Imortal

By FlviaRolim

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[Vencedor do prêmio Wattys 2015 na cateogoria "Os Mais Populares"🎖️] ESTÁ SENDO REESCRITA E REVISADA. A his... More

Prólogo
Conhecendo o Desconhecido
Visita Noturna
Saltos no Vazio
Compromissos
Nada Mal Para Um Imortal
Rompendo Relações
Knockout
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Um
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Dois
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Um
Xeque-Mate
Eu Escolho a Eternidade - Parte Um
Eu Escolho a Eternidade - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Um
O Baile de Máscaras - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Três
Fragmentos
Perdoe-me Por Dizer Adeus
Causa Mortis - Parte Um
Causa Mortis - Bônus
Causa Mortis - Parte Dois
O Outro Lado da Moeda
Emboscada - Parte Um
Emboscada - Parte Dois
Angustia Existencial
Dave Miller
Finalmente Pronta
Alguma Coisa no Caminho
Outro Amanhecer - Final
Epílogo
Amores Imortais
Prévia - Eterno
Eterno está no ar
Bônus - Christine
1 anooooooo!!!!!
Arthur e Victor (Bônus - Um ano de Wattpad)
Revelação da Capa
VERSÃO ANTIGA (RASCUNHO) X VERSÃO ATUAL (PRIMEIRA EDIÇÃO)

Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Dois

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By FlviaRolim

Durante três semanas esse foi meu martírio. Acreditar que nada daquilo realmente havia acontecido e que Victor apenas estava ocupado demais para aparecer. Que não tinha sido um adeus definitivo, afinal a eternidade dele não girava entorno da minha vida.

Eu sabia que ele era o mestre de todos os outros, o primeiro. Tinha suas obrigações para com o seu clã e, ainda por cima, uma guerra era eminente. Tricia havia me dito que estava para acontecer. Imaginei que o ataque a Victor havia sido o estopim para aquilo.

Depois de uma semana, retornamos à cidade e voltei a trabalhar. Minha mãe retornou ao trabalho, quando as férias acabaram, mas teve de se ausentar por causa da doença. Passamos por tudo aquilo novamente: sessões de quimioterapia, radioterapia e mal-estar. Perdi noites acordada com ela, consolando-a e cuidando-a. Steve foi muito generoso e sempre que eu precisava, ele me liberava por alguns dias para que eu ficasse a inteira disposição de minha mãe. Depois de dois anos de tratamento, ela melhorou. Foi necessário fazer a retirada do segundo ovário e do útero também, mas ficou boa.

Eu estava feliz, por ela ter conseguido vencer novamente, mas estava triste, ao mesmo tempo. Havia se passado anos e Victor não voltou.

Acabei descobrindo que não havia guerra, justamente quando fui a mansão. Tricia me disse que, pela primeira vez em séculos, os modificados se calaram, embora as mortes só aumentassem. Eu via isso todos os dias no hospital: Pessoas com perda de sangue significativa e artérias dilaceradas. Sem contar dois casos de que o coração explodia na caixa torácica. Aquilo estava virando um pandemônio.

Ela me disse também que Victor havia deixado a mansão e Sean estava no comando. Ele não disse a ninguém para onde ia e apenas se comunicava, com o seu fiel amigo, para dizer que estava bem.

Por conta disso, se havia algum deles que tinha uma estima por mim, essa havia acabado. Os únicos que me tratavam bem era aqueles que foram postos para me vigiar. Fazer a minha segurança e a da minha família. Isso sem contar aqueles que eu conheci mais a fundo: Tricia, Sean, Ethan e Susan. Amira e Tom se mostravam indiferente a minha presença e o restante me repudiavam.

O mestre deles os havia abandonado e, por isso, muitos dos vampiros passaram a me odiar. Diziam que a culpa era minha e advertiram a Sean que se eu voltasse a mansão, eu não sairia viva. Ele me fez prometer não voltar e eu assim o fiz.

Quando completou três anos, desde aquele dia no lago, eles desapareceram. Todos eles. A mansão ficou vazia e não havia mais ninguém. Recebi uma ligação de Sean, dizendo que não tinha com o que me preocupar, que eles fizeram um acordo com os modificados e eu estaria segura, assim como todos que eu amava. Que eles precisaram se mudar, devido ao tempo que a mansão já estava ali e havia chamado atenção de alguns caçadores. Que estavam em outra cidade.

