como uma leoa não havia medo em seus olhos, ela alinhou Serena em seu colo em pleno estado de alerta e qualquer um que ousasse encostar na criança naquele momento pagaria por isso. Todos seus instintos foram acionados e naquele momento eu enxerguei que a menina que eu conheci a quatro anos atrás não é mais a mesma, mas em contrapartida eu notei aquela garota escondida em algum lugar dentro dela, foi um misto de passado e um presente do qual eu não imaginava.

Dou uma pousa nos meus devaneios e olho para o meu relógio e me assusto com a hora, se eu não sair logo irei me atrasar. Chamo Antonela que logo aparece no meu campo de visão, juntos saímos do apartamento as pressas, assim que entramos no elevador a jovem aperta o botão da garagem e a grande caixa de metal começa a descer.

— Está ansioso papa?

— Um pouco – respondo.

— Hoje vai ser o seu primeiro encontro com ela depois de três anos.

SFOGARSI Where stories live. Discover now