▪︎ quarantasette

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Respiro fundo enquanto ouço os passos pesados de Lorena e ela se afasta

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Respiro fundo enquanto ouço os passos pesados de Lorena e ela se afasta. A sanidade parece ter fugido do meu corpo e a compulsão de quebrar todos os objetos da sala começa a latejar sob mim, fecho meus olhos com os punhos cerrados enquanto tento controlar meus impulsos.

Sem medir as consequências saio atrás da garota com passos largos e eu apresso-me entrando no elevador. Assim que estou no térreo noto a brasileira atordoada do lado de fora do condomínio fazendo sinal com a mão na esperança de localizar um táxi, começo a caminhar ainda mais rápido e em menos de um minuto consigo a alcançar.

— Acha que pode me dar uma notícia dessas e sair correndo?

— Me deixe em paz!

— Você precisa pensar bem no que vai fazer, não pode tirar minha filha de mim mais uma vez – começo a proferir as palavras sem me importar de estar do lado de fora do meu prédio em uma movimentada rua do centro de Milão.

— A Serena é minha e ninguém melhor do que eu sabe o que é melhor pra ela.

— O melhor pra ela é ter o pai próximo além de você – afirmo com a irritação me preenchendo cada vez mais — Não quero minha filha fazendo terapia por ter crescido sem uma figura paterna.

— Nós duas nos viramos muito bem sozinhas até aqui. Não precisamos de você.

— Tem noção do que está falando? – questiono atordoado — Já ouviu falar em mal de Édipo?

— O quê? – uma feição confusa se forma em seu rosto.

— É Freud!

— O que Freud tem a ver com isso?

— Eu não quero que minha filha desenvolva mal de Édipo!

— Ahn? – a capixaba parece estar ainda mais confusa.

— Não importa – desisto de tentar me explicar — Mas por favor, eu a imploro que não a leve agora.

Nesse momento as barreiras de Lorena parecem se desmoronar, a raiva evapora de sua áurea e a mesma parece confusa enquanto passa a mão pelo rosto.

— Eu queria muito não o fazer ficar longe dela outra vez – diz calmamente — Mas tenho uma agenda a seguir no Brasil e não posso me indispor com os contratantes.

— Então deixe-a comigo ao menos por algumas semanas – peço mais uma vez.

— Isso não é uma opção Luigi – reforça — Jamais a deixaria em um país estranho longe de tudo e de todos.

— Você não pode simplesmente a afastar  de mim assim – a raiva começa a me dominar outra vez — Isso é egoísta!

— Não ouse me chamar de egoísta – esbraveja apontando o dedo em minha direção — Quem fugiu do Brasil para se esconder pensando apenas no próprio umbigo não foi eu.

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