Aquilo não ajudou em nada. Eu apenas tive a confirmação de que Victor não voltaria mais.

Com isso, eu segui em frente e mais um ano se passou. Resolvi mudar tudo em mim e ao redor de mim. Comprei um apartamento, no centro de Baltimore, que era confortável e bem próximo do hospital. Minha mãe exigiu isso de mim. Dizia que eu já era uma mulher que precisava de uma casa só minha, já tinha mais de trinta anos e que não tinha uma vida própria. Ela praticamente me expulsou de casa.

Troquei o meu guarda-roupa inteiro e queimei todas as roupas antigas. Não queria nada que me lembrasse do passado. Nada que me lembrasse do meu vampiro.

Cortei o cabelo, na altura do pescoço, entrei em aula de defesa pessoal e conheci um homem que havia se tornado bastante presente em minha vida. O nome era Christopher e ele era um cirurgião que havia sido transferido para o hospital onde eu trabalhava.

Ele era humano.

Namoramos por um ano antes que ele me pedisse em casamento. Foi um alvoroço em casa, porque minha mãe queria que eu tivesse uma família. Depois de Laura, tudo o que ela queria era que eu fosse mãe outra vez e ela sabia que eu não seria se não me casasse com alguém. Por pressão e por realmente gostar da companhia dele, acabei aceitando. Eu estava noiva.

— Bom dia. — recebi um beijo no pescoço quando terminei de me espreguiçar na cama. Ele tinha uma voz grave, mas doce. Combinada com o fato de ter acabado de acordar, me fez arrepiar.

— Bom dia. — respondi virando para ele e recebendo um beijo demorado. Eu gostava de estar com o Chris, ele foi meu suporte quando a doença da minha mãe veio à tona. Era um grande amigo e acabou tornando-se algo mais.

— Feliz aniversário — falou enquanto trilhava um caminho de beijos pelo meu pescoço. — Onde vamos comemorar?

— Eu estou ficando velha, não há nada o que se comemorar — respondi fechando os olhos, apreciando o carinho e entrelaçando os meus dedos nos cabelos dele.

— É a idosa mais linda que eu conheço — ele parou de me beijar e me encarou, com os olhos incrivelmente azuis. Fiz uma cara de indignação que pareceu diverti-lo porque ele começou a rir. O empurrei para o lado e subi em cima dele. Estávamos os dois completamente nus.

— Me chama de idosa outra vez — segurei os braços de Chris, para que não se movesse, mas ela era mais forte e conseguiu me jogar na cama outra vez.

— Idosa — ele respondeu bem perto de meu rosto. Adorava me provocar.

— Sabe uma coisa que uma idosa não faz? — sussurrei em seu ouvido e ele sorriu.

— O que? — me desafiou a concluir. Abri a boca para falar, mas antes que alguma palavra fosse pronunciada, o bip dele tocou.

— Tem horas que eu odeio esse trabalho — reclamou saindo de cima de mim e sentando na beirada da cama, pegando o telefone celular e discando o número do hospital. Depois de uma conversa rápida, ele desligou. — Houve um acidente na marginal e eles querem que eu vá. Tem uma cirurgia para fazer.

— E Kevin? — me sentei na cama, me enrolando com o cobertor.

— Está de férias. — Christopher olhou para mim e fez uma cara triste. — Sou o único neurocirurgião disponível num raio de quinhentos quilômetros.

— Então vai salvar essa vida — sorri e ele me deu um beijo.

— O que eu vou fazer com a minha idosa?

— Mais tarde a gente sai para jantar. — Assim que eu me calei, o meu celular avisou que tinha uma nova mensagem. Olhei para Chris que ergueu uma sobrancelha. Peguei o aparelho. — Pontos para mim. Uma ponte de safena para fazer. Parece que vamos juntos para o hospital.

— No seu carro ou no meu? — perguntou.

— Cada um no seu. Pode ser que eu demore na minha cirurgia, ou você demore na sua. É melhor cada um ter um modo de voltar para casa — respondi ficando em pé na cama. Christopher assentiu e me deu um beijo. Nos arrumamos rapidamente e corremos para lá. Comemos alguma coisa no caminho e cada um foi para as suas obrigações. A cirurgia de ponte de safena durou doze horas e eu tive êxito nela. Havia me tornado uma médica conceituada no hospital e mesmo que tivessem vários cirurgiões cardíacos, eu era a primeira opção. Passei na ala neurológica e Chris ainda estava no centro cirúrgico. Eu poderia entrar na sala, mas não entrei. Ao invés disso, mandei uma mensagem para ele dizendo que eu iria para casa e que o esperava, se desse tempo, para que a gente fosse jantar. Era pouco mais das seis da noite quando eu deixei o hospital.

