Nada Mal Para Um Imortal

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Se disser que consegui me concentrar durante as horas restantes, estaria mentindo. Era complicado parar de pensar que vampiros, a mando de Victor, estavam roubando bolsas de sangue no hospital. O mais intrigante de tudo era que Ethan fez questão que soubesse que estava no local. Caso contrário, não teria se chocado comigo daquela forma. Foi proposital.

— Você está bem, Alice? — perguntou uma das enfermeiras que estava de plantão comigo.

— Sim, estou bem — passei a mão no rosto na tentativa de aliviar aquele estresse. Depois olhei para o relógio. Fim do plantão. — Iria continuar mais algumas horas, para dar suporte a vocês, mas não estou me sentindo bem. Estarei no bipe, caso precisem.

— Ainda ficarei por algumas horas aqui — informou. — Antes que me esqueça... — a ruiva me passou algumas pastas. Eram relatórios médicos que precisava dar o parecer e entregar para o Steve. — Ele disse que precisa do seu parecer para ontem.

— Me diz, o que o Steve não precisa para ontem? — falei sorrindo enquanto apanhava as pastas e as colocando em um dos braços. Puxei a bolsa de cima da mesa e segui na direção da porta. — Já ia me esquecendo! O aniversário das gêmeas será na semana que vem. Leve a Elizabeth e a Anna.

— Não vou poder, Lice. Semana que vem estarei de férias, lembra? Ted comprou as passagens para levar as meninas para a Disney esse ano — respondeu.

— Tenho que levar as minhas pequenas também — disse. — Então fica para a próxima. Boa noite, Sarah.

— Boa noite, Alice.

Tomei um banho corrido, na sala dos residentes, me troquei e me dirigi à saída. Encontrei Steve no corredor, que começou a falar sobre o meu desenvolvimento no hospital e sobre meu futuro para os próximos cinco anos.

Se ele soubesse o que ocorria na minha vida, naquele momento, talvez nem me desse uma semana a mais. Ethan me disse que Victor não iria gostar de saber sobre ter procurado um caçador. E pensar no que ele poderia fazer a mim e à minha família me deixava em pânico. Para mim, ele ainda era completo desconhecido.

Voltei a minha atenção para Steve por mais alguns minutos, procurando espantar meus pensamentos, e logo nos despedimos. Ele sabia que estava realmente cansada e por isso não se prolongou mais. Segui até meu carro, passei em uma sorveteria e tomei o caminho de casa. Era a noite do sorvete.

Assim que entrei, as gêmeas vieram logo ao meu encontro. Tomaram os dois potes de minha mão e saíram correndo para a cozinha. Eram tão cheias de vida, com um caminho longo pela frente. Imaginei como seria se Laura estivesse ali.

Ela era a bebê mais linda que conheci. Seus olhos eram da cor do mel, iguais ao do pai. O sorriso era o meu, definitivamente. Tão quieta e nunca me deu trabalho, mesmo quando esteve doente. Seus cabelos eram idênticos aos de minha mãe, castanhos. Tinha aprendido a engatinhar uma semana antes de me deixar.

E assim, nove anos se passaram, e ainda lembrava de cada momento de sua vida. Ah, como me lembrava!

Só conseguia dormir se estivesse próximo a mim. Como amava sentir meu cheiro e calor, embora, tenha deixado de mamar com quatro meses. Desenvolvemos um vínculo forte demais e a sua morte foi a pior experiência que passei em minha vida.

Como disse a Victor: pais não deveriam enterrar seus filhos. É uma dor forte demais e nunca nos abandona.

Fingi um sorriso quando minhas irmãs voltaram comendo o sorvete e sentaram-se no sofá para assistir a um filme que minha mãe colocou no DVD.

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