SFOGARSI

▪︎trentanove

O caminho de volta foi tranquilo, sinto a ardência em meu antebraço me lembrando da tatuagem, sorrio sozinho e continuo meu percurso sem me importar da explicação que deve ser dada. Tudo que mais queria era que o tempo parasse e nos prendesse ali, mas a realidade não permite que nossos anseios se tornem concretos. 

Mais uma semana acaba de começar, voltarei ao meu trabalho, minhas responsabilidades voltarão a me assolar e é questão de tempo para que eu pegue meu ritmo mais uma vez.

Já deixei Lorena em casa e acabo de estacionar o carro em minha garagem, pego a mala e caminho até a porta de entrada do lugar, quando abro me surpreendo com o silêncio total do ambiente, pois apesar de meus filhos estarem na escola Fátima geralmente já está aqui essa hora.

Dou de ombros e subo as escadas indo em direção ao meu quarto, Michela está sentada na cama com um envelope e em seu rosto há uma feição indecifrável para mim. Me aproximo da mulher dando-o um beijo na testa.

— Voltei.

Uma lágrima solitária cai e pela primeira vez ela me dirige um olhar frio.

— Não desfaça as malas – exclama abrindo o envelope e jogando o conteúdo do mesmo sob a cama — O resto de suas roupas já estão em outras malas, no closet.

Sinto minha respiração falhar quando vejo fotos minhas e da Lorena espalhadas pela cama. Nas fotos estamos na boate, juntos na pista de dança e depois no camarote. Minhas pernas ficam bambas e um calor atípico se espalha por todo meu corpo, começo a soar frio e um nó se forma em minha garganta.

— Michela, eu..eu..

— Apenas vá embora dessa casa antes que eu faça alguma besteira.

— Podemos conversar? Apenas conversar sobre isso?

— Conversar Luigi? – sua voz está apática de uma forma que nunca vi antes — Você está tendo um caso com uma menina que foi minha modelo e tem idade para ser sua filha, que tipo de diálogo seria capaz de amenizar isso?

— Eu não sabia que ela era sua modelo.

— Isso deveria ser reconfortante?

— Michela..

— Achei exagerada sua reação quando o ex namorado dela apareceu a ofendendo, foi muito intenso e exacerbado tudo aquilo. Você sempre foi um homem de bons ideais e me segurei nisso para ignorar a ideia que até então brotou na minha cabeça de que talvez você estava interessado por ela, mas não, eu estava realmente errada porque na verdade você fez aquilo porque a ama – outra lágrima cai e ela imediatamente passa a mão pelo rosto secando-a — Da pra ver isso na forma com que olha pra ela nessas fotos, é o mesmo jeito que me olhava quando nos conhecemos.

— Eu também amo você.

Lágrimas começam a escapar do meu rosto e eu me ajoelho em frente a mulher pegando suas mãos e beijando-as.