Já estava quase em casa, quando presenciei o ocorrido. Um carro, que estava a minha frente, envolveu-se em um acidente onde acabou atropelando um rapaz. O motorista, com medo, fugiu do local, mas eu peguei a placa. Ele não fugiria e se safaria daquilo.

Como médica, eu tenho um juramento com a vida, e eu não poderia deixar aquele menino, que não parecia ter mais do que vinte anos, jogado no chão só porque era meu aniversário. Estacionei o carro de qualquer jeito e corri até ele.

Ele estava inconsciente e sangrava muito pela boca. Aferi seu pulso e ele ainda estava vivo, mas o coração batia muito devagar. Me levantei correndo, enquanto a chuva castigava, e voltei ao meu carro.

— Ruth, aqui é Alice Baker — falei quando a recepcionista do hospital atendeu.

— Pois não, doutora?

— Me manda uma ambulância, urgente, aqui na Winters Ln com a Fusting Ave — mesmo chovendo, corri com o aparelho até o rapaz outra vez. Tateava o corpo dele em busca de alguma fratura.

— Qual a emergência, Lice?

— Atropelamento. Fratura em duas costelas e no fêmur. Possível fratura nos ossos da cintura pélvica também.

— Já estamos enviando a ambulância — respondeu ela.

— Obrigada, Ruth, estarei aguardando. Chame também a polícia — desliguei o aparelho e coloquei no bolso da calça. Abaixei, ao lado do garoto, e ele parou de respirar. — Mas que merda — gritei me ajoelhando e escutando o coração dele. Havia parado. Me posicionei e comecei a fazer a massagem cardíaca nele. Eu não ia deixa-lo morrer. A cada quinze massagens cardíacas, uma respiração boca a boca, até que o rapaz reagiu e o coração voltou a bater. No minuto seguinte, a ambulância chegou. Me afastei e deixei que eles continuassem dali. A polícia chegou logo em seguida e pegou o meu depoimento.

Sentei na calçada e observei enquanto os paramédicos colocaram o rapaz na maca e o levaram rápido até o veículo.

— Lice, está tudo bem? — me perguntou Bryan. Não sabia que ele estava atendendo na emergência.

— Está tudo bem, sim. Não se preocupe — respondi tentando sorrir.

— Nós temos que ir. Saia dessa chuva, para não ficar resfriada.

— Sim, mãe — respondi descontraída. Ele me deu um beijo na testa e correu até a ambulância que saiu logo em seguida. Apoiei a cabeça nos braços e os repousei sobre as coxas. Eu estava exausta. — Feliz trinta e um anos, Alice — falei para mim mesma antes de levantar a cabeça e o vê. Estava do outro lado da rua. Não havia mudado absolutamente nada.

Usava um sobretudo preto, por cima de um terno de mesma cor. Os cabelos molhados grudados a testa e o olhar penetrante, como sempre havia sido. Victor havia voltado a Baltimore.

Me levantei rapidamente e, contra tudo o que eu queria fazer, eu andei até o meu carro, entrei e dei a partida. Segui até o meu apartamento. Eu não queria deixa-lo aparecer em minha vida outra vez. Não quando eu havia conseguido esquecê-lo.

Fechei a porta de casa e respirei fundo. Colocando a chave em cima da mesinha e seguindo até a sala. Dei um grito quando o vi ali.

— Para onde você vai fugir agora? — ele me perguntou e eu gelei. Me questionei se aquele era Victor ou Arthur. Ele leu minha mente e deixou que eu visse os olhos mudarem de cor e assumisse um tom quase branco. Era Victor. — Oi, Alice.

— Oi, Alice? Sério? — balancei a cabeça negativamente. — Saia da minha casa. Agora.

— Eu sei... — ele começou a falar, mas eu o interrompi.

— Você sabe? Não, você não sabe de nada.

— Alice, me escuta, está bem? — ele estava completamente encharcado e pingava. Assim como eu. — Eu precisei. Eu não estava no meu normal.

— Você me abandonou. Você me deixou por quatro anos, Victor. Não sei para você, mas para mim foi uma eternidade.

— Foi para mim também. Os piores quatro anos da minha existência — ele respirou fundo. — Eu senti sua falta.

— Não — balancei a cabeça. — Você não sentiu. Se tivesse sentido, tinha voltado.

— Eu quis voltar — ele tentou me segurar, mas eu me desvencilhei. Eu estava com muita raiva, misturada a magoa. — Deus sabe que eu quis, mas todas as vezes que eu pensei em regressar eu me lembrava daquele dia. Do monstro que eu me transformei por causa de um beijo. Eu me importei com a sua segurança. Foi para te ver viva que eu fiz isso.

— Eu não me importava. Eu disse que eu te amava, eu disse que eu te queria daquela forma, mas você não me escutou. Poderíamos ter passado por aquilo juntos — eu respirei fundo tentando parar de gritar. — Você nem sequer me olhou, Victor. Se despediu sem me encarar.

— Eu sabia que se eu te visse, não ia conseguir — ele caminhou até mim, me encostando na parede e segurando meu rosto. — Me perdoa.

— Eu não posso — ele se separou de mim e me olhou. — É tarde demais para nós dois. Eu estou noiva, vou me casar em dois meses — Victor se afastou de mim. Parecia perplexo.

— Eu te falei que não era definitivo — ele agora me acusava.

— Foi você que me deixou sozinha por quatro anos.

— Você é minha. Sempre foi e sempre será — ele me olhava seriamente.

— Eu te esperei, por um bom tempo, mas eu cansei — respirei fundo para não me engasgar com as palavras. — Vai embora. Eu te suplico.

— Não dessa vez — ele balançou a cabeça. — Dessa vez você não vai se casar com outro homem. Não suportaria viver a mesma história, duas vezes — só quando Victor falou foi que eu me dei conta. Estava exatamente igual a vida de Christine. — Dessa vez eu não desisto de você. Não sem lutar.

— Não tem mais pelo que lutar — respondi seriamente. — Acabou.

— Jamais acaba — ele respondeu e antes que eu pudesse pensar em algo, eu tinha os lábios de Victor nos meus. As suas mãos segurando os lados da minha cabeça. Seu corpo colado ao meu, me pressionando contra a parede. O gosto dos lábios dele, se mesclavam as lágrimas que eu ainda chorava. Eu sentia falta dele e por mais que o mandasse ir, eu o queria por perto.

Quando abri os olhos, ele não estava mais lá.

Escorreguei pela parede, ali mesmo, e sentei no chão. Encolhendo meus joelhos e colocando a cabeça entre eles. Não sei por quanto tempo fiquei, mas nem mesmo o barulho de chave na porta me fez levantar. Só percebi que era o Chris quando ele ajoelhou diante de mim e me fez olhar para ele. Parecia assustado. Nunca havia encontrado uma cena como aquela.

— O que foi, Alice? — me perguntou e eu não respondi. Apenas me joguei nos braços dele. Ele havia se tornado o meu porto seguro. — Por favor, meu amor, me diga o que foi que aconteceu.

— Só me abraça, Chris. O mais forte que você conseguir — pedi, quase suplicante, e ele o fez. Não me disse mais nada, apenas ficou ali comigo. Sentado no chão da sala.

Que belo presente de aniversário eu havia recebido.

Era pouco mais de três da manhã e eu não havia dormido. Estava deitada, olhando pela janela, enquanto Christopher me mantinha aquecida, com os braços envolta de minha cintura. Eu sentia a sua respiração serena em meu pescoço e aquilo me acalmava. Eu estava perdida com tudo aquilo.

Amaldiçoava Victor por ter voltado, justamente quando tudo estava bem. Eu tinha um homem que me amava ao meu lado, ia formar uma família. Filhos, quem sabe? Ter novamente a experiência de ter uma vida se desenvolvendo em mim. Só que dessa vez eu poderia vê-la crescer, falar e andar. Se fosse um menino, me trazer a primeira namorada quando fosse jovem. Se fosse uma menina, brigar com o Chris quando ela trouxesse o primeiro namorado. Eu queria uma vida normal. Só isso.

Mas eu sabia que desde o momento em que conheci Victor, eu jamais teria uma vida normal novamente. Eu fechei meus olhos, quando o bip de Christopher tocou. Uma nova emergência.

Ele levantou-se, contra a vontade, e pegou o aparelho. Não me disse nada, apenas saiu da cama e se arrumou. Certamente achou que eu estava dormindo. Quando estava de saída, eu o chamei.

— Vai sem me dar um beijo? — pedi e ele virou-se, fazendo cara de culpado pela fracassada tentativa de escapar sem fazer barulho.

— Eu achei que estivesse dormindo — ele voltou e se jogou na cama. Usava a roupa verde do hospital. Beijou os meus lábios bem devagar, parecia aproveitar cada segundo daquilo. — Vai ser rápido e eu volto logo. Não vou demorar.

— Jura para mim? — eu o olhei e suas orbes azuis brilharam.

— Eu juro — respondeu por fim me dando outro beijo. — Eu te amo.

— Eu também te amo — respondi quando ele se levantou e saiu de casa. Respirei fundo quando ouvi a porta do apartamento bater. Não era mentira. Eu amava mesmo o Christopher, mas nem de longe era como eu amava Victor. Christopher me fazia sentir bem. Victor me fazia sentir viva.

Me aconcheguei, abraçando o travesseiro de Chris e, por fim, adormeci.

Acordei, era pouco mais de seis da manhã, com o telefone tocando. Relutei em sair da cama, mas assim o fiz mesmo contra a minha vontade. Andei até o aparelho e o peguei.

— Alice Baker? — perguntou o homem do outro lado da linha.

— Quem gostaria de saber? — perguntei apreensiva.

— Aqui é o detetive Ramirez — falou ele e eu gelei. O que um policial poderia querer comigo?

— Em que posso lhe ajudar, detetive?

— A senhora é a noiva de Christopher A. Campbell?

— O que aconteceu? — perguntei sem responder. Ele deduziu quem eu era, devido ao meu desespero.

— Ele sofreu um acidente de carro, senhora — eu senti minhas pernas ficaram bambas e por pouco não cai no chão.

— Acidente? — a voz embargada pelo choro. — Em qual hospital ele está? Ele está bem?

— Ele está no Saint. Agnes — não esperei que o detetive prosseguisse. Apenas desliguei o telefone, vesti a primeira roupa que encontrei e sai às pressas. Não me lembro como eu cheguei ao hospital. Eu estava no automático e tentava manter a calma, mas era impossível. Assim que entrei na portaria, Steve veio ao meu encontro.

— Onde ele está? — perguntei completamente desesperada.

— Alice, você tem que se acalmar.

— Eu quero saber onde está o meu noivo — gritei. Tomando a atenção de todos os presentes para mim.

— Chris não resistiu, Alice — respondeu ele e eu não me lembro de mais nada. O choque foi muito grande. Eu desmaiei.

Quando acordei estava deitada em uma das camas da enfermaria. Minha mente dava voltas e eu não sabia o que pensar. Acabei encontrando o olhar apreensivo de Steve quando tentei me levantar. Balancei a cabeça quando me dei conta que não havia sido um pesadelo. Eu havia perdido o Chris.

— Eu sinto muito — falou Steve e me abraçou. Ele tentava me reconfortar, mas sem sucesso algum.

— Como foi o acidente? — eu mal conseguia falar. Soluçava bastante.

— Segundo a polícia, ele dormiu no volante. Estava voltando para casa.

— Não. Me diz que é mentira, por favor, Steve. Me diz que ele não está morto.

— Eu sinto muito — repetiu ele e eu pulei da maca. — O que vai fazer?

— Eu quero ver o corpo. Eu quero ter certeza — falava embolando as palavras. Eu estava destruída.

— Alice, pare agora — mandou Steve e eu obedeci. Os enfermeiros e médicos do local nos olharam também, mas eu pouco me importei. — Você tem que se controlar. O corpo está irreconhecível. Fomos obrigados a fazer o exame de DNA para ter certeza. Está sendo necropsiado nesse exato momento.

— Meu Deus — eu voltei a soluçar. A dor em meu peito era intensa. Eu queria sentir os braços de Chris ao redor de mim outra vez. Eu queria vê-lo sorrir com as minhas piadas bestas. Eu o queria me beijando outra vez. Eu o queria vivo.

— Vai para casa e tenta descansar um pouco, está bem? Assim que tivermos o resultado aqui, eu te ligo. Você precisa se acalmar. Você precisar ser forte, como sempre foi — ele parou de falar e segurou meu rosto. — Vai para casa, Alice, e não faz nenhuma besteira.

Balancei a cabeça, afirmativamente, e Steve me agarrou em um abraço apertado. Me conduziu até a porta da saída do hospital, para ter certeza que eu não faria um percurso que pudesse me levar ao necrotério, e me abraçou outra vez.

Caminhei até o estacionamento e me sentei no carro. Eu havia perdido uma pessoa muito importante para mim e a dor em meu peito era intensa. Os meus planos com ele foram destruídos naquele dia. Não haveria mais casamento, não haveria mais família, não haveria mais filhos. Não haveria final feliz.

Enxuguei as lágrimas e liguei o carro. Eu sei que eu deveria ter ido para casa, mas eu ia enlouquecer se eu ficasse ali. Tudo no apartamento me lembrava Christopher. Havíamos combinado de morar juntos depois que ele me pediu em casamento e, por isso, todas as coisas dele estavam ali. Eu ia ficar vendo fantasmas o tempo inteiro. Perderia a razão.

Dirigi até Towson, pela estrada da casa do lago. Eu não fazia a mínima ideia de como eu havia chegado ali e como eu não havia batido o carro. Eu chorava muito, minhas vistas embaçavam completamente, mas eu continuava dirigindo. Se eu morresse, não me importaria.

Caminhar por aquela estrada de barro também não foi nada legal. Foi ali, há quatro anos, que Victor havia me deixado. Pensar nisso não ajudou também, apenas fez com que meu coração ficasse ainda mais apertado. Eu me sentia culpada por ter beijado ele, mas não podia evitar. Eu o amava. Eu disse ao Chris, quando começamos a namorar, que eu era uma pessoa com uma enorme bagagem e ele me ofereceu ajuda para carregá-la. Nunca omiti que eu amava outro homem, mas ele sempre dizia que eu o amaria e que esqueceria esse outro. Eu o amei, mas nunca esqueci Victor.

Cheguei em casa e não havia ninguém. Eu não avisei ao caseiro que eu iria para lá. Procurei a chave reserva, que minha mãe deixava embaixo de um vaso de flores onde estava uma muda com belíssimos copos—de—leite.

Abri a porta e o cheiro de casa abandonada quase me derrubou. O lugar estava fechado há quatro anos e mesmo tendo o caseiro, aberto as portas todos os dias que ia até ali, não conseguia espantar aquele cheiro forte. Não havia comida na geladeira e eu também não sentia fome. Por isso não me importei. Passei a tarde inteira deitada no sofá, em luto. Eu deveria ter insistido para ele ficar, para ele não ir, mas eu apenas assenti. Se eu tivesse impedido, ele estaria comigo.

A noite chegou silenciosa e sem muito brilho, não havia estrelas no céu e eu não havia dormido nada, apenas chorado e me lamentado. O celular tocou e eu reconheci o número no visor.

— Oi, Steve — respondi em um soluço.

— Você esta bem? — perguntou ele.

— Não — respondi secamente.

— Sei que é difícil, mas como eu prometi que te ligaria...

— O que houve? — perguntei assustada.

— Concluíram a necropsia no Chris e constataram que houve ferimentos graves e rupturas de veias e artérias significativas no pescoço, escoriações e arranhões por todo o corpo. Pelo que Dr. Samuel disse, a causa da morte do Chris não foi a batida e sim a perda de sangue.

— Perda de sangue?

— É e o mais curioso foi que não havia sangue no acidente. Tanto é que todos acharam que havia sido alguma lesão cerebral, a causa da morte, mas não foi. — E paralisei e não sabia o que pensar. — Alice, ainda está aí? Alice?

— Eu vou desligar — respondi.

— Fica, bem, por favor — não respondi. Apenas apertei o botão e meu braço amoleceu. Um vampiro havia matado Chris e eu sabia quem havia sido esse vampiro.

— Victor — falei baixo. Eu o odiei profundamente. Ele não tinha esse direito.

Me levantei do sofá e subi até o quarto, eu sabia que não dormiria, mas eu precisava me encolher em um lugar mais confortável. Deitei na cama, de olhos fechados, e o sorriso de Chris apareceu em minha frente. A voz dele, me desejando um bom dia. As mãos me tocando.

Eu sentiria uma falta grande dele. Estava imersa em minha dor, até que ouvi um barulho no andar de baixo. Levantei assustada e espreitei o corredor. Não havia nada e nem sombra de que alguém estava ali. Corri até o quarto de Alex e peguei um taco de beisebol. Eu sabia que não adiantaria muito, se o invasor fosse um vampiro, mas me daria tempo de tomar outra atitude.

Segui até a sala e revirei a casa inteira, me preocupando em guardar uma faca de prata nas costas, quando passei pela cozinha. Não havia ninguém ali, mas eu tinha certeza que havia escutado um barulho.

Não relaxei minha postura quando voltei ao andar de cima. Paralisei na porta quando o vi. Estava sentado em minha cama. Quando me viu, sorriu.

— Victor — pronunciei o seu nome com dor.

— Tenta outra vez — respondeu ele e eu gelei, completamente. A voz, como eu me lembrava, era fria e rude. Mesmo que ele tentasse falar tranquilamente.

— Arthur — falei mais para mim do que para o modificado a minha frente.

— Demorou muito para que eu pudesse lhe falar sem me passar por meu irmão. Não foi?

— O que você faz aqui?

— Eu matei seu noivo e vim pegar o que é meu, por direito — ele seguia aproximando-se de mim, a passos lentos. Levei as mãos até a faca, escondida sob a minha blusa e a puxei rapidamente, enfiando-a no peito de Arthur, mas ele desviou centímetros e por isso não o atingi o seu coração.

— Desgraçada — berrou ele antes de me pegar pelo pescoço e me jogar na cama. — Eu te matei uma vez, não tenho problema nenhum em te matar novamente — Arthur pressionava o meu pescoço, enquanto o ar ia embora. Eu achei que iria morrer até que ele foi tirado de cima de mim. As vistas estavam embaçadas e eu mal conseguia me manter acordada, mas eu sabia que era ele.

— Se afasta, Arthur — falou seriamente. O ódio presente em cada silaba.

— Olá, irmãozinho. — A voz do modificado era realmente distinta da de Victor. — Já passou da hora de termos essa conversa, não acha?

— Fica longe dela ou eu juro que eu te mato.

— Você não é homem o suficiente, irmão. Não foi para proteger Christine e não é para proteger Alice. Igual da primeira vez, ela será minha.

— Só passando por cima de mim primeiro — eu ouvi Victor rosnar e me desesperei. Eles iriam lutar e eu mal conseguia me manter acordada.

— Será um prazer — fiz um esforço para focalizar os dois e os vi. Arthur tinha os olhos completamente negros e Victor estava com os dele quase brancos. Me olharam, simultaneamente, antes que eu desmaiasse.

Acordei sobressaltada. Aquilo parecia ter sido tão real quanto realmente podia. Não percebi que havia adormecido até acordar desesperada com aquele pesadelo. Sentei na cama e respirei profundamente, antes de me assustar com o homem sentado na cadeira a minha frente.

— Sonho conturbado esse — ele falava manso e suave. Era Victor.

— Não tem o direito de invadir minha mente. Perdeu isso há quatro anos — respondi rispidamente.

— Até quando vai me tratar assim? — perguntou ele e eu respirei fundo. Não respondi, apenas segui até o banheiro e abri o armário acima da pia. Peguei um frasco com aspirina e tomei um comprimido. Fechei meus olhos quando a cabeça pulsou forte. — Alice?

— Foi você? — Ele sabia do que eu estava falando. Ele viu no sonho.

— Não — respondeu secamente.

— Porque eu confiaria em você? — me virei encarando-o.

— Eu pensei que já tínhamos pulado essa parte.

— Você matou o Nicholas, na minha frente. Você não tem pena quando alguém está no seu caminho. Diga-me então porque você pouparia o Chris? — Victor não me respondeu. — Foi o que eu pensei — deixei o banheiro e me deitei na cama outra vez. — Vá embora.

— Eu vou te provar que não fui eu.

— Isso não muda o fato de ter me abandonado — respondi baixo, quase em um sussurro.

— Alice.

— Eu estou com sono, Victor, e eu tenho que providenciar um enterro amanhã.

— Eu sinto muito — falou ele seriamente. — Eu vou te deixar dormir. Amanhã eu volto.

— Devo acreditar ou é mais uma mentira? — eu estava deitada, encolhida na cama. Prendia um choro que queria sair.

— Eu volto. É uma promessa. — Eu não consegui mais. Deixei que as lágrimas escapassem enquanto Victor deixava o quarto. Eu não queria acreditar que havia sido ele, mas diante de mim estava um vampiro que tinha interesse em se livrar de Christopher. Eu não tinha escolha.

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